segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Crypta valoriza a paixão pelo palco em shows na Grande São Paulo

 Wacken Open Air (o mais importante festival de heavy metal do mundo), Rock in Rio, Sesc Belenzinho, santo André (SP)... O próximo show é ali na esquina, mesmo com um frio desgraçado e um som péssimo. O mundo pode ser o seu quintal, e vice-versa, segundo o lema de um conhecido desenho animado.

As garotas da banda Crypta encaram a montanha-russa de emoções de 2022 de uma forma tão empolgada e, de certa forma, deslumbrada, que não se importam de descer do palco depois das 22h em um parque longínquo na longínqua Santo André e curtir a adoração de mais de mil fãs que não arredaram pé: queriam um alô das meninas.

Foi a coroação de um minifestival de rock que comemorava o Dia Municipal do Rock com 11 atrações de todos os gêneros, do hard rock do Golpe de Estado ao punk do D.Z.K. e o extremo metal da Crypta.

O Parque Central Deputado José Cicote, perto do centro de Santo André, tem um anfiteatro ideal para eventos do tipo e sediou um com boa infraestrutura e mais de 10 mil pessoas, que se divertiram na tarde ensolarada e noite gelada. Pena que todo o sistema de som falhou sistematicamente, atrasando demais a programação. Nunca havia ocorrido nada parecido nos eventos das prefeituras de Santo André e São Bernardo em parceria com o Coletivo Rock ABC.

Em demonstração imensa de humildade e gana, Crypta, a atração principal, devastou o público com a quase íntegra do álbum "Echoes of the Soul" e definiu o tom politico de todo o evento, em que todas as bandas lançaram mensagens contra a excrescência presidencial, antifascismo e antirracismo.

A apresentação ao ar livre era bastante esperada depois da vitoriosa apresentação no Wacken Open Air, em julho, e na poderosa performance do Rock in Rio. "Queremos tocar onde for. A pandemia nos tirou uma parte de nossas vidas e precisamos do palco para respirar e prosseguir", disse a baixista e vocalista Fernand Lira antes de subir ao palco.

Com duas noites lotadas nos dias anteriores no Sesc Belenzinho, o quarteto de death metal chegou afiado para fechar um segmento de shows estrondosos antes de encarar uma miniturnê pelo México ainda em setembro e outubro. 

Os problemas no som do baixo e nas guitarras ameaçaram turvar o período perfeito, mas as meninas tiraram de letra e conseguiram terminar o show com vontade e determinação. Como de costume, foi devastador e violento, e impressionou a maioria do público que não as conhecia.

A violência sonora caiu na cabeça do público com porradas como "I Resign", "Starvation" e a destruição total de "From the Ashes", talvs a música mais impactante da Crypta.

Um da no Wacken, outro dia em Santo André. E daí? "E daí que o próximo show é o mais importante, seja onde for. O nosso público merece mais do que tudo e é isso que pretendemos oferecer. É inacreditável o carinho que estamos recebendo em Santo André. O clima é maravilhoso e mostra que a Crypta está no caminho certo", finaliza Fernanda Lira.

Não foi fácil entrar em cena depois do Golpe de Estado, que fez o melhor show do evento. Sofrendo menos com os problemas de som, teve a apresentação abreviada por conta dos atrasos, mas mostrou a garra e a perseverança de sempre.

Banda amada no ABC, não economizou nos hits e soube aproveitar o bom jogo de luzes para incendiar a plateia. O álbum "Caosmópolis", o mais recente, acabou sacrificado, mas "Bicho Solto" e "Tudo Quem Vem Fácil" cumprira a função de esquentar o ambiente para a sequência matadora com "Não é Hora", "Nem Polícia, Nem Bandido", "Caso Sério" e "Noite de Balada."

Cada vez mais entrosada, a banda de hard rock que comemora 36 anos de carreira soa mis pesada ao vivo, cortesia da guitarra imensa de Marcello Schevano, que empresta um timbre próprio a um caminhão de sucessos, oferecendo um outro olhar para canções eternizadas por Helcio Aguirra, o guitarrista icônico que morreu em 2014.

No restante do elenco, destaque para a banda Manger Cadavre?, de São José dos Campos (SP), com um metal moderno e agressivo encharcado de engajamento político e social e com os poderosos vocais extremos da cantora Nata de Lima.

O D.Z,K., outra banda com mais de três décadas de existência, representou o punk rock típico, com letras de protesto e um som mais pesado do que o habitual. Com um som um pouco embolado, conseguiu passar o recado e fez um show bastante divertido.

O Audiokaos seguiu na mesma linha com seu hardcore/thrash metal furioso e letras engajadas, distribuindo pancadas para todos os lados - da política partidária aos criminosos do meio ambiente. Setfire, Depressed e Demophobia driblaram os problemas om o som e fizeram shows enxutos e certeiros, mas sem grande destaque.


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