sexta-feira, 30 de outubro de 2020

As buscas por músicas da Legião Urbana e os riscos à liberdade de expressão

 Marcelo Moreira

Renato Russo (FOTO: REPRODUÇÃO DA CAPA DO DISCO 'AS QUATRO ESTAÇÕES') 


Tudo o que envolve aspectos administrativos do espólio da Legião Urbana tem confusão. Muita coisa não cheira bem e esconde interesses que muitas vezes todas as partes mantêm no subsolo.

A receite Operação Será, no Rio de Janeiro, que a Polícia Civil empreendeu em busca de provas de haveria uma série de músicas inéditas gravadas em poder de produtores musicais, fede demais e traz uma grande preocupação em relação à liberdade de expressão. 

Policiais invadindo estúdios e produtoras em busca de obras de arte? Qualquer semelhança com governos fascistas não são mera coincidência, especialmente com o de Brasília.

O precedente é perigoso, e enseja muitos questionamentos a respeito de motivações e procedimentos de policiais despreparados e de inspiração fascista, assim como são várias as contestações a ordens judiciais deste tipo.

Sem entrar na questão do mérito das investigações e das "suspeitas", o fato é que as próprias entrevistas do delegado que comandou a operação colocam em dúvida as razões e os "indícios" para vasculhar escritórios de artistas produtores musicais e culturais.

A Operação Será começou há um ano por conta de uma denúncia do empresário Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo, que cuida da herança financeira e artística do pai, morto em 1996.

Ele acredita que existam fonogramas e gravações em posse de várias pessoas e que, na verdade, deveriam estar em, poder do espólio do cantor. Por isso é que os escritórios do advogado e pesquisador Marcelo Froes foram revistados e vasculhados.

As pistas e indícios apontados por Manfredini são muito frágeis, até porque Froes foi responsável por compilar e produzir discos póstumos de Renato Russo. Ainda assim, demonstrando prestígio e influência, conseguiu ordem judicial para a polícia investigar e recolher material em produtoras.

Controverso e polêmico, o filho de Renato Russo conseguiu inacreditavelmente que a Justiça lhe desse ganho de causa nos enfrentamentos jurídicos com ex-integrantes da Legião Urbana, que estão proibidos (?????) de usar o nome da banda ou de tocar e usar as músicas em qualquer projeto.

De forma comedida, Froes tenta esclarecer a questão: "Muita gente confunde música inédita, aquela nova que nunca foi lançada, e gravação inédita, que é de músicas que já existem e lançadas, mas com alguma modificação ou mixagem diferente".

Seja como for, não é de hoje que Manfredini sofre críticas pesadas na condução dos negócios póstumos da banda e do pai. No intuito de ser um guardião ferrenho do legado da Legião Urbana, acaba caindo em extremos que são logo associados à ganância e mesquinhez.

Com isso, atrai a ira de fãs e especialistas, principalmente na questão que impede Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos de participarem ou disporem do espólio e do nome da banda. 

São as páginas mais tristes da história da banda e que, lamentavelmente, levam para a lama, de forma injusta, gente decente como Marcelo Froes e o produtor Carlos Trilha, sem falar que representa, em última instância, uma afronta à liberdade de expressão, com a invasão aparentemente arbitrária, mas com autorização judicial, de propriedade privada de produtores culturais e artitas sem que haja indícios para tanto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário