domingo, 11 de outubro de 2020

Show com público: será que é o momento de antecipar a volta?

 Marcelo Moreira

Será que está na hora de voltarmos aos shows de rock? Você se sente seguro ao voltar a uma casa de shows em plena pandemia ainda não controlada, mesmo que supostamente todos os cuidados sejam tomados e os protocolos sanitários, seguidos?

O desespero, a impaciência e a intolerância causados pela pandemia de covid-19 podem até certo ponto serem compreendidas, embora não justificadas. Ninguém aguenta mais o isolamento e o confinamento social, mas o que fazer quando o país desgovernado está ás portas do 150 mil mortos, mais do que as vítimas dos bombardeios por bombas atômicas no Japão em 1945?

Indiferentes às críticas, muitos artistas da música estão antecipando decisões e marcando shows com público para este mês e os próximos, alertando que seguem as determinações das autoridades e seguindo orientações de governos estaduais e prefeituras, que estão liberando quase tudo para funcionar desde o mês de agosto. Em breve cinemas e teatros voltarão a operar com o sinal verde de prefeitos e governadores.

Diante o afrouxamento das regras de isolamento social e confinamento, com cada vez mais setores da economia voltando a funcionar, era de se esperar que lentamente a área de entretenimento voltasse às atividades, mesmo que a pandemia permaneça incontrolável e o número de mortes, altíssimo.

Por todo o país, artistas de pagode, sertanejo e funk estão a pleno vapor tocando em casas lotadas. As poucas bandas de rock no Brasil que decidiram pela volta optaram, de forma prudente e inteligente, por seguir todos os protocolos e com públicos parciais.

Não estão fazendo nada de errado diante da lei e das recomendações das autoridades, diante da quase total flexibilização das regras de isolamento social.

Portanto, a questão é mas ética e de bom senso: é o caso de os shows voltarem, ainda que de forma parcial e com pouco público, com uma média diária de mortes por covid que varia de 700 a 800 em outubro?

Em nossa opinião, shows com público presencial, neste momento, são prematuros e perigosos, por mais que não sejam ilegais e que as bandas estejam cumprindo todas as determinações. 

O irlandês Van Morrison, já septuagenário, afrontado a ciência e a medicina, bem como as medidas sanitárias do governo inglês, decidiu fazer uma série de apresentações em uma casa noturna de Londres, "tomando todas as precauções e seguindo todos os protocolos de saúde, com público baixo da capacidade total", diz um comunicado dos promotores.

A iniciativa ganhou o apoio de Eric Clapton, um dos "desesperados" para que os shows voltem. Ele alega que a indústria da música está quebrando e que não é mais possível "ficar em casa vendo o mundo acabar".

No Brasil, bandas de rock abandonaram as ponderações. O Golpe de Estado remarcou uma apresentação acústica, a primeira de sua carreira, para 25 de outubro, no Carioca Club, em São Paulo, que já vem funcionando com casa cheia em shows de samba e pagode.

O Krisiun, hoje a mais importante banda de rock brasileira no exterior, anuncia show para o Carioca Club, em novembro. O trio informa que tomará as medidas recomendadas pelas autoridades sanitárias e que o público será reduzido, com distanciamento social.

No Manifesto Bar, em São Paulo, as bandas paulistas de metal Andralls e Válvera, decidiram fazer lives autorais no local, em  4 de outubro. Um dos panfletos de divulgação informava que haveria cobrança de ingresso e público estimado em 40% da lotação total.

As duas bandas informaram que apenas 20 pessoas estiveram na casa dando suporte para a live autoral, respeitando, assim, protocolos de segurança e as regras sanitárias recomendadas. Esclarecida a confusão, resta elogiar a forma como o evento foi conduzido.

De qualquer forma, a banda Válvera se posicionou em nota enviada ao Combate Rock. "Marcamos a live para lançamento do nosso novo disco, 'Cycle Of Disaster', há cerca de um mês, nada tinha sido falado sobre portas abertas na época", diz o texto. "Somente na última semana, antes do show, o Manifesto Bar nos informou que iriam abrir as portas seguindo todos os protocolos de segurança, assim como inúmeros estabelecimentos tem feito. Tendo em vista todos os gastos que fizemos na preparação para esse show, seria impossível cancelarmos o evento pois não teríamos como suprir os gastos já feitos." 

A nota dá a entender que não sabia que haveria público, em decisão tomada pela casa. "Sobre a pandemia, todos nós fizemos a quarentena, cancelamos tours, shows e sofremos prejuízos severos como vários artistas. Nós não temos outra renda, trabalhamos apenas com música. Mas, nesse momento, nossas famílias já estão trabalhando no comércio, indústria, inclusive pessoas do grupo de risco, todos seguindo os protocolos de segurança e, assim como eles, nós também somos trabalhadores e seguindo os protocolos vamos continuar as nossas vidas."

Sobre o evento, "tudo seguiu conforme as orientações da prefeitura de São Paulo, todos em mesas separadas, usando máscara e mantendo distanciamento. Sabemos que o Covid existe, não somos negligentes, negacionistas, nem irresponsáveis, só estamos indo trabalhar."

Nova onda

Países europeus já enfrentam uma segunda onda de disseminação da covid-19 e começam a tomar novas medidas restritivas de circulação e convício social. Israel e a cidade de Nova York recuaram e estão determinando novo fechamento de escolas, escolas, bares e restaurantes.

Krisiun (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A alegação manca e sem lastro de que tudo está voltando ao normal e reabrindo no Brasil não pode servir de desculpa para gerar aglomeração em momento ainda delicado na pandemia no mundo, algo que beira a irresponsabilidade. 

Não é porque governos municipais e estaduais liberaram de forma prematura a volta da economia, cedendo a pressões políticas, que devemos aumentar ainda mais a exposição ao vírus. 

É bom lembrar que a maior parte do Estado de São Paulo já passou para a fase verde da flexibilização, ou seja, está tudo voltando ao normal, apesar do altíssimo número diário de mortes e de registros de novos casos no país e no Estado.

Autoridades sanitárias e profissionais importantes da área do entretenimento continuam reafirmando que, sem a perspectiva de vacina e controle do contágio, é difícil que tenhamos o pleno retorno das apresentações musicais e teatrais antes de maio de 2021.

E por que, de forma precipitada, artistas variados estão deixando der lado o isolamento social na Inglaterra e no Brasil?

Recentemente, em entrevista ao Combate Rock, a guitarrista e vocalista Renata Petrelli, da banda de thrash metal The Damnnation, diz que a pandemia ainda não acabou e que entende perfeitamente a necessidade de restrições de todos os tipos para barrar o vírus.

"Somos uma banda nova e tivemos todo o nosso planejamento alterado pela pandemia. Estamos nos virando como podemos e temos obtido bons resultados. Tenho plena consciência de que antes de meados de 2021 não haverá o retorno dos shows com público", diz a guitarrista.

Desde o anúncio dos shows do Krisiun, em dezembro, estamos tentando uma posição da banda a respeito dessa decisão de voltar a fazer shows antes do controle total da pandemia. Ainda não obtivemos retorno.

 Nas redes sociais, a banda atualizou o seu recado sobre o evento: "Nesta nova experiência seguiremos o protocolo de distanciamento entre as mesas, uso de máscaras, sanitização dos ambientes, aferição de temperatura e demais procedimentos de segurança estipulados pelos Órgãos/Secretarias responsáveis.
São Paulo, que já está na 'Fase Verde', teve por início a retomada cultural no estado já em junho, e no último dia 24 (setembro), foram assinados pela Prefeitura e Vigilância Sanitária Municipal, protocolos de reabertura dos setores de cultura na cidade. Esta, por vez, inclui o setor de Eventos com lotação até 600 pessoas, e até 2.000 mil com autorização especial da Gestão, com público sentado em regiões estáveis desde a fase amarela."

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