terça-feira, 22 de junho de 2021

A nova ressurreição do Devastation A.D., pioneiro do metal no leste europeu

Marcelo Moreira

O rock por trás da cortina de ferro ainda é bem desconhecido por aqui, com as exceções de praxe - duas ou três bandas húngaras, outras duas polonesas, uma tcheca e olhe lá. 

Nos anos 80, um pouco antes do desmoronamento do comunismo, a banda iugoslava Laibach era cultuada no ocidente por conta de seu som industrial que antecipava um pouco Ministry e Nine Inch Nails.

O underground, no entanto, era feroz e muitas bandas de metal e punk desafiavam os governos totalitários e as polícias políticas, transformando o rock em uma maneira de protestar contra o regime, assim como o simples ato de sentar em uma arquibancada, em um jogo de futebol, e xingar o governo. Nos anos 80, isso era comum na Polônia, na Hungria. na Alemanha Oriental e na Iugoslávia.

E é deste último país que uma banda interessante está resgatando a sua história de 34 anos de metal. O Devastation A.D. está ativo depois de milhares de formações. 

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

 

De fôlego novo, está revendo alguns de seus principais momentos para mostrar que é um dos grupos mais importantes dos Bálcãs, sudeste europeu que passou por uma guerra étnica a partir de 1991 e que durou, com algumas interrupções, até 1999, quando a intervenção dos Estados Unidos consolidou as ex-repúblicas iugoslavas.

O ano de 1987 foi crucial para a banda de metal, quando a coisa realmente começou a ficar séria e oportunidades passaram a surgir. Devastation A.D. é uma das bandas pioneiras de thrash metal na península balcânica, e é formada atualmente por Alex nos vocais, Danijel na guitarra, Bernard no baixo e Leonardo na bateria. 

O último show com todos os integrantes fundadores foi em 10 de outubro de 1987, durante um evento organizado para comemorar o Dia da Juventude Comunista da Iugoslávia, em Belgrado, a capital do país. 

Eles foram a banda de apoio para a manifestação e tocaram quatro músicas de sua primeira demo: "Devastation", "Atomic War","Slaughtereres From Hell","Under The Scalpel Blade". 

Parecia tudo perfeito até aqui, mas uma história de bandas do metal nos anos 80 sem obstáculos soa mais como filme, e estamos falando de guerreiros da vida real, que perseguiam o que mais gostavam de fazer: tocar. 

"O público era enorme e deu tudo certo até 'Under The Scalpel Blade'. Pouco antes do solo da guitarra, o amplificador de David morreu, então ficamos com apenas uma guitarra. Durante o solo de Marko, eu pulei para trás sem olhar para onde pulo, e pisei no cabo do baixo, então terminamos as músicas também sem baixo. Tocamos o show juntos até o fim, sem saber que esse era o último show de David com o Devastation.", contou Alex, em entrevista para o site Roadie Metal.

E não foi só David que saiu, Fritz foi para o serviço militar obrigatório e Marko desanimou pelo fato de ter que começar tudo de novo. Eles estavam em um momento de ascensão, e ninguém quer voltar do zero e recomeçar justo durante um bom momento. 

Antes de tudo acabasse, o Devastation A.D. resolveu finalizar a produção da demo, com sessão de fotos para a capa de The Upcoming Mayhem. Eles ainda deram entrevista para Boris Bjelica, do jornal Pet. E para terminar a fase em grande estilo, eles organizaram um show de despedida, em novembro de 1987, no MZ Veruda, com o pessoal do Sick Wine Fly. 

 

"O show foi totalmente underground, mas também reflexo de nossa total falta de experiência. Tocamos o show sem o sistema de PA, apenas nos amplificadores, com o microfone para vocal plugado no amplificador de baixo, junto com o baixo. No final do corredor, você não conseguia ouvir nada. Mas o show terminou além de qualquer expectativa, um caos total. Em relação à banda, nos separamos da melhor maneira possível", disse Alex.

Alex e Chriss continuaram em frente e encontraram novos membros: Barbaro Erwin no baixo, Sergej Mudrovčić, mais conhecido como Wutrich, na guitarra, e Elizabeta Petrić, chamada de Pita, extremamente talentosa, também na guitarra. 

Eles não tinham exatamente muito contato com o speed metal, mas aprenderam rápido. Coincidência ou não, o primeiro show da nova formação foi o mesmo concurso de guitarra em Rijeka, na Croácia. Mas foi outro concurso de guitarra, desta vez em Pula, que elevou os ânimos do Devastation. 

"Não fomos brilhantes no som, e até cometemos alguns erros enormes na execução, mas no geral foi uma das melhores performances de Devastation de todos os tempos.", revelou Alex. 

Ainda que tenha sido com um membro a menos, já que Pita estava com o braço engessado naquela ocasião. Uljanik estava com um público de mais de mil pessoas. 

"Quando entramos no palco, a multidão enlouqueceu literalmente. Se não tivesse um vídeo para provar, eu também não acreditaria.", disse Alex. 

 

E o show não ficou só importante na história da banda, mas é um dos marcos históricos das bandas de Pula, já que é um dos primeiros vídeos de uma banda da cidade apresentando sua demo. 

A data era 29 de junho de 1988. Este é um dos capítulos da história que fez com que Devastation A.D. se transformasse na lendária banda dos anos 80 que marcou toda uma geração de headbangers.

Devastation A.D. está mais produtiva do que nunca e está se preparando para essa nova fase, após assinar oficialmente o contrato com a RTR Records. É mais uma ressurreição de um dos pioneiros do metal do leste europeu.

 

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