sábado, 26 de junho de 2021

Shane MacGowan, dos Pogues, aquele que redimiu a música irlandesa

Marcelo Moreira

 



O guitarrista Rory Gallagher e o baixista Phil Lynnot ganharam estátuas em suas cidades como ícones máximos da música local, mas ninguém fez mais pela Irlanda do que Shane MacGowan. Essa sensação fica nítida quando terminamos de ver o longo documentário "Crock of Gold", um panorama rico da vida do ex-líder da extraordinária banda The Pogues, que inventou o celtic punk. 

O filme é uma das atrações do IN-Edit Brasil 2021 - Festival Internacional de Documentários Musicais, que vai até 27 de junho em sua edição online.

Produzido pelo amigo Johnny Depp e dirigido por outro camarada, Julian Temple, a fita de mais de duas horas é muito mais do que uma autobiografia do cantor beberrão e desdentado - e é uma verdadeira aula de história da Irlanda do século XX e dos dramas sociais do povo da ilha, passando pela fome que matou milhões e expulsou outros milhões no século XIX e a luta pela independência da Inglaterra entre 1916 e 1922.

Na voz de um MacGowan debilitado - aos 63 anos, está preso a uma cadeira de rodas há anos por conta de uma queda numa escada dentro do estúdio, e mal consegue falar -, a história do povo irlandês e suas tradicionais quase milenares são contadas com um senso de urgência e de orgulho, o ue ajuda a explicar a intensa e tortuosa carreira do cantor punk e de sua banda.

Um malandro bêbado e oportunista que se aproveitou das carências de um povo expatriado e saudoso de casa ou um bardo que ressuscitou a música tradicional irlandesa com suas composições encharcadas e álcool, melancolia e tragédia?

As duas coisas, segundo os amigos e os próprio MacGowan. Depois de uma infância feliz na zona rural da Irlanda, rodeado por uma família grande e com histórico de participações nas revoluções contra os ingleses, mudou-se om os pais e a irmã mais velha para Londres quando tinha cerca de 12 anos.

Detestando a cidade e sendo alvo de agressões e bullying por ser irlandês, tornou-se um rebelde punk antes de o punk estourar. 

Fora da escola e desempregado, vivia do auxílio do governo até que decidiu mergulhar no entretenimento quando assistiu a um shows dos Sex Pistols. 

Tornou-se uma figura icônica do punk aos 20 anos como a personificação do movimento, aparecendo m diversas reportagens de revistas e de TV como a "cara do movimento". Criou um dos primeiros fanzines punks e em seguida, como se esperava, criou a banda punk Nipple Erectors.

Morando em prédios invadidos e desempegado - e cada vez mais bêbado e drogado -, parecia sem muito futuro quando o punk acabou. 

Shane MacGowan (FOTO: REPRODUÇÃO)

E aí teve a iluminação mística: junto com amigos irlandeses desgarrados que tocavam mal seus instrumentos típicos, decidiu recriar o seu mundo idílico irlandês com uma sonoridade punk. Nascia o cletic punk pelas mãos da banda The Pogues, que o tornaria um astro do rock, mas também um ás na busca por encrencas diversas movidas a todo tipo de bebida.

O roteiro é detalhado e bastante perfeccionista, tanto que o documentário ultrapassa duas horas de duração. Exagera bastante no didatismo, mas é um filme árduo para quem não está familiarizado com as questões irlandesas e com o parte menos conhecida do mundo punk de Londres. Julien Temple não quis facilitar na contextualização.

Entretanto, quando se analisa tecnicamente a utilização de recursos dramáticos e computação gráfica, o filme dá um show de competência. Imagens históricas da Irlanda e a edição das entrevistas antigas de MacGowan são um bônus à parte.

Tanto Depp, que conduz algumas entrevistas com o já debilitado cantor, quanto Temple conseguiram dar a verdadeira dimensão da importância história e musical de Shane MacGowan e da banda The Pogues. É m verdadeiro mergulho na história política e social da música irlandesa

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