terça-feira, 6 de outubro de 2020

Secret Society: os paralelos entre a vida e a morte

 Nelson Souza Lima - especial para o Combate Rock

Em março do ano passado, quando ainda podíamos ir a shows, fui conferir o grande Dee Snider numa apresentação matadora no Tom Brasil, em São Paulo. Desnecessário dizer que o ex-Twisted Sister arrebentou, levando a galera a tirar a cueca pela cabeça.

No entanto, a banda de abertura não fez feio. Um power trio de responsa (baixo, bateria e guitarra) mostrando um som dark, soturno e sorumbático tendo à frente um cara com jeitão e corte de cabelo no melhor estilo Nick Cave.

Essa versão brasileira do monstro australiano é o vocalista/baixista Guto Diaz que, ladeado por Fabiano Cavassin (guitarra) e Orlando Custódio (bateria) formam a The Secret Society.

Não à toa Cave é uma das influências do grupo formado em Curitiba em 2016, trazendo ainda pitadas de Christian Death, TSOL, Killing Joke, Siouxsie And The Banshees, Danzig, The Cure, The Sisters of Mercy, The Cult, Bauhaus, Paradise Lost, The Mission e Joy Division.

Ou seja, é tão dark que pode assustar o próprio Conde Drácula. Porém, de acordo com Guto Diaz, a TSS não pretende assustar ninguém.

Para ele "o principal intuito é instigar o ouvinte a refletir. Gostamos de explorar simbologias e temas que tem tudo a ver com o nome da banda, como é o caso das projeções que utilizamos, cheias de imagens impactantes que são um complemento visual perfeito para o show".

Lançando clipes e singles regularmente no Youtube e plataformas digitais os curitibanos levaram um ano para finalizar o álbum debute que, além das mídias sociais, acaba de ser lançado em formato físico.
"Rites Of Fire", (Red Records Music), foi gravado na capital paranaense nos Estúdios Nico's e The Secret Bunker com produção da própria banda e de Luciano Nunes. 

São nove faixas nas quais as letras "trazem um caldeirão borbulhante de referências e influências, temos uma preocupação com a qualidade das canções. É um trabalho que requer atenção nos detalhes durante sua audição, para ser devidamente apreciado", acrescenta Diaz.

Um dos destaques é "The Architecture Of Melancholy", que de acordo com o vocalista teve como inspiração o cemitério de Modena, obra do arquiteto italiano Aldo Rossi.

"A música trata basicamente da morte, traçando um paralelo entre o cemitério dos mortos com suas lápides, túmulos e jázigos e os edifícios dos vivos, onde as pessoas passam boa parte do tempo isoladas e solitárias", pontua Guto Diaz.

Na entrevista abaixo, feita por e-mail, Guto Diaz fala de "Rites Of Fire", pandemia (assunto recorrente), religião e muito mais.

Secret Society (FOTO: DIVULGAÇÃO)


Combate Rock - Bom, então gostaria de saber do início. De onde veio o nome da banda The Secret Society. Que sociedade secreta é essa?

Guto Diaz -
Sempre achamos esse tema muito intrigante, quando escolhemos o nome para a banda visualizamos uma nova Sociedade Secreta dominante, uma Nova Ordem Mundial manipulando as nações e escondendo a verdade. Maçonaria, Illuminati, Rosacruz, Opus Dei, Sociedade Teosófica, Thelema, etc. Essas sociedades secretas atravessam séculos cheias de mistérios, onde apenas os iniciados têm acesso a rituais, códigos e conhecimentos que não devem ser compartilhados fora desses grupos. Mas há também propósitos ocultos, teorias da conspiração, segredos envolvendo governos, instituições e organizações religiosas. Nunca saberemos a verdade, ela está lá fora, mas muito bem escondida.

CR- Fugindo mesmo do convencional o som da TSS é profundo, sombrio. De onde vem as inspirações sonoras e literárias pras letras da banda?

GD -
São inúmeras as influências da banda e minhas letras sempre estão cheias de referências musicais, cinematográficas, literárias, vida e arte em geral. Cito por exemplo a letra da faixa “The Architecture Of Melancholy”, que teve como inspiração o cemitério de Modena (obra do arquiteto italiano Aldo Rossi), que ilustra a capa do single virtual e trata basicamente da morte, traçando um paralelo entre o cemitério dos mortos (lápides, túmulos, jazigos) e os edifícios dos vivos (onde as pessoas passam boa parte do tempo isoladas e solitárias). Musicalmente, posso citar como grandes influências, as bandas Bauhaus, Siouxsie and the Banshees, The Mission, The Cult, Joy Division, Killing Joke, Depeche Mode, The Gun Club, Christian Death, Nick Cave, Tiamat, Paradise Lost e Voivod, mas também rock progressivo, krautrock, thrash metal e industrial.

CR- De certa forma, a questão de Curitiba ser uma cidade linda, mas, segundo dizem, ser uma cidade fria conspira pra isso?

GD -
Eu tenho uma tendência a escrever letras mais sombrias e melancólicas, e com certeza, o clima frio e chuvoso de Curitiba é propício para isso e combina muito com a nossa proposta sonora.

CR- Canções como "Mephistofaustian Transluciferation" e "Chariots Of the Gods” envolvem religião. Como vocês encaram a religião?

GD -
Eu me utilizo muito de citações religiosas e bíblicas em minhas letras, muitas vezes metaforicamente e de forma figurada. “Mephistofaustian Transluciferation” é uma das letras que eu mais gosto do álbum. A principal inspiração foi tirada de um dos meus filmes favoritos, o filme tcheco “Lekce Faust” (1994), do diretor Jan Švankmajer, que foi livremente adaptado da obra de Goethe, personificando o mito do lendário Fausto como um homem contemporâneo, com todos os seus dilemas, a busca pelo sucesso a qualquer preço, a solidão, a frustração e a tristeza constante. O título “Transluciferação Mefistofáustica” teve como inspiração um ensaio no livro “Deus e o Diabo no Fausto de Goethe” escrito por Haroldo de Campos. Já em “Chariots of the Gods”, a inspiração foram as visões bíblicas de Ezequiel e o livro homônimo escrito por Erich von Däniken, que envolve a hipótese de que as tecnologias e religiões de muitas civilizações antigas foram dadas a eles por antigos astronautas que foram recebidos como deuses.

CR- Como foi dar "sangue, suor e lágrimas" na produção do álbum? Foi necessariamente nesta ordem o que derramaram mais?

GD -
Foi na mesma medida, 33,3% de cada. A produção do álbum teve início no fim de 2018, quando entramos em estúdio para fazer a pré-produção do que viria ser o álbum (ainda sem título naquele momento). Nestas sessões, nós gravamos 16 músicas que haviam sido escritas durante o ano. Destas 16 músicas escolhemos através de votação as 10 que seriam gravadas para o álbum de estreia. As gravações tiveram início em abril de 2019 e terminaram em agosto, tudo isso em meio a uma agenda com inúmeras apresentações. Com as gravações finalizadas, enviamos o trabalho para mixagem e masterização com o produtor e baterista Adriano Daga (banda Malta). O álbum, com 9 faixas (a décima faixa, “A New Day”, foi lançada como single em 01/01/2020), foi lançado digitalmente no dia 18 de outubro de 2019, com um show em São Paulo na feira Horror Expo. Em seguida saímos em turnê com shows em diversas capitais no Brasil e com algumas apresentações na Bolívia e México, e duas viagens frustradas para o Chile que tiveram apresentações canceladas devido aos protestos políticos na capital Santiago. A produtora Red Records foi de extrema importância para a banda na produção do álbum “Rites of Fire”, eles tiveram um cuidado muito grande em dar o apoio e a estrutura necessária para conseguirmos um material de qualidade internacional.

CR- Vi o show de vocês na abertura do Dee Snider em São Paulo. Vocês são uma banda de palco. Como é estar longe dos fãs sem fazer shows nesta pandemia?

GD -
Está sendo bem estranho estar longe dos palcos depois de um ano tão cheio como foi 2019. Nossa última apresentação foi no período do Carnaval de 2020, em Curitiba. Participamos da Zombie Walk, a maior caminhada zumbi do Brasil, com um show ao ar livre para mais de 20 mil pessoas. Na impossibilidade de fazer shows nos concentramos nossa energia no novo álbum, e estamos bastante empolgados com o material que escrevemos, já temos 13 músicas escritas e já demos início na pré-produção do próximo trabalho. Posso citar alguns títulos para atiçar a curiosidade dos fãs, “The Night Of The Hunter”, “Porcelain”, “Via Dolorosa” e “Confessional”.

CR- Agora é divulgar o "Rites Of Fire" nas redes sociais? Têm feito lives?

GD -
Sim, estamos trabalhando pesado a divulgação do álbum nas redes sociais e plataformas de streaming, e também com o formato físico nos principais canais de mídia. A gente estava um pouco relutante em fazer lives no início, não estávamos nos encontrando pessoalmente e a incerteza do rumo que a pandemia tomaria dificultou todo processo. Mas agora em outubro estaremos na sétima edição do Roadie Crew Online Festival e em novembro no Acesso Music Fest.

CR- O intuito de vocês é causar medo ou reflexão em quem os escuta?

GD -
O principal intuito é instigar o ouvinte a refletir. Gostamos de explorar simbologias e temas que tem tudo a ver com o nome da banda, como é o caso das projeções que utilizamos, cheias de imagens impactantes que são um complemento visual perfeito para o show. As músicas, letras e todo conceito por trás do álbum “Rites of Fire” trazem um caldeirão borbulhante de referências e influências, e temos uma preocupação imensa com a qualidade das canções. É um trabalho que requer atenção nos detalhes durante a sua audição, para ser devidamente apreciado.

CR- Dê um toque na galera que está sentindo falta da banda.

GD -
Gostaria de dar um alô a todos os nossos fãs e lembrar que acabamos de lançar uma edição limitada do álbum “Rites of Fire”. O álbum vem em formato digipack com quatro faixas bônus (os singles “The Architecture Of Melancholy”, “Fields of Glass”, “Deciduous (Les Feuilles Mortes” e “A New Day”). E também convidar quem não conhece nosso trabalho a nos seguir nas redes sociais, ouvir nossas músicas nas plataformas digitais e se inscrever em nosso canal no YouTube, lá temos diversos vídeos oficiais, apresentações ao vivo, lyric videos e em breve o novo vídeo clipe.

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