Dois gigantes 'colidem', e o Rock in Rio acerta em cheio com Living Colour e Steve Vai

 A colisão de gigantes da guitarra produziu um show histórico no Rock in Rio. Vernon Reid e Steve Vai mostraram que os opostos se completam quando a arte predomina. E o entendimento entre os dois guitarristas surpreendeu até os mais otimistas.

A junção entre um dos mais cultuados do rock pesado e a melhor banda formada por negros desde os Bad Brains foi um acerto e tanto. Vai e o Living Colour habitam mundos diferentes, mas que conseguem dialogar de forma perfeita. 

E o suingue dominou a cidade do rock. Vernon Reid, o mago do Living Colour, "coloriu" o ambiente com sua paleta variada de influências, enquanto que o experimentalismo de Steve Vai deu contornos diferentes ao groove encharcado de blues e soul do Living Colour.

O tributo a Jimi Hendrix foi desvirtuado e distorcido e cresceu com a união. "Crosstown Traffic" teve duelo de guitarras, mas sem as "guitarrices" em relação ao virtuosismo. E a pista inteira dançou.

"Cult of Personality", um dos clássicos do Living Colour, ficou bem mais pesada e técnica, enquanto que "Rock and Roll", do Led Zeppelin, os dois guitarristas surtaram e e a transformaram em um rock mais intenso e versátil, também encharcado de blues. Vai deu um banho de qualidade e Reid destruiu nos solos.

Enquanto o Living Colour tocou sem Vai, o destaque foi "Desperate People", que foi dedicada à ex-vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em 2018. É notória a postura progressista da banda, formada por quatro músicos negros engajados e ganharam o público, que fez vários protestos contra o presidente nefasto Jair Bolsonaro. A música se tornou um hino imediatamente.

Impecável, o quarteto derramou uma série de canções dramáticas e emblemáticas, como a contundente "Ignorance Is Bliss" e o hino "Type", e então foi desfilar a elegância de Corey Glover, o maravilhoso vocalista, a precisão suingada do baterista Will Calhoun e o ritmo intenso e estrondoso do baixista Doug Wimbish. "This Is the Life", com Steve Vai, na parte final do show, foi o grande ponto alto de um show memorável.