quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Jon Lord, um gigante supremo do rock

A tarde estava meio fria, com um vento chato soprando o Vale do Anhangabaú. E aquele senhor elegantemente trajado com blazer apenas observava os músicos da miniorquestra se posicionarem no palco imenso das imediações da avenida São João.

"Esse projeto é maravilhoso, leva a música diretamente ás pessoas. Jamais imaginei que estaria aqui, no Brasil, vendo o interesse das pessoas em música erudita no meio da rua, em um festival", admirou-se o maestro, tecladista e pianista Jon Lord, então atração da Virada Cultural de São Paulo de 2009.

Culto, elegante e generoso, Jon Lord ajudou a criar o especialíssimo Deep Purple, onde tocou até 2001, e tinha verdadeiro prazer em disseminar a cultura e levá-la aonde a música o levasse. 

Muitos disseram que era um corpo estranho dentro do rock, mas na verdade ele sempre esteve no lugar certo e, por isso, se tornou um cultuado músico e compositor atemporal Justamente por essa característica é que receberemos, abril de 2023, o evento "Music of Jon Lord", encabeçado por Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden e admirador profundo do tecladista.

Conhecido por ter integrado as bandas Deep Purple, Whitesnake, Paice, Ashton & Lord, The Artwoods e Flower Pot Men, Jon Lord foi um compositor, pianista e organista, considerado o pioneiro na fusão do
rock com música clássica.

Em 1968, Lord fundou a banda de rock inglesa Deep Purple. Ele e o baterista Ian Paice foram os únicos integrantes constantes da banda durante a fase inicial da sua existência (1968-1976) e, a partir do
momento em que eles refundaram a banda, em 1984, até a saída de Lord em 2002. O guitarrista Ritchie Blackmore também foi um dos fundadores do grupo.

O Deep Purple teve início em 1968, com o nome Roundabout. A primeira formação lançou três discos de pouca repercussão - "Shades of Deep Purple", "The Book of Taliesyn" e o álbum homônimo "Deep Purple". O nome definitivo foi sugerido por Ritchie Blackmore, e retirado de uma música
que a sua avó gostava. Também estavam na banda o cantor Rod Evans e o baixista Nick Simper.

Em 1969, resolveram arriscar uma mudança no direcionamento musical da banda, convidando o vocalista Ian Gillan e o baixista Roger Glover, passando a buscar um estilo que misturasse música clássica europeia ao hard rock, que surgia na Inglaterra, com bandas como Yardbirds e Led
Zeppelin. 

O primeiro álbum com esta formação, foi exatamente "Concerto for Group and Orchestra", que foi recebido com respeito, mas um pouco de estranheza pela crítica. Não foi, todavia, um grande sucesso de
público.

Dariam uma virada de 180 graus em 1970, com o álbum "Deep Purple in Rock", que com seu hard rock direto e bem feito, rapidamente chegou ao topo das paradas, transformando imediatamente o Deep Purple em uma banda muito conhecida e influente. São deste disco alguns dos primeiros grandes clássicos da banda, "Speed King" e "Child in Time".

O álbum "Fireball", de 1971, confirmou o sucesso da banda, e com "Machine Head" (um dos clássicos do rock de todos os tempos, lançado em 1972) o Purple atingiu o auge de sua fama. Constam deste álbum dois de seus maiores hits, o hino "Smoke On The Water" (com o riff mais marcante da
história do hard rock) e "Highway Star". A turnê que se seguiu rendeu outro álbum clássico, o ao vivo "Made In Japan". 

Quando decidiu sair da banda Lord afirmou: "Foi terrível sair. Era a minha banda, eu era um membro fundador e os caras eram grandes amigos meus. Eu passei noites e noites sem dormir, mas percebi que estava começando a gostar menos da situação e ficando apenas acostumado com a mesma. De repente me descobri pensando que não gostaria de tocar noite após noite, e quando percebi aquilo, eu sabia que tinha de tomar uma decisão. Eu verifiquei se seria possível tirar um ano de férias, mas eles disseram que não achavam isso viável. Então eu disse que, naquele caso, teria de sair."

Houve uma pausa na banda entre 1976 e 1984, quando ela voltou com a formação clássica. Em 2002, sairia definitivamente, da dno lugar a Don Airey (ex-Rainbow, ex-Ozzy Osbourne). Em 2004, gravou um single chamado "The Sun Will Shine Again" com Anni-Frid Frida Lyngstad, ex-integrante do
grupo sueco Abba. Jon Lord morreu em Londres, aos 71 anos de idade, em 2012, em consequência de um câncer no pulmão.

O Concerto

"Concerto for Group and Orchestra" surgiu como um álbum ao vivo do Deep Purple, com a participação da Royal Philharmonic Orchestra, dirigido por Malcolm Arnold e gravado no Royal Albert Hall de Londres, em setembro de 1969. 

Composto por Jon Lord, com algumas poucas letras escritas por Ian Gillan. É o primeiro álbum completo a apresentar o vocalista e Roger Glover no baixo. Foi lançado em vinil em dezembro de 1969. A apresentação foi uma das primeiras combinações de rock com uma orquestra completa.

Dividida em três movimentos, a partitura original do concerto foi perdida em 1970, e foi recriada em 1999. Em 25 e 26 de setembro deste ano, 30 após sua apresentação inicial, o "Concerto" foi
novamente apresentado ao vivo no Royal Albert Hall. 

Para tornar essa performance possível, uma nova partitura foi criada por Lord com a ajuda de Paul Mann e Marco de Goeij, ouvindo a gravação e assistindo ao vídeo da performance de 1969. 

Encorajado pelo sucesso das apresentações de 1999, o Deep Purple levou o "Concerto" em turnê,
primeiro apresentando-o na América do Sul com orquestras locais, depois na Europa com a George Enescu Philharmonic Orchestra, e no Japão com a New Japan Philharmonic Orchestra, todas conduzidas por Paul Mann.

Em 24 de setembro de 2009, Jon Lord juntou-se à RTE Concert Orchestra no National Concert Hall, em Dublin, na Irlanda para comemorar o 40º aniversário da primeira apresentação do Concerto. Também foram apresentadas peças da carreira solo de Jon Lord e várias músicas do Deep Purple.

Em outubro de 2012, foi lançada uma versão de estúdio do "Concerto". A gravação apresenta a Royal Liverpool Philharmonic Orchestra conduzida por Paul Mann. Os solistas são Jon Lord no orgão, Darin
Vasilev, Joe Bonamassa, Steve Morse na guitarra, Steve Balsamo, Kasia Łaska e Bruce Dickinson no vocal, Brett Morgan na bateria e Guy Pratt no baixo. 

O disco foi mixado no Abbey Road Studios no final de maio de 2012 e de acordo com Paul Mann, Jon Lord ouviu a master final da gravação alguns dias antes de sua morte em 16 de julho de 2012.

Sobre a gravação Lord afirmou: "Ao longo destes últimos anos, desde que deixei o Deep Purple, eu toquei mais de 30 vezes com orquestras e maestros diferentes em todo o mundo, e, claro, eu fiz isso bem mais de 30 vezes com o Purple na turnê Concerto, de modo que fui aprimorando a peça ao vivo no palco e tive a oportunidade de mudar as coisas na pontuação que não estavam soando muito bem. É, portanto, uma perspectiva maravilhosa e emocionante ter a gravação definitiva da
versão definitiva da partitura".


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