Marcelo Moreira
Stephen Biko, ativista sul-africano (FOTO: REPRODUÇÃO/YOUTUBE)
Os argumentos dos autoritários e fascistas estão sumindo, e a conversa sempre termina com o indigente intelectual vomitando que não se deve misturar rock com política. Essa porcaria sonora está sendo cada vez mais despejada por bocas imundas nestes tempos bolsonaros nefastos.
Com o desespero da falta de competência e de caráter demonstrada por integrantes do governo federal e seu presidente, começam a ficar explícitos os comportamentos odiosos de discriminação, preconceito e ódio, seja com xingamentos, seja com assassinatos e depredações de direitos humanos e de minorias.
Isso se reflete diretamente com o elevado número de casos de racismo que vêm à tona nos últimos tempos neste país infeliz, em que crianças negras são frequentemente vítimas de balas perdidas e vários locais do país, em que índios têm suas terras vilipendiadas com o apoio tácito do governo federal de inspiração fascista, em que homossexuais e transexuais são cada vez mais alvos de assassinos, em que ativistas da cultura e direitos humanos entram cada vez mais na mira do ódio das milícias fascistas.
Diante de uma era em que a nossa democracia e nossas liberdades estão diariamente ameaçadas e em que o racismo escancarado toma conta dos noticiários, é necessário que tenhamos um hino para nos inspirar a continuar a luta e destroçar o mundo fascista que querem nos impor.
Por isso, não há como não se emocionar com a nova versão de "Biko", clássico contido no terceiro álbum de Peter Gabriel e que virou trilha sonora de protesto e de homenagem a heróis que lutaram pela liberdade e pelo direito de minorias-maiorias oprimidas por governos e sociedades diversas, quase sempre dominadas por elites econômicas brancas.
A nova versão é do ano passado e foi gravada por diversos músicos em processo colaborativo em plena pandemia, dentro do projeto mundial beneficente Playing For Change, criado para estimular iniciativas culturais e econômicas que visam erradicar o uamenizar a pobreza.
Peter Gabriel volta a interpretar a sua canção ao lado de nomes importantes da world music e instrumentistas de vários gêneros, como o violoncelista de origem chinesa Yo Yo Ma, astro da música erudita, e da cantora de Benin radicada na França Angelique Kidjo.
"Biko" e uma contundente homenagem a Stephen Biko, ativista dos direitos civis na África do Sul dos tempos do apartheid. Era uma voz gigante em um momento em que o líder Nelson Mandela amargava quase 15 anos de prisão por liderar os negros contra o regime branco opressor - foi condenado por terrorismo e ficou 28 anos na cadeia até sair e se tornar o primeiro presidente negro do país.
Biko, por sua vez, pagou com a vida por protestar contra o regime de segregação racial. Líder estudantil, fundou o Movimento da Consciência Negra, que capacitava e mobilizava grande parte da população negra urbana.
Preso pela polícia sul-africana em setembro de 1977, foi torturado e assassinado no cárcere aos 30 anos de idade. A música de Gabriel, ex-vocalista do Genesis, mais do que uma homenagem, se tornou um poderoso hino de protesto, que acentuou a ojeriza internacional pelo regime sul-africano, que ficava caa vez mais isolado, sendo expulso de todas as entidades mundiais.
Escutar essa nova versão de "Biko" redime e é revigorante nestes tempos duros em que o nacionalismo se mistura com racismo e opressão/discriminação tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.
Na Eurocopa, campeonato europeu de seleções masculinas de futebol, torcedores húngaros imitam macacos para jogadores franceses e portugueses negros, ao mesmo tempo em que bradam contra os homossexuais; na Inglaterra, os torcedores vaiam jogadores que se ajoelham antes das partidas em sinal de respeito à diversidade e em apoio ao antirracismo.
Que essa canção divera e multiétnica nos ajude a alcançar lucidez necessária para continuar a luta.
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