sexta-feira, 21 de julho de 2023

Greta Van Fleet faz mais do mesmo em 'Starcatcher', que soa forte e agradável

 Não é tão fácil se livrar de cacoetes musicais ainda amis quando eles são a razão de ser, digamos assim, do sucesso de determinados artistas. "Starcatcher", o terceiro disco de Greta Van Fleet, é bom e mais pesado do que o anterior, mas transpira Led Zeppelin nos mínimos detalhes e em todas as notas. Até quando?

O recém-lançado álbum é marcado pelo esmero e pelos detalhes de produção que o tornam um grande trabalho. É o melhor da discografia até agora, em que todo mundo evoluiu de meninos interioranos fanáticos por Led Zeppelin a músicos tarimbados e habilidosos compositores.

As influências setentistas, como já dissemos em textos anteriores, são boas e más. Por um lado, são o alicerce de boa música, algo que é inegável que o Greta faz; por outro, é lastreado demais no som zeppelininano, principalmente vocais e guitarra.

Josh Kiszka, o vocalista, evoluiu demais, agora é um verdadeiro intérprete sem a necessidade guitar o tempo todo, mas não consegue fugir do total decalque de Robert Plant, o icônico vocalista do Led. Todos os maneirismos do veterano artista aparecem no modo de cantar do líder do Greta. Claro que isso é intencional, mas até que ponto isso freia a originalidade da banda?

As guitarras de Jake Kiszka estão mais trabalhadas e inventivas, com fraseados que empurram a banda, como em "Fate of the Faithful", que abre "Starcatcher", onde o irmão gêmeo Josh dá um show de feeling. 

No entanto, em "The Falling Sky", a coisa desanda um pouco por conta da excessiva "cópia" dos timbres da gaita processada e dos solos de guitarra. Até os violões de "Waited All Your Life" parecem decalques de "Led Zeppelin III".

E o começo de "Sacred the Thread"? O quarteto vai dizer que foi intencional a homenagem a "When the Levee Break", do "Led Zeppelin IV", mas isso me parece um grande exagero, assim coo a estrutura da música, que é alicerçada na canção citada.

Se no disco anterior, "The battle of the Garden's Gate", a banda parecia estar se afastando, ainda que lentamente, da influência dos ídolos, em "Starcatcher" eles tornam a beber na fonte até quase o afogamento. Perderam os pudores e as preocupações de serem acusados de copiar a banda de Jimmy Page e Robert Plant. Se isso lhes tira um peso das costas, será fonte de eterna de aborrecimento.

Sem os citar diretamente, os integrantes da banda norte-irlandesa The Answer se perguntaram porque o Greta Van Fleet explodiu e eles, não. 

Com notórias influências de Led Zeppelin, o quarteto surgiu dez anos antes e causou furor com seu som pesado e despojado, mas com certa originalidade, fugindo do padrão d excessos de Def Leppard e The Darkness. 

O som ganhou personalidade, afastando-se do hard rock setentista, e essa busca de originalidade causou certo estranhamento, afastando parte do público. Fica claro, com a existência do Greta, que o público "moderno" de hard rock queria uma novo Led, e em todos os sentidos.

Até o blues dos garotos norte-americanos recende a Zeppelin, como na interessante "Frozen Light", com guitarras bem trabalhadas e uma letra mais intimista e densa.

Esse é outro ponto em que o Greta Van Fleet avançou. Os temas estão mais soturnos e sérios, digamos assim, como aconteceu no disco anterior. São mais reflexivos e um pouco pesados, o que eleva Josh Kiszka como letrista a outro patamar. A revelação de que o vocalista mantém há anos uma relação homoafetiva explica, em parte,  direcionamento temático.

"Starcatcher" é um disco muito bom, feito para quem gosta de rock direto, bem feito e, ao mesmo tempo, nostálgico, como fica claro no final, com "The Archer" e "Meeting the Master". O espectro do Led Zeppelin não cancela os méritos do disco e da banda, por mais que decepcione quem espera um pouco mais de originalidade.

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