domingo, 15 de outubro de 2023

Where's My Bible saboreiam vítória em concurso com intensa miniturnê pelo Brasil

 Heavy metal como produto de exportação e expressão cultural de um país. Não é de hoje que a Finlãndia capitaliza o peso do rock em prol da afirmação nacional e da mais pura forma de se apresentar ao mundo. E a América Latina foi escolhida como o "laboratório" para a institucionalização do metal como legítima característica da sociedade finlandesa.

O projeto "Come to Latin America" surgiu em 2021 com o apoio do Ministério da Educação e Cultura finlandês como forma de valorização artística do rock finlandês e de expandir a cultura local dentro o espírito de "povo mais feliz do mundo", de acordo com pesquisas realizadas na Europa nos últimos dez anos.

A paixão pelo rock pesado fez da América Latina a escolha óbvia para iniciar o projeto, que incluiu uma competição de bandas pelo prêmio de gravar clipes e um álbum, além de uma turnê pelo subcontinente. 

Três bandas ficaram para a final e se submeteram a uma votação de amantes do metal da América Latina, que escolheram o Where's My Bible em 2022, uma banda que mistura new metal, metal extrema e thrash metal - acaba de lançar o songle "Fenrir", que estará no próximo diasco da banda. 

"Não tenho palavras para expressar a minha satisfação com essa turnê por essa parte do mundo", disse ao Combate Rock o vocalista dp Where's My Bible, Jussi "Jesus" Matilanen, durante a comemoração do final do evento, em São Paulo.

A banda passou cerca de duas semanas entre Brasil, Argentina, Chile e Peru divulgando a sua música e fazendo alguns shows na América Latina, encerrando um curto giro que deverá ser repetindo em 2024.

"O principal aspecto cultural que pudemos comprovar foi como as pessoas aqui reagem à música e como se conectam com ela. É tudo muito intenso e insano. Foi bem diferente da Finlândia, onde as pessoas não agitam, ficam paradas", ressaltou o baterista Teppo Ristola.

Ele e Matilainen fizeram questão de comemorar a conexão que tiveram com as bandas brasileiras com que dividiram os palcos no Brasil, em um verdadeiro espírito de colaboração e união - também estiveram na turnê Ratos de Porão, Paradise in Flames e Krisiun. 

Em evento no Consulado da Finlândia de São Paulo, no dia 13 de outubro, a banda e o cônsul, Kari Puurunen comemoraram o sucesso da turnê e do projeto, que teve ótima audiência em todas as plataformas digitais.

Foram quatro shows no Brasil entre 8 e 12 de outubro nas cidades de São José dos Campos (SP), São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas (SP), em que a temperatura subiu diante de um som poderoso e muito pesado. "A experiência que tivemos por aqui foi fascinante. O público é diferente, caloroso e insano, como sempre dizem todos os que tocam no Brasil. É claro que vamos voltar", animou-se o vocalista.

Puurunen, o cônsul, fã de metal (principalmente dos finlandeses do Nightwish), celebrava o sucesso e a forma de divulgar o país. Sempre acostumado a tratar de negócios no pequeno auditório do consulado, não cabia em si ao falar para uma plateia diferente de jornalistas - ele mesmo um jornalista de economia no passado, ex-correspondente de jornais europeus na América Latina.

"É um prazer recepcionar artistas jovens e promissores no Brasil, ainda mais do rock pesado, que reprsenta um segmento forte da cultua e da eocnomia do meu país. Foi um período bacana nos último dias, com Where's My Bible, Tarja Turunen e Marko Hietala [ambos ex-Nightwish] tocando em São Paulo. O projeto Come to Latin America é um sucesso", comentou o executivo, que voltou ao Brasil em janeiro.

Ele ressalta a diversidade e a qualidade das bandas de rock finlandesas como uma parte indissociável da cultura de seu país, expandindo possiblidades e criando pontes para aproximação entre culturas aparenetemente tão distintas. 

"Meu país tem a maior proporção de banda de rock e metal do mundo em relação ao tamanho da população e isso gera uma demanda grande por informação e interesse", afirma Puurunen. "A integração com a América Latina é um caminho sem volta e fundamental para mostrar como é possível unir os povos por meio da música.

A ligação entre os dois países por meio do rock vai além das frequentes visitas das bandas finlandesas ao Brasil. Um dos documentários mais celebrados sobre heavy metal lançados no mercado mundial nos últimos anos, "Heavy Metal Civilization", é uma produção finlandesa dirigido por duas jornalistas brasileiras que vivem naquele país - Cristina Ornellas e Maila-Kaarina Rantanen. 

É um filme muito interessante que disseca os motivos pelos quais o metal se tornou a "música nacional de um país nórdico" e uma expressão nacional. 

Maila-Kaarina nasceu em Penedo (RJ), mas cresceu no Rio de Janeiro, onde se apaixonou pelo heavy metal. Filha de pai finlandês, há 15 anos mora no país europeu e é umas das divulgadoras do Come to Latin America trabalhando para o Ministério da Educação e Cultura de lá.

A importância do metal entre os finlandeses é tão grande que se tornou tema de estudos acadêmicos, além de um importante segmento econômico dentro da cultura finlandesa. E, ainda por cima, motivo de estímulo para que jovens mergulhassem em intercâmbios.

"Escolhi o Brasil para meu ntercâmbio quando era adolescente por causa do Sepultura", diz Marjo Ahvenainen, a consulesa-adjunta, em português fluente. "Tinha 15 anos e nem pensei duas vezes sobre onde fazer o intercâmbio. Poderia ter ido para o Canadá, mas não seria tão impactante, rico e determinante para mim quanto o Brasil, um país fascinante e totalmente diferente. E ainda tinha o Sepultura."

De volta ao Brasil desde janeiro de 2023 - chegou com Puurunen, o cônsul-geral -, mostra-se atualizada em relação ao metal brasileiro e antenada com o contexto social brasileiro. "Faz tempo que não vou à Galeria do Rock. Como está a segurança no centro? O que os governos têm feito para reduzir os problemas da Cracolândia?"

Teppo Ristola também mencionou o seu amor por Sepultura desde a adolescência, evidenciando a conexão com o Brasil, e apontou a banda como um dos motivos pelos quais ele decidiu ser músico de metal. "Ganhei uma coletânea do Sepultura quando era garoto, além de um CD do Metallica. Defitivamente, eu queria ser como os brasileiros."

Com mais desenvoltura no recinto circulava o cantor Jules Naveri, finlandês radicado no Rio de Janeiro há quae 20 anos. Casado com uma brasileira, é constantemente requisitado para auxiliar os artistas finlandeses em passagem pelo Brasil, enquanto arruma tempo para se dedicar aos seus projetos musiciais, entre eles a banda Profane Omen. É praticamente um embaixador do Come to Latin America no Brasil.

"É um orgulho participar dessa iniciativa, comprovando o que sei há muito tempo: a paixão desta parte do mundo pelo rock pesado. De alguma forma, é maravilhoso representar a cultura do meu país em um projeto tão importante", diz o músico, que também se expressa em um português perfeito.

Os cinco integrates do Where's My Bible, na vésera de embarcar de volta à Europa, estavam cansados, mas extasiados com a experiência de tocar no Brasil. Não são exatamente novatos, mas ainda estão no começo da ascensão dentro do panorama europeu. 

"Vencer o Come to Latin America é um marco na nossa carreira e tenho certeza que mudou, de certa forma, o nosso patamar", disse o vocalista Jussi Maitilainen. "É um reconhecimento do nosso bom trabalho, mas aumenta a nossa responsabiçidade em relação ao nosso próximo disco."

O trabalho está em processo de composição e gravação, com músicas tendendo a ser mais extremas e abordado os temas que predominam nas canções do grupo - a mitologia nórdica e o folclore finlandês. 

O disco segue a linha lírica de músicas anteriores da banda, usando histórias da mitologia nórdica como inspiração. "Usamos essas histórias como uma metáfora para a mente humana e para a escuridão que cresce dentro de cada um se não fizermos nada a respeito", explica Maitilainen. "Já contamos como certa a nossa volta à América Latina em breve."

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