domingo, 27 de junho de 2021

A 'guerra das vacinas' chega ao rock: fiquemos alertas contra a discrminação

Marcelo Moreira




A vacina é a protagonista na volta dos shows nos Estados Unidos e na Europa, e vem provocando algumas situações polêmicas e constrangedoras. Duas delas envolvem dois guitarristas estrelados: o norte-americano Bruce Springsteen e o inglês Eric Clapton. 

Springsteen foi o escolhido para um evento-teste em Nova York para uma apresentação pequena de reinauguração dos peças de teatro na Broadway ocorrido neste sábado (26). 

Tanto as autoridades sanitárias da cidade como os organizadores do show impuseram uma condição para quem quer assistir ao show: as pessoas precisam comprovar que estão vacinadas.

A polêmica, no entanto, é que não basta estar vacinado. Só serão aceitas as vacinas que têm a provação do governo dos Estados Unidos. Isso significa que a chinesa Coronavac e a europeia Astrazeneca estão fora da lista. Só valem os imunizados com Pfizer, Moderna e a dose única da Johnson & Johnson.

Portanto, brasileios, canadenses e britânicos, vacinados predominantemente com Coronavac e  AstraZeneca-Oxford estão barrados.

A questão não é grave somente em relação a shows. Provavelmente, será uma recomendação das autoridades sanitárias norte-americanas que pode ser estendida para outros ramos de negócio e ambientes sociais no país. 

Os Estados Unidos, não apenas podem decretar que não vacinados serão párias como quem se vacinou com determinada marca de imunizante também poderá ser discriminado em vário segmentos da vida cotidiana. 

É um precedente extremamente perigoso que pode, inclusive, afetar conceitos primordiais e sagrados para os americanos, como a liberdade individual acima de quase tudo e a de ir e vir. O que poderá impedir, por exemplo, que uma companhia área impeça vacinados com Coronavac de embarcar?

Se a exigência de comprovação de vacinação para quase tudo na vida é algo desejável e merecedor de aplauso como forma de combater o negacionismo e as campanhas nojentas antivacina, por outro lado a discriminação por conta da marca e origem do imunizante é algo extremo e exagerado. suas consequências podem ser imprevisíveis. 

A AstraZeneca está tentando ser aprovada nos EUA após ter apresentado 76% de eficácia em prevenir os sintomas da Covid-19 e 100% na prevenção de sintomas graves e hospitalização. Apesar das aprovações em diversos países, o FDA americano (a Anvisa de lá) pediu evidências de testes em maior escala.

O caso que envolve o nome de Eric Clapton é um pouco mais complexo, mas igualmente preocupante. O guitarrista, que bradou contra as medidas de isolamento social e lockdowns no Reino Unido, espalhou um monte de mentiras a respeito da suposta ineficácia de vacinas - qualquer uma - e esbravejou contra a os efeitos colaterais do imunizante que tomou, da marca Astrazeneca-Oxford. 

Em e-mail e telefonema a um amigo, reclamou de dores de cabeça, dores musculares e de "sofrimento incomparável", o que foi interpretado como uma "desnecessária e perigosa" desinformação a respeito da vacina que salva vidas. 

Em relação ás cinco principais marcas em aplicação pelo mundo, o índice de incidência de efeitos colaterais graves é tão desprezível que não são levados em consideração. O choramingo de Clapton foi visto como exagerado e mais uma investida contra a necessária campanha de imunização.

Juntando-se ao fato de que ele é radicalmente contra o lockdown e o isolamento social - "prejudica a economia e os empregos no show business" -, o resultado é que os amigos, empresários de shows de rock e músicos de vários gêneros se afastaram dele, visto como um negacionista.

"Meu telefone parou de tocar e todos se afastaram de mim", reclamou Clapton em uma entrevista ao jornal inglês The Guardian, a mesma em que relatou o "sofrimento" com as "graves consequências" da vacina.

É evidente que devemos ter cautela em relação aos desdobramentos das restrições impostas aso vacinados e não vacinados para que a coisa não descambe para a pura discriminação, até porque o ritmo de imunização não é o mesmo no mundo - no Brasil, só 11% da população está vacinada com as duas doses, enquanto países como Israel, Estados Unidos e Reino Unido superam os 70%.
 
No caso de Clapton, fica aquela sensaçãozinha de "bem feito" por conta de sua campanha nojenta contra lockdown, distanciamento social e vacina. Ignorância e má fé precisam, de uma forma ou de outra, serem punidas, mas as consequências graves precisa ser analisadas. 

Mais preconceito e mais discriminação não podem ser punições além da conta ou se transformarem em "novo normal" daqui em diante.

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