terça-feira, 4 de julho de 2023

Clemente dá a receita: punk 2023 com alguma ternura e a mesma fúria de sempre

 Nem era necessário, mas ainda assim a dupla quis testar a força do repertório no formato acústico. Punk rock desplugado, desprovido da eletricidade vital para explodir as cabeças insanas e humanas?

O resultado empolgante obtido em um cubículo comprovou aquilo que sabiam: a sequência de hits e a força da interpretação incendiariam os violões e a percussão marcante e marcial faria o resto. Sim, as músicas dos Inocentes funcionavam no formato acústico.

"É um terreno novo, mas altamente promissor, Queremos gravar em breve, ainda neste semestre", disse ao Combate Rock, com exclusividade, Clemente Nascimento, o vocalista e guitarrista dos Inocentes, nome forte do punk nacional, e que há 20 anos também toca na Plebe Rede. 

Dias antes, numa tarde de sexta-feira quente de inverno, ele e o companheiro de Inocentes Ronaldo Passos encararam 100 pessoas ávidas por conhecer as canções acústicas da banda e também da Plebe Rude em um "pocket show" na loja de discos London Calling, na Galeria do Rock.

Aos 42 nos de carreira, os Inocentes conseguiram sair da pandemia de covid-19 mais fortes. As duas músicas mais recentes, lançadas como singles a partir do final do ano passado, tiveram boa acolhida e turbinaram a série de apresentações concorridas em 2023.

"Queima!", uma canção de protesto de cunho ecológico, evoca os momentos marcantes dos anos 80, onde a fúria punk transformou a banda em referência. Já "Eu Vou Ouvir Ramones", cantada por Ronaldo Passos, é um punk rock comportamental bem-humorado e inteligente, que resgata o espírito moleque, em altíssimo astral.

O projeto da gravação acústica, que deve ser gravado em vídeo para futura divulgação talvez em DVD, faz parte da dinâmica que a banda encontrou para manter a atividade, atiçando a curiosidade dos fãs. É uma ideia original e corajosa - provavelmente, é a primeira banda punk brasileira de primeiro escalão a optar pelo som desplugado.

Enquanto o projeto está sendo estruturado, os Inocentes tocam dia 16 de julho no "Penha Rock", na zona leste de São Paulo, com entrada gratuita. "O bom de ser uma banda 'vintage' ´que temos um 'cardápio' de valor para oferecer e as pessoas continuam querendo ouvir as nossas músicas. Sinal de que alguma coisa boa a gente fez (risos)."

O bom humor do músico revela um importante traço de modéstia, mas não esconde a verdade contida na afirmação: os Inocentes fizeram muita coisa boa, tanto que continuam bastante requisitados neste mundo pós-pandemia que tenta se reorganizar.

As novas músicas fazem parte do "cardápio" atual, mas Clemente não se ilude com as possibilidades e perspectivas de mercado além da gravar um trabalho acústico em vídeo e em áudio. 

Como longevo apresentador do programa online "Estúdio Showlivre", sabe melhor do que ninguém as realidades de mercado ao receber bandas de too so subgêneros de rock para apresentações ao vivo. O mercado está altamente pulverizado, e a concorrência por patrocínios e suporte das poucas gravadoras que sobreviveram é altamente predatória.

"É maravilhoso ver um show como o dos Titãs no Allianz Parque, uma superprodução, mas essa não é a realidade da música brasileira, muito menos do rock", analisa o guitarrista. "Seria maravilhoso haver estrutura ao menos razoável para shows de bandas grandes e médias e até para festivais, mas o cenário é bem diferente. O público é outro neste século."

Meio resignado, mas sereno, não crucifica as condições de mercado adversas e nem aponta culpados. Clemente procura olhar para a frente com com os dois pés no chão de 2023. O mercado pede singles? Então aí estão "Queima!" e "Eu Vou Ouvir Ramones". Mas isso satisfaz os anseios artísticos?

"Não paro para pensar isso. Também não quero dizer que isso é irrelevante, mas o fato é que as pessoas ouvem música hoje de forma diferente. Têm outro tipo de comprometimento, dão outro tipo de valor ao que ouvem e ao que consomem, quando 'consomem' de verdade. É uma realidade que os artistas, aparentemente não podem e não conseguem mudar. Eu tenho privilégio de ter um catálogo robusto com os Inocentes e a Plebe Rude para levar adiante a minha arte. A maioria das bandas novas, infelizmente, vai enfrentar muito mais obstáculos do que no passado para ganhar algum destaque", conclui Clemente.

Inocentes
Dia 16 de julho 
20 horas
Classificação: 12 anos
Duração: 60 minutos
Grátis
Retirar ingressos na bilheteria uma hora antes
Largo do Rosário, 20 - A dez minutos da Estação Penha do Metrô – Linha 3 Vermelha
@ccpenha
facebook.com/centroculturalpenha

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