sábado, 19 de junho de 2021

‘Slave to the Grind’, melhor álbum do Skid Row, completa 30 anos

 Ricardo
Ricardo Gozzi e Cristiane Vieira - do site Roque Reverso




O melhor álbum de uma das bandas mais injustiçadas do ressurgimento do rock entre o fim dos anos 1980 e início dos anos 1990 acaba de completar 30 anos. Estamos falando de “Slave to the Grind”, o segundo disco do Skid Row, lançado no dia 11 de junho de 1991.

O álbum colocou o Skid Row em evidência em uma época na qual só se falava em Guns N’ Roses, Aerosmith e qualquer coisa que viesse de Seattle.

Grande parte da responsabilidade pelas injustiças cometidas por público e crítica contra o Skid Row teve como base a estética proposta pela indústria fonográfica de tentar vender o quinteto de New Jersey como mais uma banda de hard rock farofa, hair metal, como preferem na gringa, ou poser, para os íntimos.

Contribuíam para isso o porte de galã desajustado de um Sebastian Bach no auge da forma vocal, a sonoridade do disco homônimo de estreia, lançado em 1989, e o fato de um dos guitarristas, Dave Sabo, ter montado o Skid Row junto com Rachel Bolan depois de ser chutado do Bon Jovi.

O álbum de estreia da banda – “Skid Row” – já havia feito um sucesso considerável. Impulsionado pelas baladas “18 and Life” e “I Remember You”, que tocavam sem parar no rádios e custaram a sumir do Top 10 da MTV Brasil, o disco vendeu 5 milhões de cópias somente nos Estados Unidos.

Menos “I Remember You”, mais “Youth Gone Wild”

Justiça seja feita, “Youth Gone Wild” é a melhor música de Skid Row. Pesada e engajada, ela acaba funcionando como o elo entre o primeiro e o segundo discos.

Quando todos esperavam que o Skid Row fosse pegar o caminho mais fácil e transformar-se em mais um entre um bando de farofeiros, a banda surpreendeu e surgiu com um disco mais pesado e maduro, com letras complexas e musicalmente mais sofisticado.

Sociedade, política, comportamento, violência, mídia do espetáculo e religião são os temas predominantes nas letras de “Slave to the Grind”, quase todas escritas por Rachel Bolan e Dave Sabo.

A falta de papas na língua rendeu nos Estados Unidos não apenas o hipócrita selo de “aviso aos pais” tão comum nos discos de bandas de rock que se prezam como também censura, mas a gente já chega lá.

Abertura potente

As potentes “Monkey Business”, “Slave to the Grind” e “The Threat” abrem o disco em velocidade supersônica, convidando o ouvinte a riffs aos mesmo tempo pesados e sofisticados mesclados à bela e potente voz de Sebastian Bach.

Mesmo nas músicas mais melódicas, as letras são uma sucessão de socos no estômago. “Quicksand Jesus” que o diga. O Lado A termina com a perturbadora “Psycho Love” e a sincera “Get the Fuck Out”, censurada na versão norte-americana do álbum e substituída por “Beggar’s Day”.

Lado B

O Lado B vem sem aviso nem alívio. “Livin’ on a Chaingang” e “Creepshow” fazem a cama para a introspectiva “In a Darkened Room”. Encerrado o fade do magnífico solo de Scotti Hill, a pancadaria volta com tudo em “Riot Act”, uma aula de esculhambação a qualquer coisa que se assimile a legislações antiterrorismo em geral.

A paulada prossegue com “Mudkicker” para em seguida dar lugar à sofrida “Wasted Time”, música que encerra “Slave to the Grind”.

O álbum tem presença obrigatória na discoteca, playlist e similares de qualquer pessoa que correlacione rock’n’roll, atitude e contestação ao sistema (não nos moldes Trump-bolsonazistas, que fique claro).

Capa

A capa do disco tem uma história à parte. Ela foi extraída de um mural desenhado pelo pai de Sebastian Bach, David Bierk, com cenas inspiradas em diferentes obras do mestre barroco italiano Caravaggio, mais notadamente “O Enterro de Santa Luzia”, e transportadas para a modernidade pré-internet.

Incômodo, inviabilização e legado

O fato é que o engajamento e a atitude do Skid Row incomodaram. Os esforços para desqualificar a banda tornaram-se constantes na mídia, especializada ou não, e a indústria fonográfica fez o que pôde para invisibilizar o grupo, apesar da boa receptividade do público a seus bons primeiros trabalhos.

Ao mesmo tempo em que a carinha bonitinha de Sebastian Bach alavancou a popularidade do Skid Row entre as adolescentes histéricas da época, músicas fortes e soturnas como “In a Darkened Room” e “Wasted Time” acabaram rotuladas como meras baladas, alimentando críticas quanto a uma suposta incoerência entre a estética e a mensagem da banda, que segue na ativa até hoje.

Trinta anos depois, “Slave to the Grind” segue como prova cabal de que rock e atitude caminham de mãos dadas – e de que o preço a ser pago por quem se posiciona pode ser alto, mas vale a pena quando se tem algo consistente a dizer.

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