Passando longe da originalidade, uma revista semanal perguntou em suas páginas se os pais de jovens, naquele ano mágico de 1982, deixariam suas filhas saírem com jovens punks da periferia, emulando a campanha que o empresário Andrew Loog-Oldham fez em 1965 para promover os Rolling Stones na Inglaterra e nos Estados Unidos - "Você deixaria sua filha sair com um rolling stone?"
Mal sabiam aqueles jornalistas da revista e os pais em geral da época que muitas meninas e jovens ignoraram as restrições morais e familiares e se tornaram punks tão punks quanto os radicais dos primórdios do movimento.
Quase 45 anos depois da eclosão do estilo de vida punk no mundo e mais de 40 de sua explosão no Brasil, uma série bandas e artistas mostram que o estilo, ainda underground, está revigorado.
Os brasilienses da Plebe Rude comemoram 40 anos de existência tocando por aí os ótimos "Evolução Vol. 1 e 2", onde os músicos trazem 28 canções novas com uma visão progressista e, ao mesmo tempo, crítica, da evolução da humanidade.
O som está mais maduro e elaborado, assim como as letras, mas a fúria punk permanece, onde a dupla de guitarristas Philippe Seabra e Clemente Nascimento demolem as paredes com riffs violentos e certeiros das novas músicas e também em clássicos como "Até Quando Esperar".
Clemente, por sinal, inicia a comemoração dos 20 anos de Plebe Rude e 42 desde que fundou os Inocentes, nome primordial do punk paulista. Ele tenta conciliar a agenda da Plebe Rude com as das apresentações acústicas do duo com Ronaldo Passos recriando as canções clássicas das duas bandas.
Ao mesmo tempo, os Inocentes, com a formação completa, é uma das atrações principais do "Penha Rock", festival que ocorrem em São Paulo em julho. A banda planeja um show acústico para este ano, que será filmado e lançado em vários formatos de vídeo.
O Cólera, também com 40 anos nas costas, segue firme mesmo depois de mais de dez anos da morte de seu fundador, o vocalista e guitarrista Redson. "Está na Hora de Mudar" é o novo EP da banda, recém-lançado.
Com duas canções inéditas, três regravações de músicas antigas e uma versão para "Até Quando Esperar", da Plebe Rude, o quarteto mostra vitalidade e muita vontade de palco, ainda que originalidade não tenha sido o objetivo neste trabalho.
Ainda assim, serve como um termômetro da penetração do nome Cólera entre os jovens da atualidade que se interessam pela ideologia e o som punk, especialmente entre aqueles que se engajam na preservação do meio ambiente e na disseminação de valores ecológicos, uma das metas de vida de Redson.
Para a surpresa de muita gente, foi anunciado um show de reunião dos Blind Pigs dentro do elenco do Oxigênio Festival 2023, que acontece nos dias 26 e 27 de agosto, no Aeroclube Campo de Marte, em São Paulo.
O grupo tinha acabado há alguns anos, mas se reúne comemorar os 30 anos de formação. "Quando fomos convidados para participar do festival, já estávamos havia oito anos separados. O Gordo tinha a sua banda, O Preço, e eu e o restante do Blind Pigs estávamos com a Armada. Para ver se a química ainda rolava entre a banda, fizemos um show-relâmpago, surpresa, no Hangar 110. Lá deixamos nossas diferenças de lado e vimos como o Blind Pigs é essencial para a gente", revela o vocalista Henrike.
A banda acredita que o Oxigênio Festival, reconhecido por trazer grandes nomes da música independente, é o local perfeito para a celebrar a trajetória do Blind Pigs e reafirmar seu legado no cenário punk rock nacional, no entanto ressalta que a reunião não marca o retorno definitivo da banda à ativa.
"A expectativa para o Oxigênio é grande, mas não é uma volta, é um show para comemorar com a 'legião de inconformados' essa data tão importante", diz Henrike, que promete uma oportunidade única para os fãs reviverem os clássicos e sentirem novamente a energia explosiva dos Blind Pigs no palco.
Por fim, também celebrando uma longa trajetória - 40 anos de existência - a banda pernambucana Devotos, liderada pelo carismático baixista e vocalista Canibal, faz uma apresentação em São Paulo, no Instituto Itaú Cultural, nos dias 8 e 9 de julho.
É a continuação das celebrações que começaram no ano passado, quando o trio esteve em São Paulo para tocar no Sesc Paulista em concorridíssimas apresentações.
Todas as atrações citadas têm mais de 30 anos de trajetória relevante na música brasileira e evidenciam a importância do movimento punk brasileiro. São nomes fortíssimos da arte progressista, engajada e ativista no universo nacional.
P.S.: Inocentes tocam no "Penha Rock" no dia 16 de julho e , no dia 30, no mesmo evento, os Ratos de Porão dão seguimento às celebrações de sues 40 anos de carreira. Já a Plebe Rude toca em 15 de julho no Paraná. É o punk com tudo nos palcos brasileiros.
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