segunda-feira, 14 de junho de 2021

Paul Simon chega aos 80 anos como um cronista que enxergou seu povo como ninguém

 Marcelo Moreira e Maurício Gaia

Paul Simon (FOTO: DIVULGAÇÃO)


Para muita gente, Paul Simon é aquele baixinho que segurava o violão ao lado de Art Garfunkel e compôs algumas baladas que marcaram os anos 70: "Bridge Over Troubled Water", The Boxer" ou "The Sound of Silence".

Para outros, ele é o que colocou no mapa do mundo pop a música feita na África do Sul nos anos 80, com o estupendo "Graceland". E pouco mais que isso.

Mas um olhar detalhado sobre sua obra, seja quando ainda atuava com Art Garfunkel ou em carreira solo, revela um dos grandes compositores do século XX. 

Depois dos álbuns "Graceland" e "Rhythm of The Saints", Simon enfrentou alguns fracassos comerciais, entre eles a encenação da peça musical "Capeman" – em que ele havia investido 11 milhões de dólares, além de compor as músicas.  

Foram vários os hiatos na carreira em busca da canção perfeita e do álbum definitivo, mas isso jamais definiu ou direcionou sua carreira. Aos 80 anos de idade, Simon redescobriu há alguns anos o prazer de tocar e compor, e nada mais do que isso. Só que, para um ser poderoso como Paul Simon, não é pouca coisa.

Aqueles rapaz baixinho que ria das comparações com Bob Dylan que lhe imputavam nunca demonstrou aquela fortaleza e segurança que o "rival" folk de Greenwich Village, em Nova York. Estava preocupado demais em compor boa música. 

Por força do hábito e da necessidade, empunhava o violão e cantava as próprias canções. Na busca da voz perfeita, achou-a no rapaz alto e magrelo que cantava como um anjo. Art Garfunkel foi escalado para cantar as canções sofisticadas e encantadoras do bardo baixinho, mas quis o destino que formassem uma dupla. 

E o mundo veio aos seus pés para mostrar ao mundo que a música pop poderia produzir outro tipo de genialidade suave e outro tipo de mensagem contundente sem que ficasse caracterizada como tão contundente. 

Dylan batia e dilacerava, enquanto Simon e Garfunkel acariciavam para depois aplicar uma sorrateira rasteira - e a vítima ainda tinha de parar para entender o que acontecia.

Se Dylan era o poeta máximo do cancioneiro norte-americano, Simon, ao lado de Bruce Springsteen, é o seu cronista por excelência, cujo expoente principal talvez seja a icônica "America", que ainda hoje provoca controvérsia por conta de múltiplas interpretações - assim como "Born in USA", de Springsteen.

As visões opostas de mundo e de como a arte deve ser encaixada em nossas vidas separou o bardo baixinho do magrelo com voz de anjo. Algumas reuniões da dupla ocorreram ao longo das décadas, mas nada que ofuscasse o sucesso solo de Simon com obras geniais, como a já citada "Graceland".

Com músicas que são capazes de contar a histórias norte-americana do século passado e um olhar precioso e comovente de um país que se equilibra entre a esperança e o desalento, Paul Simon foi não só um cronista de nosso tempo, mas a voz e a mente de um tempo em que os artistas enxergavam longe. É responsável por boa parte do que de bom escutamos até hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário