Marcelo Moreira
Aquele senhor simpático, com jeitão de cientista ou mestre da computação, encantou a todos que tiveram a oportunidade de trocar alguma palavra com ele. Afável, falante e atencioso, discorreu sobre quase todos os assuntos e admitiu depois: "Acho que nunca me senti como uma celebridade como neste momento".
Tony Levin, que completa 75 anos, realmente é um cientista, se tomarmos algumas liberdades, e realmente merecia ser tratado como celebridade quando veio tocar em São Paulo com mo amigo Pat Mastelotto em 2011, em eventos patrocinados pelo Sesc São Paulo.
O norte-americano é um dos mais festejados baixistas do rock e do jazz a partir dos anos 80. Nome indissociável do King Crimson, uma das maiores criações musicais rock e do século XX, surgiu para o grande público na banda inglesa tocando uma engenhoca chamada stick, uma espécie de fusão de guitarra e baixo com sonoridade eletrônica tocada com digitação das cordas em um braço eletrônico.
O que pouca gene sabe é que ele é uma espécie de braço direito de Peter Gabriel desde que a segunda encarnação do King Crimson hibernou, a partir de 1985.
Não havia cidadão mais apropriado para assumir uma posição de ritmista em um combo dos mais vanguardistas da história do rock.
Quando apresentou o stick - ou chapman stick, instrumento criado pelo luthier e engenheiro eletrônico Emmett Chapman nos anos 70 - a Robert Fripp, o guitarrista líder do King Crimson, tornou-se imediatamente um dos músicos mais venerados e admirados do rock progressivo.,
O som de seu instrumento inusitado ficou marcado em composições como "Elephant Talk" e "Matte Kudasai", além de ser parte altamente reconhecido nas suítes da banda dos anos 90, como "Thrak".
O stick também fez parte de uma série de canções do Yes - bem, não necessariamente do Yes, na verdade. No hiato do King Crimson, a partir de 1985, ensaiou uma carreira solo na música instrumental e no jazz ao mesmo tempo em que ajudava Peter Gabriel a retomar a carreira de sucesso.
Jon Anderson tinha brigado de novo com os antigos amigos do Yes e saiu da banda em 1988. Meio sorrateiramente, sugeriu a seu empresário contatar ex-membros da banda para recriar o "verdadeiro Yes" em 989, mas não conseguiu, já que o nome era de propriedade do baixista Chris Sqire, que optou por manter a sua versão da banda - a verdadeira, legalmente - na ativa.
E então surge o Anderson, Bruford, Wakeman and Howe, também conhecida como ABWH, banda com ex-integrantes históricos do Yes. O convite para que Levin tocasse no único álbum do grupo foi automático, revezando-se entre baixo e stick.
O disco teve uma receptividade apenas razoável, mas a turnê subsequente teve vendas expressivas, o que ensejou a realização de novo álbum.
Só que, no meio do caminho, Anderson e Squire se entenderam de novo e veio a ideia dos empresários: Yes e ABWH estavam em seus estúdios e gravaram metade de seus álbuns. Por que não juntar os dois trabalhos para lançar um único disco, sob o nome Yes, com a junção e a formação com oito integrantes?
Foi o projeto "Union", que durou até 1992 e que teve o baixo e o stick de Tony Levin em metade das músicas, mas é óbvio que seria limado da turnê norte-americana, já que Squire, baixista fundador da banda, não lhe daria espaço.
"Eu era um músico contratado, eu sabia disso. A união deles me surpreendeu, mas foi ótimo, porque não demorou para Robert Fripp me chamar de novo para nova encarnação do King Crimson. É muito provável que eu fosse de qualquer jeito", disse Levin sobre esse período.
Ele nunca ligou para o fato de ser considerado um instrumentista subestimado. Tem orgulho de sua carreira e do que construiu em mais de 50 anos tocando baixo.
Respeitadíssimo, tocou rapidamente com Frank Zappa e Alice Cooper nos anos 70 antes de encarar a banda de Peter Gabriel e, depois, o King Crimson. Neste século, também fez parte do HoBoLeMa, banda instrumental de jazz rock ao lado do guitarrista Allan Holdsworth, e do Liquid Tension Experiment, ao lado de três integrantes e ex-integrantes do Dream Theater, além de manter o seu grupo, o Stick Men.
É um musico extraordinário, que simboliza a excelência instrumental do rock progressivo e a criatividade extrema que alia versatilidade, diversidade e uma habilidade incomum. É impossível imaginar o King Crimson sem seus grooves e seu ritmo marcante e inconfundível.
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