Roger Waters é um artista corajoso, ainda que inconsequente e impulsivo. Tem o grande defeito de achar que esta sempre certo e que é um farol do rock. Entre suas virtudes, está o discernimento para abraçar quase sempre as causas certas pelos motivos certos.
Como artista corajoso, o ex-baixista e vocalista do Pink Floyd não se furta a cutucar líderes mundiais e religiosos antes, durante e depois de turnês.
É um ardente defensor dos palestinos em sua perpétua e inglória luta contra Israel; é um defensor ferrenho da democracia e da justiça social; propaga ideias bem avançadas de redução da desigualdade social. Por outro lado, apoia e justifica as ações fascistas e autoritárias de países como Rússia e China.
Surpreendeu o mundo ao tomar partido contra a Ucrânia, culpando esse país por sofrer a invasão da vizinha Rússia. Foi além ao dizer que a China tem razão ao ameaçar e intimidar a ilha independente de Taiwan - considerada uma província rebelde pelos chineses. São dois equívocos monstruosos e inexplicáveis do músico inglês.
É essa figura contraditória e impulsiva que transparece em interessante entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo e publicada nesta quarta-feira na coluna de Monica Bergamo.
Waters desfila seus equívocos, mas acerta grandiosamente ao investir contra o extremista Jair Bolsonaro (PL), candidato á reeleição no Brasil - com grandes chances de ser derrotado já no primeiro turno.
"Bolsonaro é um porco fascista convicto", dispara o músico de forma contundente. "Esperamos que as pessoas tenham aprendido a lição e comecem a aprender que a falsa promessa 'eu sou o homem forte, cuidarei de você', enquanto ferra os outros, não vale nada na realidade."
No caso do Brasil, com uma lucide impressionante, o músico inglês se mostra bastante informado sobre a situação do país e culpou diretamente o governo Bolsonaro pelo desastre na vacinação da covid-19 - são 687 mil mortos desde 2020, atrás somente dos Estados Unidos.
Ciente do descalabro político-administrativo que o atual governo representa, assinou um manifesto internacional que pede a preservação da democracia no Brasil encabeçado pelo escritor e pensador americano Noam Chomsky. Na entrevista, ele vai além: "Manter a democracia significa eleger Luiz Inácio Lula da Silva e levar adiante as ideias e posições encampadas por gente como a vereadora assassinada Marielle Franco".
Roger Waters é uma ave rara em um meio artístico onde músicos expressivos perderam a vergonha de demonstrar ignorância ao criticar vacinas e campanhas de isolamento social por conta de um vírus mortal.
Posiciona-se claramente quando seus pares pensam apenas nos próprios bolsos - são vários os que fizeram shows na África do Sul, na época do odioso apartheid, do regime racista, e que fazem shows em Israel, que a cada ano acirra a opressão contra os palestinos em gaza e na Cisjordânia.
Seus ataques a Bolsonaro são extremamente importantes porque reforça a visão negativa e antidemocrática que predomina no exterior obre o Brasil. E serve de mais pressão para que o nefasto presidente seja apeado do poder.
Entre equívocos gigantescos e acertos estrondosos, que Roger Waters continue servindo de inspiração político-social dentro do rock - mesmo que continue se achando um dos "faróis" da humanidade.
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