E a grande imprensa e parte expressiva do público finalmente descobriu o Dream Theater e suas músicas "intermináveis" e "surreais". Depois da avalanche sonora do Iron Maiden, em forma com seus músicos se aproximando dos 70 anos, uma parcela dos espectadores, exaustos, foi embora. Quem ficou se deliciou com uma aula de música.
O repertório foi adaptado e reduzido a 80 minutos, o que fez o vocalista acelerar as coisas. Não teve a habitual conversa explicativa sobre algumas canções, e a banda não perdeu tempo emendando a abertura, "The Alien", do novo disco, com outras mais expressivas, embora sem grande impacto. A ordem era seguir um roteiro já preestabelecido na turnê "Top of the World", que passou por São Paulo.
E o repertório focou mesmo nos discos do século XX - somente "6:00", das antigas, uma canção pouco tocada e que é mais tradicional dentro do heavy metal - simples, energética e pesada.
Seus músicos fazem parecer fácil o que deixa todos de boca aberta. "Bridges in the Sky" é prog metal por excelência, mas traz uma sequência melódica cativante e um trabalho estupendo do guitarrista John Petrucci, compenetrado e concentrado como um jogador de pôquer.é agitou um pouco mais o cansado p
"Invisible Monster", mais uma do novo álbum, "A View Fronm top of the World", até agitou um pouco mais o público com seu climão de hard rock viajante, já preparando para o final do show.
A canção-título do disco novo, com seus 20 minutos de digressão progressiva extrema, obviamente foi limada, e deu lugar a "Endless Sacrifice" e "The Count of Tuscany", uma das mais belas músicas feitas pela banda.
E então veio a concessão que todos esperavam. "Pull Me Under", o único hit radiofônico e que de paradas de sucesso da banda, encerrou a primeira passagem do Dream Theater pelo Rock in Rio.
Pesada, intensa e cheia de detalhes, acordou os que ainda resistiam e finalmente mostrou que o quinteto também sabe brincar de jogar com o repertório.
Segundo uma das repórteres do Multishow, antes do espetáculo os músicos da banda comentavam com jornalistas e técnicos que o som deles até pode e complexo, mas que é diversão máxima para todos no palco.
Autoindulgência? O que eles querem é tocar. E faz 30 anos que impuseram o seu altíssimo padrão de qualidade. Não abrem mão disso e fazem questão de dizer isso com um sorriso irônico no rosto, como fez o vocalista James LaBrie em entrevista ao podcast brasileiro Ibagenscast.
Assim como o King Crimson surpreendeu com sua excelência musical em 60 minutos no edição de 2019, o Dream Theater foi o toque de qualidade extrema em um primeiro dia de rock pesado em que todo mundo resolver mostrar que é bom demais.
Do Black Pantera ao Sepultura, passando Gojira, Iron Maiden e Living Colour com Steve Vai, não teve show ruim. Bullet of My Valentine pode ter destoado um pouco, mas agradou e colocou todos para pular.
Deixar a excelência musical do Dream Theater para o fim acabou funcionando, pois os holofotes realçaram o que a magnífica banda é capaz de oferecer - por mais que tenha servido para desmistificar lendas e criar, por outro lado, mais memes e piadas com a sofisticação que lhe é peculiar.
Dream Theater nos lembra que o rock pode ser majestoso e extremamente qualificado em um mundo em que a música está cada vez mais descartável e sem valor agregado, como podemos observar na imensa maioria das atrações do festival. Quem diria que logo o Dream Theater seria o sinal da resistência do rock de verdade...
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