Marcelo Moreira
Foi o tipo de show muito parecido com aquele jogo na rua Javari no qual Pelé marcou o seu gol mais bonito: com capacidade para 7 mil pessoas, a quantidade de gente que diz que esteve naquele local, naquele dia, ultrapassa 100 mil - da mesma forma que a final da Copa de 1950, no Maracanã, teria sido vista por 1,5 milhão de pessoas, se contarmos todos que dizem que estavam no estádio que tinha capacidade para 200 mil...
E assim a lenda persiste em relação ao maravilhoso show do Van Halen no péssimo ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, em 1983. Péssimo porque a acústica era inexistente - não fora projetado para receber espetáculos.
Quantos estiveram lá, de fato? Cinco mil, dez mil? E cada roqueiro cinquentão paulistano conta uma história boa desse show, como se estivesse a poucos metros do palco, vibrando com os solos de Eddie Van Halen, com a alucinante apresentação da Patrulha do Espaço, na abertura, sem se incomodar com a precariedade das instalações.
Ninguém se incomodou com a falta de conforto. Diante da total ausência de shows internacionais de peso, como o Queen, de 1981, o roqueiro brasileiro fez de tudo para invadir o ginásio e saborear um pouco daquilo que era corriqueiro no primeiro mundo.
Surpreendentemente, o Van Halen fez nove shows no Brasil, três em cada capital, naquele janeiro de 1983. Passou também por Caracas (Venezuela) e Buenos Aires (Argentina) na turnê "Hide Your Sheep", depois do lançamento do quinto disco, "Diver Down".
Dos três superlotados shows paulistanos, o melhor foi o segundo, de acordo com quem presenciou. Mais adaptado ao calor de janeiro e ao funcionamento dos equipamentos, o quarteto voou no palco, em uma apresentação sem incidentes e quase nenhum problema no som.
A TV Bandeirantes filmou um dos espetáculos e, pelas imagens que vemos, dá para ter alguma noção da aventura que foi assistir ao Van Halen no imenso e desconfortável ginásio do Ibirapuera. Durante anos as fitas piratas com imagens dos shows foram disputadas a tapas na Galeria do Rock.
Ao lado dos icônicos shows de Alice Cooper, no Anhembi, em São Paulo, em 1974, e do Queen, no estádio do Morumbi, em 1981 - para não falar de Kiss, no mesmo estádio, em 1983 -, as performances do Van Halen em sua única passagem pelo Brasil pode ser consideradas as mais históricas dentre as apresentações internacionais. Há quem as equipare, em importância, ao Rock in Rio 1985.
Eddie Van Halen (FOTO: DIVULGAÇÃO) |
Exagero ou não, essa turnê adquiriu tamanha importância e a aura de lenda porque o Van Halen não retornou mais. Só veríamos Rolling Stones em 1995, The Who em 2017 e U2 em 1998, que voltaram. O Van Halen, só uma vezinha.
Durante anos, em entrevistas para jornalistas brasileiros, Sammy Hagar e Eddie trocavam farpas e acusações sobre os motivos de não tocarem no Brasil ou América do Sul. "Eddie não gosta de viajar, não gosta de ficar muito tempo na estrada. Por isso toamos muito nos Estados Unidos e pouco na Europa e quase nunca no resto do mundo", declarou o cantor certa vez à revista Roadie Crew.
Para a Rock Brigade, por sua vez, Eddie culpou Hagar por não gostar de viajar o mundo. "Ele preferia ficar perto de casa e também do clube noturno dele, no México."
David Lee Roth, por sua vez, saiu da banda em 1985 e visitou diversas vezes o Brasil, em shows nostálgicos e gigantes em festivais.
Seu apreço pelo país é tão grande que aprendeu um pouco de português com uma namorada brasileira que morava em Los Angeles. Fala ainda melhor espanhol, mas sempre evitou essa "batata quente" de responder os motivos de a banda só ter tocado uma vez na América do Sul.
Havia uma expectativa de matar um pouquinho do gosto de ver algo de Van Halen no Brasil neste ano, quando Sammy Hagar anunciou shows com sua banda, The Circle, com o amigo baixista Michael Anthony. A pandemia de covid-19, no entanto, adiou por tempo indeterminado a visita do "red rocker".
Restaram apenas as lembranças daqueles míticos shows históricos de janeiro de 1983, quando cerca de 300 mil pessoas estiveram no Ibirapuera, a julgar pelos relatos exagerados e mentirosos de centenas de milhares de roqueiros brasileiros cinquentões e sessentões. Que seja, faz parte da lenda.
"Tudo que se via em alguns videoclipes e nas escassas imagens foi o que aconteceu no show: David Lee Roth pulando alto, cintos de couro, calças agarradas, Eddie Van Halen escorregando e chutando amplificadores, Michael Anthony endiabrado e Alex Van Halen no comando de uma bateria de quatro bumbos; fora a fumaça, muito fogo e gelo seco", relata texto do site Rocksp.REPRODUÇÃO/SITE ROCKSP |
Chora amigo..... porque eu fui
ResponderExcluir