Marcelo Moreira
Greta Van Fleet (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Mera cópia do Led Zeppelin, só que sem talento, ou a redenção de um rock que está no ostracismo em relação às paradas de sucesso?
Provavelmente as duas coisas. Greta Van Fleet continua dividindo as opiniões com sua música retrô sem originalidade e e mulando descaradamente os vocais de Robert Plant e os timbres de guitarra de Jimmy Page.
O novo single, "My Way, Soon", é mais do mesmo e deixa várias dúvidas. A principal delas é se os garotos conseguirão um dia se livrar da muleta e alçar voos com um som menos derivativo.
A canção recém-lançada parece saída de uma sessão de gravação de "Houses of the Holy", disco do Led Zeppelin de 1973 que procurava novos caminhos mais acessíveis depois de quatro discos excelentes.
Os vocais dos Greta são afetados e forçados. Não há nenhuma vontade de fugir à comparação com a banda que os inspirou, assim como é irritante a busca obsessiva do guitarrista pelo timbre perfeitamente idêntico ao de Page.
Nada contra a opção do quarteto de moleques norte-americanos, mas daí a considerá-los a salvação do rock? Parece um exagero absurdo e dos grandes.
Na comparação com o exultante trio inglês The Brew (também conhecido como The Brew UK por conta de homônimos), o Greta Van Fleet sofre uma grande desvantagem.
Com uma carreira mais longa e consolidada, The Brew exala frescor e gana de fazer som pesado sem ter de escorar em muletas do passado.
Claro que temos ecos de Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Deep Purple e uma infinidade de guitarristas setentistas, mas o caldo resultante é muito diferente e mais instigante,
"The Art of Persuasion", o mais recente ttrabalho, que é de 2018, apresenta o trio mais maduro e autoconfiante, tateando o mundo pop com canções mais acessíveis e menos psicodélicas, endo como carro-chefe a brilhante canção "Seven Days Too Long", um primor de canção pop movida a guitarras, sem exageros e com arranjos concisos.
The Brew (FOTO: DIVULGAÇÃO) |
The Brew parece ser o Greta Van Fleet quer e pretende ser. Entretanto, a falta de originalidade e a extrema "dependência" do som zeppeliniano são fatores que os ancoram no mesmo lugar e podem comprometer o futuro.
Lá nos anos 80, o ótimo Marillion, banda escocesa de rock progressivo, sofreu bastante, não sem razão, com as cansativas comparações com o Genesis da era Peter Gabriel.
A maturidade após o terceiro álbum veio com o encontro de luz própria ao juntar prog e rock mais pesado e menos teatral, transformando o grupo em líder do chamado movimento neoprog britânico daquela época.
Ainda é prematuro cravar que Greta Van Fleet não tem talento e que não passa de mero decalque do Led Zeppelin. Bem ou mal, seu som derivativo chamou a atenção de roqueiros jovens e nem tão jovens assim, dando um suspiro ao rock, hoje um gênero à margem do mercado.
Para atingir as paradas e conseguir a repercussão que teve, o quarteto norte-americano mostrou recursos e algum mérito, por mais que muitos considerem a banda superestimada.
Com um carimbo perigoso na testa, o Greta Van Fleet parte para gravar aquele que será o seu segundo álbum de origem (terceiro de fato, já que os dois primeiros EPs foram reunidos em um único álbum) com uma pressão a mais.
Provavelmente trará um clima muito parecido com o de "My Way, Soon" e continuará a ter de enfrentar as insistentes comparações com o Led Zeppelin e as acusações de copiar a banda inglesa. É um fardo bem pesado, mesmo sendo consequência de uma opção consciente.
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