quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Sem vocação conservadora, rock precisa de um futuro e (re)encontrar seu público

O rock conservador tem lugar na vida cultural do país e do mundo? O assunto não costuma ter conclusão e os debates viram o show de horrores que costumamos ver nas políticas partidárias de vários países, e principalmente no Brasil.

O roqueiro conservador deveria ser uma minoria, ua coisa exótica e apenas curiosa, mas existem espécimes além da conta nos Estados Unidos e na Inglaterra - sempre foi comum por lá, mas muito mais explícito com a chegada da pandemia de covid-19 e o consequente (e necessário) isolamento social.

Por defnição e por evoução histórica, o rock conservador é um anacronismo e um contrassenso, ja que embute as ideias de contestação, ativismo, rebeldia e crítica ao sistema, seja ele qual for.

Mas como combinar esses fatores com a gênese roqueira da América Latina, por exemplo, onde na maioria dos lugares o rock and roll foi abraçado pela classe média?

No Brasil foi assim. A classe média mais antenada e descolada dos anos 50 e 60 aderiu à novidade norte-americana, surgifa entre os negros do blues, a base da pirâmide social, e assimilada pela classe trabalhadora branca mais pobre e simples. É só verificar a origem social dos principais nomes do gênero nos Estados Unnidos e também na Inglaterra.

Em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Salvador foram os filhos de lasse média bem criados que começaram a disseminar o rock com certas doses de contestaçao e rebeldia, mas somente até a página 3.

Excetuando-se uma parcela expressiva dos nomes ligdos ao punk brasileiro e ao metal, o rock foi essencialmente algo de classe média, e de uma classe média típica, conservadora nos costumes e nem tanto na cultura. 

Não surpreende que artistas que se dedidacaram ao gênero nos anos 70 e 80 tenham se tornado ressentidos e fossilizados no século XXI. 

Integrantes do Ultraje a Rigor e o cantor Lobão, por exemplo, espécimes de uma legítima classe média, se fartaram nos bônus do mercado fonográfico favorável ao mesmo tepo em que exalavam imagem de polêmicos, rebeldes e até contestadores, até que caíssem no pior do conservadorismo político e de costumes, a ponto de se ligarem à extrema-direita.

Por isso é que causou mal-estar além da conta a declaração do professor de história Fábio Cascadura a respeito do assunto. De forma direta, decretou algo que  everia ser óbvio em recente entrevsta ao site da revista Carta Capital: (https://www.cartacapital.com.br/blogs/augusto-diniz/o-rock-nao-tem-vocacao-conservadora-e-quem-assim-pensa-esta-enganado-diz-fabio-cascadura/?fbclid=IwAR1u6IKNONag-5teLPpmobYvq8T4sG1flVpMmObnQ3vojNX-EBCqE3gLkOI) "O rock não tem vocação para o conservadorismo e se engana quem pensa desta forma."

Cascadura foi líder e vocalista da banda baiana Cascadura, uma pioneira na mistura de punk, hardcore e música regional nordestina. Existiu por 25 anos até que o músico se mudasse para o Canadá. Bolsista, estudou história em Toronto, onde faz doutorado e lidera uma série de estudos.

Suas afirmações trouxeram a ira de um grupo de músicos e roqueiros inconformados com o ue consideraram uma "lacração" do ex-músico e desde sempre professor de história. Por que o apreciador de rock não pode ser conservador?

De forma simples e direta, porque não pode. É uma afronta ao bom senso e à história em si. É brigar contra realidadeos, contra os fatos, contra a notícia. Rock adesista ao sistema e subserviente aos poderosos e aos governos não é rock, não é arte, não é nada.

Roqueiro conservador costuma ser um personagem ignorante e contraditório. Desconhece a origem o que escuta e não entende o que escuta. Reclama do Pink Floyd quando descobre o significado de álbuns como "Aninals" e "The Wall". Fica irritado quando percebe, tardiamente, que o Motorhead sempre chutou as canelas o tempo todo, sobretudo do mundo conservador americano e britânico.

É contraditório quado clama pela liberdade e adora bandas libertárias - mesmo quando não sabe disso -, mas se incomoda quando essas mesmas bandas, ou outras mais ativistas, pedem liberdade ou lutam por ela. E fala mal de de Rage Against the Machine e System of a Down, que são engajadas até a medula óssea.

Ou seja, a liberdade que vale é apenas a do rocueiro conservador, e não a do ativista e engajado, que quase sempre é antirracista e antifascista...

O professor Fábio Caascadura, ex-líder de banda libertária, engajada e ativista, consegue enumerar uma dezena de motivos para estabelecer que rock conservador não faz sentido, não só por não ter vocação, mas por ser uma contradição em si.

"Tive um período de intensa pesquisa sobre esse tema ainda antes de ingressar no curso de história. Meu interesse pelo rock me levou a buscar referências africanas nele, já que ele é fruto da tradição cultural da música negra do sul dos Estados Unido", diz Cascadura. "O componente social do rock é muito forte e explícito, com carga crítica e intensa posiçõ de oposição."

De fora simples, ao estudar a diáspora africana desde o século XVII, Cascadura estabelece analogias e seelhanças entre as culturas tribais e as fundações do rock nos Estados Unido, a partir de não vo blues, e não vê paralelos que possam explicar ou justificar tendências conservadoras no gênero musical.

Que haja uma tentativa de enxertar conceitos neoliberais no meio roqueiro, fruto da indústria do entretenimento cooptada pelo capitalismo, faz algum sentido, principalmente pela enorme fonte dinheiro e de lucros que se tornou. 

Ainda assim, imputar um aspecto conservador puramente econômico não invalida as outras características que afastam o rock do mundo conservador nos aspectos ideológico, político e de costumes.

Quando a coisa descamba para o lado da extrema-direita e o fascismo, com ataques à democracia e elogios ao autoritarismo e à censura feitos por supostos roqueiros e artistas totaomente equivocados, percebemos a total falta de sintonia dessa gente com a realidadece. E aí que fica escancarado que o conservadorismo no rock não faz nenhum sentido, chegando a ser ofensivo diante de tanta ignorância.

Essa guinada de pensamento conservador em uma juventude nem tão jovem a parti dos aos 2000 justifica, em parte, a perda de apelo o rock, que tem cada vez menos espaço em quase todos os ambientes. 

Quando roqueiros de peso começam a admitir que a funkeira Anitta é muito mais roqueira do que a maioria, em termos de engajamento, ativismo e rebeldia, é sinal de que o gênero se seus fãs estão mergulhados em um abismo profundo. 

Não ´por outro motivo que o rap é muito maispróximo dos jovens há mais de 20 anos, falando a linguagem do jovem e abordando os temas que são mais caros aos jovens de periferia e que ansieam por uma sociedade com mis diálogo e menos desigualdade social.

"Fomos uma banda muito consciente do nosso lugar a serviço do combate ao racismo, à misoginia e à homofobia. O rock não tem vocação conservadora e quem assim pensa está enganado", vaticina o professor Fábio Cascadura. 

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