Ninguém gosta de cair, pois geralmente machuca. Só que a gravidade dos machucados, às vezes, definem as trajetórias de qualquer um.
Olhar para trás parece ser um exercício cada vez mais necessário no mundo artístico, principalmente depois da pandemia de covid-19 e das rápidas mudanças de comportamento e negócios no mundo da música.
Olhando para trás, a guitarrista brasileira Prika Amaral pode sorrir e verificar que as quedas forjaram o seu futuro, que se transformou e um trabalho maravilhoso como "Jailbreak", o mais recente de sua banda, a Nervosa, criada em 2010 em São Paulo e hoje baseada na Grécia.
"Não poderia estar mais feliz com as músicas que gravei e com a nova fase.", disse a musicista em rápida conversa com este jornalista em uma recente celebração da banda Torture Squad em São Bernardo do Campo (ABC paulista). "Há uma caminho instigante a ser percorrido e estou curtindo o momento."
"Jailbreak" é um álbum memorável. Violento, ríspido, mas com guitarras lancinantes e pesadíssimas, capazes de cortar aço com a potência com que foram despejadas em uma produção que as ressaltou. é um veículo de destruição em massa e marcante por contar com um instrumental poucas vezes tão impactante. É um dos melhores álbuns de metal extremo gravados nos últimos anos.
Com um trio formado só por mulheres, a Nervosa chamou a atenção desde o começo no Brasil por conta da qualidade de seu heavy metal trabalhado, cheio de influências e vigoroso.
Mesmo com a rotatividade de bateristas, a dupla Prika Amaral (guitarra) e Fernanda Lira (baixo e vocais) oferecia um olhar diferente e demolidor de som extremo, com temas que iam além da destruição generalizada preconizada pelas bandas do gênero.
Foram mais de dez anos em ascensão contínua, que deu visibilidade internacional ao trio, que se estabilizou com a baterista gaúcha Luana Dametto.
No entanto, a pandemia exacerbou as diferenças pessoais e musicais entre as integrantes, sendo que pesou muito a questão do direcionamento musical: ficar no thrash metal ou enveredar para o death metal mais podre e cru?
Fernanda e Luana anunciaram que estavam saindo em medos de 2020 para criar outra potência feminina brasileira, o quarteto Crypta, mas orientado para death meta com dois álbuns nas costas.
Em dois meses, com a ajuda da gravadora, Prika reformou a Nervosa, que virou um quarteto internacional - Diva Satânica nos vocais (Espanha), Eleni Nota na bateria (Grécia) e Mia Wallace no baixo (Itália). Não demorou muito e "Perpetual Chaos" foi lançado em dezembro de 2020.
O álbum era muito bom e prenunciava os bons ventos que viriam, mas a agenda pesada de shows a inexperiência das novas integrantes e o lançamento meio precipitado do quarto álbum cobraram o seu preço. Eleni e Mia, com problemas de saúde e familiares, não puderam seguir em frente, e Diva, insatisfeita com a administração centralizadora de Prika, optou por sair.
Escaldada e com mais tempo para analisar e refletir, fez nova reformulação com musicistas mis acostumadas com a dureza do mercado do metal e com o trabalho mais intenso.
O entrosamento foi rápido e Helena Kotina (guitarra), Hel Pyre (baixo), duas musicistas gregas, e Michaela Naydenova (bateria), da Bulgária, deram vida a "Jailbreak", agora com Prika assumindo também os vocais. "A identidade da banda, a partir de agora, nunca mais vai mudar neste quesito", declarou ela ao canal de YuTube brasileiro Heavy Talk.
Foi uma decisão tomada no final de 2022, quando Diva já tinha saído e as gravações do novo disco estavam a odo vapor. Com o auxílio de Mayara Puertas, vocalista do Torture Squad, Prika aprendeu rápido e mostrou uma evolução impressionante.
Pela inexperiência cantando, a líder d Nervosa mostrou pouca versatilidade e um vocal ainda hesitante em alguns momentos - nada mais natural diante de tão pouco tempo. Como o álbum é excelente, essa passou a ser uma questão menor nas análises de "Jailbreak".
Os trabalhos de guitarra são brilhantes, pesados e com timbres gordos, gigantes, que preenchem todos os ambientes, além de solos precisos e cortantes. A abertura com "Endless Ambition", ´uma pancada na cabeça, remetendo aos melhores momentos de Exodus e Death Angel, por mais que, no geral, o som seja mais europeu, digamos assim.
"Suffocare" e "Ungrateful" vêm logo em seguida e não dá espaço para respiro. São toneladas e tonelada s de riffs violentos e insanos que estremecem tudo. É muita agressividade, como se Prika precisasse despejar todo os demônios de uma só vez.
Se fosse necessário destacar uma só paulada, seria "Elements of Sin", uma aula de thrash metal que incorpora diversos elementos do extremo do espectro musical, mesclando influências brasileiras, americanas e escandinavas. É a melhor canção entre as 13 de "Jailbreak", que não tem uma música "boazinha". São todas ótimas.
Mas a parte mais violenta mesmo é a trinca "Jailbreak", Sacrifice" e Behind the Wall", as três com suas tempestades de riffs e uma "parede sonora" impactante.
"Jailbreak" é um álbum muito bem produzido, gravado e mixado, beirando a perfeição em termos de agressividade e violência. O entrosamento entre Prika e Helena é repsonsável, em grande parte, pela alta qualidade de um trabalho visceral e estupendo.
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