quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Tim Maia, 80 anos: flertes com o rock foram poucos, mas intensos

Marcelo Moreira e Mauricio Gaia

Tim Maia conheceu a gênese do rock and roll bem de perto. Adolescente, morou nos Estados Unidos no fim dos anos 50 e aprendeu toda a arte da música negra, em todos os sentidos, na Costa Leste. O rock não lhe chamou muito a atenção, mas ficou impregnado em sua alma.

Ele faria 80 anos neste dia 28 de setembro. Muita gente graúda afirma que, tivesse optado pelo rock, teria sido um dos maiores de todos os tempos, principalmente se tivesse permanecido nos Estados Unidos - da mesma forma que muita gente acredita em relação a Elis Regina, a maior de nossas cantoras.

A maior voz masculina do Brasil era um fanático pela música brasileira, a quem emprestou a "alma" (soul music) da música negra americana. Inigualável e talentoso além da conta, intimidava a concorrência e fazia com que qualquer música ficasse "fácil" de cantar e em versões tão definitivas que ninguém se atrevia a interpretá-las depois. 

Trovejante, irascível, generoso, inteligente e fenomenal. Os adjetivos são muitos, assim como a quantidade de presepadas que protagonizou por conta do gênio difícil. Sabia que era bom e utilizava seu prestígio para arrancar o que pudesse para engordar a conta bancária, na hilária prosa de um de seus amigos, o escrito e jornalista Nelson Motta.

Sendo assim, agia como um rockstar quando decidia atrasar a entrada no palco ou, simplesmente, não aparecer. O cacife era grande, mas minguou com o tempo à medida em que as presepadas iam se sucedendo.

Mais versátil e aberto a experiências musicais diferentes com o passa do tempo, pretendia voltar a gravar em inglês quando de sua morte, em 1998, aos 56 anos de idade. Cogitava escolher um repertório que incluía versões de grandes nomes da música negra norte-americana, segundo pessoas próximas, e o rock estava no radar.

Durante a carreira, a soul music sempre esteve presente, cm um acento pop irresistível. Entretanto, teve um rápido flerte com o pop de inspiração menos comercial e accessível e que esbarrou no rock.

Sim, o síndico teve uma fase mística. Tim Maia foi um exemplar cantor pop brasileiro, transitando por vários gêneros musicais com bastante competência. 

Inquieto e extremamente criativo, decidiu dar uma guinada artística por conta de uma mudança radical na sua filosofia de vida, abrindo as portas para a religiosidade. Foi o início de sua vida "racional", 47 anos atrás. 

No final de 1974, Tim Maia estava no auge da sua fama até o momento e acabara de ser contratado pela gravadora RCA Victor para gravar um álbum duplo, um privilégio para poucos artistas naquela época.

De repente, em um "repentino" surto religioso, ele se converte à Cultura Racional, uma obscura seita do subúrbio do Rio de Janeiro.

E então passa a abolir drogas e exageros mundanos e convence toda a sua banda a aderir a viagem rumo ao "Caminho do Bem". As bases já gravadas do disco recebem letras que divulgavam apenas os preceitos da seita e o álbum é lançado em dois volumes de forma independente por um selo criado por ele mesmo, a SEROMA (SEbastião ROdrigues MAia).

Assim começa a história de um dos períodos mais controversos, mas ao mesmo tempo um dos mais criativos de toda a sua carreira. Durou pouco, dois disco e menos de dois anos, mas representou um ponto alto em sua carreira.

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