terça-feira, 18 de julho de 2023

O mundo tropical mal-assombrado e os esqueletos que se recusam a morrer

 - Um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) agredido em um aeroporto europeu;

- Um delegado da Polícia Civil investigado e afastado por amaçar professor que repreendeu o filho do agressor que fazia apologia do nazismo na escolha; 

- Uma cantora de rock massacrada e ameaçada as redes sociais por defender o empoderamento feminino , protestar contra o machismo e violência contra a mulher;

- A falta de pudor de um dejeto humano que ousou fazer a saudação nazista em frente ao palco onde o cantor negro da banda se apresentava - e foi devidamente massacrado por isso.  

- Um intelectual é "cancelado" porque postou uma foto sua, lendo, na própria e fulgurante biblioteca, acusado de "ostentação" e "intelectualismo".

- Um filme argentino que aborda um julgamento de militares ditadores em 1985, ms que é mais atual do que nunca.

Na busca por ares mais respiráveis depois de quatro anos de trevas e retrocessos, os brasileiros descobriram que ainda têm um longo passado pela frente, como bem prenunciou o grande Millôr Fernandes.

E esse passado está nos assombrando desde que a sede da Polícia Federal, em Brasília, foi atacada por lixos humanos extremistas que queriam libertar um ser acusado de crimes graves. 

Era quase véspera de Natal, e quase ninguém deu muita importância até que chegasse o 8 de janeiro sob o governo Luiz Inácio Lula da Silva, quando o Brasil viveu o seu maior ataque terrorista por proporcionado por lixos bolsonaros na maior ameaça à democracia dos último 40 aos.

Os fantasmas do fascismo continuam nos assombramos e não nos deixando esquecer que ainda corremos perigo, como Alexandre de Moraes, ministro do STF, sentiu na pele ao ser agredido e xingado no aeroporto de Roma por seres execráveis que moram no interior de São Paulo - brancos, empresários e políticos de extrema-direita. Luís Barroso, outro ministro da suprema corte, já tinha sido hostilizado em Nova York.

Curiosamente, coube a um recente filme argentino, o excelente "Argentina, 1985", dirigido por Santigo Mitre e estrelado por Ricardo Darín, explicitar o que ocorre no Brasil de hoje.

A fita mostra o doloroso e corajoso processo de indiciamento e julgamento dos militares que conduziram os sete anos de uma ditadura genocida que matou mais de 30 mil pessoas, 

O promotor-chefe que fez a acusação e sua equipe sofreram todo o tipo de amaça e intimidação no período, em plena democracia capitaneada pelo presidente Raúl Alfonsín. A ditadura caíra, mas os esqueletos se recusavam a morrer e ser enterrados. 

Vivemos um processo parecido no Brasil depois que nos livramos do nefasto bolsonarismo. O ódio e o preconceito estão ainda mais fortes, como lembretes diários de que teremos de combatê-los perpetuamente, como se o fascismo estivesse indelevelmente enraizado em nossas sociedades,

E tome doses diárias de depredação institucional e crimes diversos, que incluem assassinatos, agressões, atentados e todo o tipo de calúnia, injúria e difamação.

E assim temos a cantora de rock vilipendiada e achincalhada nas redes antissociais por defender as mulheres vítimas de violência doméstica, feminicídio e ataques por serem feministas.

E então temos um dejeto humano que se acha no direito de fazer uma saudação nazista e fazer ataques racistas contra Derrick Green, o cantor negro do Sepultura, em um sho em Fortaleza na semana retrasada - sendo massacrado, literalmente, por conta disso.

E então ainda temos as manifestações racistas públicas em São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná, onde brancos se recusam a aceitar negros em seus condomínios ou nas padarias e lanchonetes que frequentam. os relatos desse tipo de coisa asquerosa são quase diários.

E o que dizer do delegado da Polícia Civil que ameaçou de morte e prisão um professor universitário que "ousou" repreender o filho do mencionado por conta de uma "defesa apaixonada do nazismo"? Foi na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), em Guaíra.

A fraca reação a estes frequentes ataques à civilização reforçam o sentimento de impunidade que permite a toda a sorte de vagabundos a achar que podem agredir e autoridades mesmo no exterior. Que podem empestear o mundo com seu racismo e seus preconceitos sem que possam ser admoestados.

Todos os fatos estão interligados e fazem parte do mesmo contexto. O ódio ao conhecimento, à arte e à educação estão grudados em cada alicerce de uma sociedade que se acostumou a tolerar extremismos e menosprezar o seu poder destrutivo e de contaminação. 

Diante disso, aparece o dilema: como combater e exterminar essa praga sem ao menos resvalar nas mesmas práticas condenáveis e antidemocráticas tão amadas pelos fascistas em sua luta constante contra a civilização e a democracia.

Se a reação foi imediata diante do nazista cara de pau em Fortaleza, no show do Sepultura, ainda é branda a reação ao racismo cotidiano que presenciamos em todos os ambientes. 

Como é possível ficar impassível diante de uma mulher branca imitar macaco e xingar negros em um restaurante em São Paulo? 

Por que esse tipo de gente ainda sai com a integridade física garantida para, na Justiça, alegar que é doente, faz uso de medicamentos pesados e que não pode responder por seus atos?

Em um evento da UNE (União Nacional dos Estudantes), o ministro Luís Barroso errou ao se manifestar politicamente. 

Seu erro não foi atacar o bolsonarismo, que tanto minou a democracia e atentou contra a autoridade e integridade física dos ministros do STF. Seu erro foi cantar vitória sobre os fascistas, já que, obviamente, o fascismo bolsonarista não foi vencido.

E enquanto permitimos que a banda Black Pantera seja criticada por "incentivar a violência" na música "Fogo nos Racistas", normalizamos todo o tipo de comportamento preconceituoso e racista. Não haverá paz enquanto não aniquilarmos o fascismo e o extremismo de direita.

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