Ricardo Gozzi - do site Roque Reverso
Há quem considere que o Led Zeppelin começou direto pelo quarto álbum, mais ou menos como Guerra nas Estrelas ‘começa’ no Episódio IV. Mas o zepelim de chumbo já dominava os céus em 1970, quando Robert Plant, Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham lançaram Led Zeppelin III, que completa 50 anos nesta segunda-feira, 5 de outubro de 2020.
A crítica já se curvara ao Led Zeppelin antes pelo blues, pelo rock, pelo peso, mas só então seria apresentada com mais profundidade aos vínculos da banda com a música folclórica anglo-saxônica, fundamental para a compreensão de tudo o que viria a seguir.
O terceiro trabalho de estúdio da banda surge como o elo entre todos os elementos que transformariam o Led Zeppelin na maior banda de rock de todos os tempos.
Composto em grande parte na cottage de Bron-Yr-Aur, no País de Gales, “Led Zeppelin III” começa com a mistura de peso e melodia de “Immigrant Song”.
Na sequência, “Friends” coloca o folk no radar enquanto “Celebration Day” e “Since I’ve been Loving You” recolocam a banda em contato com seu fã tradicional antes do encerramento lisérgico do Lado A com “Out on the Tiles”.
Até ali, tudo até se parecia convencional. Então o ouvinte passa para o Lado B e se choca com a sonoridade, com a beleza, com a poesia, com tudo o que sinaliza, com a grandiosidade do que está por vir para o Led e por quem o acompanha.
Será o mesmo disco da mesma banda?
Talvez ainda não estivesse claro, mas o Led Zeppelin curtia acelerar na contramão.
Enquanto a saturação das válvulas, a multiplicação das pistas das mesas de som e os overdrives faziam a cabeça de 11 entre 10 bandas mainstream, o Led Zeppelin foi na caixa de força e jogou fora os fusíveis para gravar o Lado B de seu terceiro trabalho em estúdio.
Ele começa com a dinâmica crescente de “Gallows Pole”, segue com a doçura nostálgica de “Tangerine”, a vontade de sentar na varanda e olhar o horizonte em “That’s the Way”, a demonstração de que é possível tocar pesado sem nenhum instrumento plugado em “Bron-Y-Aur Stomp” (que por muitos anos em minha cabeça parecia pertencer a outro disco) e “Hats off to (Roy) Harper”.
Talvez o álbum tenha ficado um pouco escanteado pelo momento trágico atravessado pelo mundo do rock em 1970.
Duas semanas antes do lançamento de Led Zeppelin III, Jimi Hendrix foi encontrado morto. No momento em que o disco chegava às lojas, Janis Joplin se foi.
Pouca gente queria falar das experimentações do Led Zeppelin. Talvez até por isso muitos tenham se surpreendido com tudo o que viria depois.
Meio século depois de seu lançamento, podemos declarar o terceiro álbum do quarteto britânico como a antessala da apoteose zepeliana.
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