sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Oportuna e criativa, versão de 'Tainted Love' traz o Sepultura em plena diversificação

 Marcelo Moreira



 Já tinha sido assim no EP "Roorback", de 2003: versões inusitadas de músicas de artistas pop, muito pesadas, mas ainda assim estranhas ao cancioneiro extremo do Sepultura. "Bullet the Blue Sky", do U2, ficou maravilhosa, mais épica, claustrofóbica e dramática do que a original, por exemplo.

 O quarteto brasileiro de heavy metal investe agora novamente em uma versão diferente para um clássico da música pop oitentista. "Tainted Love", da dupla de techno-synth-pop Soft Cell, foi a escolhida, e gravada para integrar a minissérie "Desalma", do Globoplay, um drama de terror.

 Fazer esse tipo de escolha é um campo minado, mesmo em um período em que a banda curte a excelente repercussão do CD "Quadra", lançado em janeiro deste ano. Foi desta forma com "Roorback", que era um empreendimento mais arriscado.

 Como é difícil que o Sepultura erre a mão atualmente, "Tainted Love" surpreende pela presença de elementos eletrônicos e arranjos um pouco diferentes. É uma versão pesada, mas não extrema, o que mostra a banda está frme e forte no caminho da experimentação e diversificação.

 Coim 36 anos de carreira e mudanças variadas na formação, o Sepultura não tem medo de arriscar e atingiu um patamar onde pode se dar ao luxo de fazer isso.  São pouquíssimos os artistas que têm essa possibilidade.

Desde "Kairos", de 2011, o quarteto paulistano mostra que expandir os horizontes é a solução. São álbuns conceituais, de um jeito ou de outro, que elevaram o nível da música e que apontam caminhos diferentes. 

"Tainted Love" não é algo que possa se encaixar em uma denominação de "novos horizontes", por mais interessante que tenha ficado a versão. Não dá nem para dizer se conseguiria entrar como bônus em alguma edição especial de "Quadra".

Entretanto, certamente é um grande indicativo de como a banda esta disposta a experimentar e buscar outras sonoridades sem se preocupar com as amarras do heavy metal tradicional. É sempre bom que o Sepultura sempre nos surpreenda, quase sempre de forma positiva, como tem de ser.

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