quarta-feira, 9 de junho de 2021

Ronnie Wood, um sobrevivente laureado do rock

  Marcelo Moreira

Ron Wood (FOTO: DIVULGAÇÃO)


Amigão de todo mundo, o guitarrista Ron Wood era considerado o maior festeiro do rock inglês, principalmente nos anos 70. As festas em sua mansão nos arredores de Londres ficaram famosas por reunir a nata do rock mundial naqueles tempos – era muito fácil ver por ali quase todos os Rolling Stones, pelo menos dois Beatles, quase todo o Who, além de David Bowie, Elton John, integrantes de Traffic, Yes e muitos outros. 

Irmão mais novo de Art Wood, da banda The Artwoods, desde cedo circulou com propriedade entre a realeza do rock e ganhou a pecha de cara bacana, amigão para todas as horas, enquanto prestava serviços como guitarrista e baixista nos Birds, nos Faces e no Jeff Beck Group. 

Chega aos 74 anos de idade como um vencedor em todos os sentidos - tocou com os melhores, ainda troca com os melhores e superou pela segunda vez um câncer, como revelou em entrevistas no começo deste ano.

Tanto foi assim que Keith Richards, guitarrista e fundador dos Stones, praticamente se hospedou em sua casa por alguns meses em 1973 – o estúdio caseiro da casa era considerado um dos mais confortáveis e equipados da Inglaterra. 

George Harrison, dos Beatles, também costumava visitar Wood com frequência para jogar sinuca e fazer um som. Não foi surpresa, no entanto, que Wood tenha sido chamado para quebrar o galho e substituir Mick Taylor na turnê norte-americana dos Rolling Stones de 1975.

Taylor saíra no começo do ano reclamando bastante dos ex-companheiros e Richards nem pestanejou: convidou o então melhor amigo naqueles tempos mesmo sem a aprovação de Mick Jagger – não que houvesse alguma restrição, já que Ronnie estava em boa conta com o vocalista, mas o guitarrista meio que "peitou" o companheiro de liderança nos Stones. A amizade de anos facilitou a convivência e o entrosamento foi quase que imediato, ainda que Jagger fosse reticente quanto á efetivação.

Wood tocou como convidado por um ano e meio, mas a incerteza não o abalou: disse adeus aos Faces no final de 1975, sacramentando a implosão do quinteto então liderado por Rod Stewart – que, diga-se de passagem, mantinha desde 1970 uma bem-sucedida carreira solo paralela. 

São 46 anos, portanto, de Stones - o bonachão iniciou a sua caminhada para se tornar um integrante definitivo, ainda que escolhesse receber salário em vez de uma parte dos ganhos da banda.

O afável e amigão Ronnie Wood não se abalou nem mesmo quando Jagger convenceu o resto dos Stones de que deveriam fazer "testes" para escolher definitivamente o novo guitarrista. 

Apostou alto na amizade com Richards e no entrosamento com o baixista Bill Wyman e com o baterista Charlie Watts. Jagger decidiu receber em um estúdio em Munique, na Alemanha, em meados de 1976, alguns amigos e candidatos para jams e testes. 

Eric Clapton e Jeff Beck passaram por lá, sem saber ao certo se estavam ou não sendo avaliados. Por educação, Ronnie foi convidado também, cruzando com o americano Harvey Mandel, recomendado por empresários e amigos de Jagger.

Em sua autobiografia, Wood conta que conversava durante alguns intervalos dos testes – que marotamente tiveram trechos usados no álbum dos rolling Stones daquele ano, "Black and Blue" – com os amigos Clapton e Jeff Beck. 

Em um dado momento, Clapton, consciente de que se tratava de uma "seleção", disparou: "Não sei se quero, mas me parece claro que eu sou um guitarrista melhor do que você. Não entendo o que ocorre aqui." 

Rolling Stones com Ron Wood em 2012 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Sorrindo, Wood rebateu: "Você é melhor, sem dúvida, mas quem vai ter de aturar Keith [Richards]? Eu aguento na boa, e você? Vai conseguir conviver com ele? Quanto tempo dois gênios da música vão ficar juntos?"

Richards nem precisou argumentar muito para impor sua vontade e escolher o chapa Ronnie, companheiro de bebedeiras e de incursões às drogas, entre outras aventuras. Já era um dos auges das disputas de poder entre os líderes dos Stones. Foi a melhor escolha. 

Wood como guitarrista solo inicialmente tornou-se o escudeiro ideal para que Richards mantivesse a solidez rítmica da banda. Sem arroubos egomaníacos e nenhuma petulância, o guitarrista narigudo mostrou-se confiável e eloquente, mas sem disputar espaço que jamais seria seu, como, de certa forma, os antecessores Brian Jones e Mick Taylor tentaram.

A amizade falou mais alto, mas o entrosamento musical e uma certa subserviência também contaram, e muito, para a sobrevivência e a longevidade de Wood dentro dos Rolling Stones. 

São quase cinco décadas bem-sucedidas ao lado da maior banda de rock do mundo. Foi muito mais do que Ronnie poderia esperar. No entanto, fez por merecer e deu uma aula de tenacidade e jogo de cintura. Os Stones acertaram em cheio. E Wood se tornou um dos músicos mis respeitados da história.

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