Para quem resolveu dobrar a aposta - "não me vejo cantando 'Satisfaction' aos 40 anos de idade", declarou certa vez -, até que os resultados foram muito além do satisfatório. Mick Jagger chega aos 80 anos inteiro e atlético, dando aula de vitalidade nos palcos e encarando turnês mundiais desde sempre.
A voz já não é a mesma? Ainda bem, sinal de que é humano. mas aguenta, e bem, cantar por quase três horas noite após noite há 61 anos, lotando estádios e parando cidades. Um show dos Rolling Stones é mais do que um evento, é uma grande celebração da vida e da arte.
Jagger sempre soube disso, mas também sabia muito mais de economia e show business. Sob a sua tutela, com o auxílio luxuoso de profissionais inteligentes, ousados e criativos, transformou o nome de sua banda em uma marca à prova do tempo, de corrosão e de destruição. Os Stones são tão conhecidos e importantes, como marca, quando a Coca-Cola, a Apple e Pelé. É um dos sinônimos de rock and roll, em todos os sentidos.
|Ainda cursava economia em Londres quando começou a se destacar na cena blueseira da cidade. À frete dos Rolling Stones, nome que detestava, estava submetido à liderança do instável guitarrista Brian Jones, o fundador da banda e que cedia o imóvel onde ele, Jagger e o outro guitarrista, Keith Richards, se amontoavam por volta de 1962.
Ainda faltavam liderança e carisma naquela noite de 12 de junho de 1962, no Marquee Club, quando a banda estreou, mas bastaram dois anos para que assumisse o comando da nau. Descobriu-se, na amarra, um compositor prolífico e habilidoso, assim como um tenaz homem de neóícios. Percebeu muito cedo o valor das coisas a importância do rock e de sua banda.
Em público, nunca encampou a comparação comumente feita pela imprensa inglesa entr4e Beatles e Stones - "a primeira era gerenciada como uma família; a segunda. como uma empresa, o que explicaria a sua longevidade". No entanto, ele perfeitamente poderia personificar esse pensamento.
Sem os Beatles como concorrentes, a partir de 1970, Jagger e os Stones decolaram fora dos palcos. Tornaram-se uma máquina de fazer dinheiro - e vítimas, mas faz parte no mundo dos negócios, não é?
Quando a banda ficou grande demais para o sonhador e ousado Andre Loo-Oldham, o empresário visionário que ajudou aa criar um visual polêmico e agressivo para o grupo, Jagger não hesitou em agradecer para outros rumos.
Se errou de cara ao substituí-lo pelo norte-americano ganancioso Allen Klein, acertou ao perceber rapidamente o erro e afastar o norte-americano do comando administrativo.
Teve mais cuidado ao analisar as opções e aceitar a ajuda do amigo Príncipe Rupert Lowenstein, administrador competente com ótimos conhecimentos de contabilidade.
Os dois transformaram os Stones em uma empresa sólida, valiosa e inovadora no mundo do entretenimento. Jagger se tornou referência em Wall Street e na City londrina, o centro financeiro da Inglaterra.
É ficar no óbvio ao dizer que Mick Jagger é "símbolo de resistência e resiliência dentro do rock", seja pela longevidade, seja pelo talento. Ele é muito mais do que isso.
Mestre do ilusionismo e da dissimulação, encarnou o diabo da juventude para expandir a fama e a marca para depois curtir a vida de "dandi" e celebridade mundial com direito a título de "Sir" - cavaleiro do Império Britânico -, algo repudiado e motivo de chacota do companheiro Richards.
O "sistema" tentou destruir Jagger e os Stones com perseguição moral e policial nos anos 60, provocado a sua prisão por alguns dias em 1967 por porte de drogas?
O cantor deu a volta por cima tornando-se parte invejável do sistema, manipulando-o e tornando uma máquina servil a seu favor. Richards nunca entendeu - ou não quis entender - a ironia da história e o ardil montado pelo companheiro. Sempre achou que a aura rebelde era o que matinha os Stones vivos e relevantes. Para a sua sorte - e de sua conta bancária - Jagger pensava e pensa bom diferente.
Mick Jagger chega aos 80 anos de idade em cima dos palcos e encarnando a imagem do polvo que agrega todas as imagens atribuídas a uma instituição do entretenimento, liderando segmentos que vão do sucesso e talento à habilidade nos negócios e esperteza na luta pela sobrevivência artística.
Até pode ser considerado um exemplo para qualquer artista, mas o que Jagger representa é mais pesado e visível: ele é um vencedor, provavelmente o maior do rock, talvez ao lado de Paul McCartney.
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