quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Iron Maiden no Morumbi: por que amamos e precisamos desta banda?

 Flavio Leonel - Do site Roque Reverso


Dois dias depois de renovar seu grande espetáculo de 2019 no Rock in Rio de 2022, o Iron Maiden voltou após 3 anos ao Estádio do Morumbi para mais um show grandioso na capital paulista. Na sua 11ª apresentação em toda a história na cidade que o vocalista Bruce Dickinson elegeu como a “capital do rock no Brasil”, a lendária banda britânica de heavy metal esbanjou na produção com riqueza de detalhes e, mais uma vez, mostrou profissionalismo exemplar.

Na fria noite do domingo, 4 de setembro, o grupo conseguiu reunir diversas gerações de fãs, que puderam saciar a saudade ampliada de shows gerada pelo período crítico da pandemia de covid-19. Grupos de várias partes do País e da América do Sul, além de crianças puxadas pelos pais, puderam ser vistos em vários pontos do estádio paulistano.

A passagem do Iron Maiden pelo Brasil fez parte da “Legacy Of The Beast World Tour – 2022”, uma extensão da turnê “Legacy of the Beast World Tour”, iniciada em 2018, com passagem por diversos países do planeta, inclusive o Brasil (em 2019), mas que foi adiada, como tantas outras, por causa da pandemia. Do período de interrupção até a retomada, em maio de 2022, a banda gravou e lançou, em 2021, o álbum “Senjutsu”.

Nesta passagem de 2022 pelo Brasil, além de tocar no Rock in Rio, o grupo se apresentou, antes de São Paulo, em Curitiba e em Ribeirão Preto.

O show de abertura em São Paulo ficou por conta da banda sueca Avatar, que não chegou a gerar grande empolgação da plateia, mas que também não chegou a ser hostilizada pelo público mais fiel e fanático do heavy metal.

Terminada a apresentação do grupo sueco, os preparativos finais para a montagem dos cenários do palco foram concluídos num curto espaço de tempo, se levada em conta a quantidade de detalhes que apareceriam ali em alguns minutos.

O espetáculo do Iron Maiden

Perto das 20h10, a já tradicional música “Doctor Doctor”, do UFO, que sempre antecede a subida do Iron Maiden ao palco, foi executada e deixou o Morumbi agitado e ainda mais ansioso. Terminado o hit, o grupo apareceu e o estádio inteiro vibrou com o retorno da “Donzela de Ferro”.

O set list apresentado foi o mesmo do Rock in Rio dias antes e trouxe no início a trinca de músicas representantes do álbum novo “Senjutsu”, incluindo a faixa-título, “Stratego” e “The Writing on the Wall”.

Tal qual o observado no show da capital fluminense, as canções trouxeram um Iron Maiden mais lento e menos empolgante que o normal, em sintonia com o próprio álbum, que não foi uma unanimidade nem mesmo entre os mais fanáticos.

Os pontos positivos nessas três foram a subida ao palco do mascote Eddie, de samurai, logo na primeira música, e a confirmação, já observada na audição do álbum, de que “Stratego” é a melhor delas, com o detalhe que é a melhor para se tocar ao vivo.

Se as três músicas foram mais mornas que o normal do Iron Maiden, a riqueza dos detalhes do cenário no palco é algo de cair o queixo, com a banda caprichando na temática japonesa do disco.

Com o término de “The Writing on the Wall”, houve uma pausa para a troca de cenário pouco comum para os shows do Iron, mas, mesmo assim, feita de maneira rápida e altamente profissional. Quem estava próximo ao palco conseguiu ver o entrosamento da equipe de apoio do grupo e ficou impressionado com facilidade como eles recolheram um cenário complexo para montar outro não menos rico em detalhes.

O primeiro clássico da noite foi “Revelations”, que dispensa comentários e fez o Morumbi cantar alto do início ao fim.

Na sequência, Bruce Dickinson conversou com a plateia. Classificou São Paulo como a “capital do rock” no Brasil e falou sobre o clima, frio, chuvoso e cinzento que fazia no domingo na cidade – algo normal para britânicos, mas um pouco fora do padrão de clima brasileiro.

Este jornalista lembra que das 11 apresentações em São Paulo feitas pela banda, perto da metade delas aconteceu com um tempo pouco convidativo. As mais “traumáticas” foram o show que o grupo fez em 1998 no Estacionamento do Sambódromo do Anhembi, que presenciou um dilúvio na abertura com o Helloween, e a apresentação no Autódromo de Interlagos em 2009, quando o lamaçal provocado pela chuva fez lembrar momentos de Woodstock.

No fim, a conversa de Bruce Dickinson serviu para dizer que, com todo o contratempo do clima, os fãs continuaram com a banda como irmãos, a deixa para tocar “Blood Brothers”, bem recepcionada pelo público, mas sem comparação com “Revelations”.

“Sign of the Cross” veio depois e, mais uma vez, a riqueza de detalhes do palco impressionou demais. Desde a cruz carregada por Bruce com luzes até o figurino do vocalista, tudo foi digno de elogio.

Foi então que a bateria de clássicos veio de vez e o público não teve como desgrudar os olhos do palco e não teve como parar de cantar. “Flight of Icarus”, “Fear of the Dark”, “Hallowed Be Thy Name”, “The Number of the Beast” e “Iron Maiden” é a típica série de faixas que toda banda sonharia ter num show.

Os já “senhores do heavy metal”, beirando os 70 anos (o baterista Nicko McBrain, já chegou aos 70!), seguiram com o jogo ganho e apenas desfrutaram a recepção do público.

Em “Flight of Icarus”, o sempre performático Dickinson usou uma espécie de lança-chamas, direcionando o fogo para o alto. Em “Fear of the Dark”, o Morumbi presenciou um dos maiores coros de sua história. Em “Hallowed Be Thy Name”, o entrosamento eterno entre os músicos para uma das músicas mais completas da banda chega a emocionar. Em “The Number of the Beast”, há a celebração da faixa que mudou o heavy metal pra sempre. Em “Iron Maiden”, a volta de Eddie, fixo e gigantesco ao fundo do palco é o típico momento que o novo fã guarda na mente pra sempre e o fã das antigas quer repetir a dose.

Pausa para um breve descanso e o Bis começa com “The Trooper” e segue com “The Clansman” e “Run to the Hills”. A primeira tem a batalha de espadas de Bruce com Eddie, a segunda tem uma tela de fundo de palco que está entre as mais bacanas feitas pelo Iron Maiden e a terceira é mais um clássico imprescindível na carreira da banda.

Tudo isso feito por senhores com uma invejável disposição e a qualidade de sempre. Bruce pode até não cantar mais como o garoto dos primeiros álbuns (o que acontece com todos os vocalistas com mais de 60 anos), mas sabe conduzir o show como poucos. O baixista Steve Harris continua com uma energia impressionante aos 66. Nicko dosa o show como se estivesse brincando, sem deixar de mostrar sua técnica. Os guitarristas Adrian Smith, Dave Murray e Janick Gers constroem a sonoridade do cultuado Iron Maiden.

Terminado o primeiro Bis, o Iron fez uma nova breve pausa e voltou com “Aces High”, que trouxe para encerrar o show a mesma réplica de avião gigante e espetacular que abriu os shows da turnê anterior à pandemia.

Chegava assim ao fim mais uma grandiosa apresentação da banda que popularizou o heavy metal e ensinou gerações a admirá-la. Mantendo a tradição, os fãs saíram do local do show satisfeitos e com mais histórias para contar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário