segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Rock in Rio: resumo do primeiro dia, o único com rock de verdade

 Do site Roque Reverso

Considerado a data “mais rock” do festival, o primeiro dia do Rock in Rio 2022 não decepcionou e trouxe bons shows, tanto das bandas veteranas como das mais novas, tanto no Palco Mundo como no Palco Sunset. O público que esteve presente na Cidade do Rock na sexta-feira, 2 de setembro, viu mais uma exibição clássica do Iron Maiden, com a renovação do espetáculo visto em 2019 no mesmo evento.

Assistiu ainda ao Living Colour, ao lado do guitarrista Steve Vai, fazendo o melhor show do dia. E testemunhou o Gojira brilhando e mostrando o motivo de ser atualmente considerado um dos bons novos nomes do heavy metal.

A chamada “Noite do Metal” ou “Dia do Metal” ainda contou com uma aula de música do super competente Dream Theater, uma exibição digna do Sepultura com a Orquestra Sinfônica Brasileira e um desfile de clássicos do heavy metal com o Metal Allegiance, supergrupo formado por músicos de grandes bandas do estilo.

Também empolgaram bastante a apresentação do grupo Bullet For My Valentine e o show que reuniu as bandas brasileiras Black Pantera e Devotos.

Chamou a atenção também o fato de as apresentações começarem pontualmente e com uma boa alternância entre os Palcos Sunset e Mundo na passagem do dia para a noite. Neste quesito, falou mais alto a experiência de um festival com mais de 35 anos de tradição.

Iron Maiden
 
Principal nome do dia, o Iron Maiden manteve no Palco Mundo a tradição de grandes espetáculos no Rock in Rio. Penúltimo nome da noite a se apresentar, a lendária banda britânica de heavy metal trouxe um palco que mesclou o usado em 2019 no mesmo festival com os elementos e detalhes do mais recente álbum do grupo, “Senjutsu”, lançado em 2021.

Por sinal, foi com três músicas do disco novo e um palco com temas tradicionais japoneses que a Donzela de Ferro abriu o show. “Senjutsu”, “Stratego” e “The Writing on the Wall” serviram para representar o novo trabalho, como direito ao mascote Eddie, de samurai, subindo ao palco logo na canção de abertura.

Com exceção da boa “Stratego”, as primeiras músicas trouxeram um Iron Maiden mais lento e menos empolgante que o normal, em sintonia com o próprio álbum, que não foi uma unanimidade nem mesmo entre os mais fanáticos.

Mas quem tem a carreira de mais de 45 anos como o Iron Maiden tem várias cartas na manga e costuma entrar nos shows com elas prontas para levantar o público. O clássico maravilhoso “Revelations” estava ali para mudar o curso da apresentação, assim como tantas outras músicas que transformaram o heavy metal.

Após o grupo tocar as menos badaladas “Blood Brothers” e “Sign of the Cross”, o show de clássicos fez a festa do público, com músicas que dificilmente saem das turnês recentes da banda.

“Flight of Icarus”, “Fear of the Dark”, “Hallowed Be Thy Name”, “The Number of the Beast” e “Iron Maiden” vieram para mostrar pela enésima vez o motivo de o Iron Maiden ser o que é.

Todas elas vieram acompanhadas por um show de detalhes incríveis que já haviam sido observados na turnê passada da banda pelo Brasil e que também haviam sido apresentados no Rock in Rio anterior.

Desde o lança chamas manual usado pelo vocalista Bruce Dickinson em “Flight of Icarus” até o gigante Eddie que apareceu ao fundo do palco em “Iron Maiden”, os detalhes teatrais foram os mesmos, mas ninguém reclama de coisa boa e bem feita.

No primeiro Bis, espaço para “The Trooper”, “The Clansman” e “Run to the Hills”. No segundo, o fechamento com a grande “Aces High”, que trouxe para encerrar o mesmo avião gigante e espetacular que abriu os shows da turnê anterior à pandemia.

É impossível não falar da performance de Bruce Dickinson durante o show. Sim, com 64 anos de idade, ele já não consegue ter o mesmo vocal nas notas mais difíceis como fazia de maneira incomparável nos Anos 1980. Mas sua energia, sua maneira performática e sua tentativa de entregar o máximo possível não pode deixar de ser mencionada.

O mesmo, sim, pode ser direcionado ao restante da banda. Com 66 anos, Steve Harris parece um “adolescente” ao conduzir seu baixo.

Nicko McBrain toca sua bateria com maestria, assim como os guitarristas Adrian Smith, Dave Murray e Janick Gers constroem a sonoridade da Donzela de Ferro.

Se o Rock in Rio é sinônimo de tradição nos festivais, o Iron Maiden no Rock in Rio é uma peça que tradicional no festival. E se a banda vier nas edições seguintes ninguém vai reclamar, pois até serve de inspiração para todas as demais participantes.

Living Colour & Steve Vai


Com expectativa de ser um dos grandes shows do evento, o encontro entre o Living Colour e o guitarrista Steve Vai ratificou em cheio as previsões. Tocando no Palco Sunset, que tem a tradição de misturar artistas distintos, o grupo e o músico fizeram uma apresentação gigantesca e que tende a ser considerada uma das melhores de todo o festival.

Com seus clássicos e o virtuosismo do guitarrista Vernon Reid, o Living Colour iniciou seu show sozinho, ainda sem Vai, mas com a exibição grandiosa de sempre. Mestres do improviso e no entrosamento, os músicos deram uma aula musical em diversos momentos.

O que já era bom ficou ainda melhor com a vinda de Steve Vai ao palco. Com dois guitarristas de outro mundo, o público ganhou de presente covers de obras clássicas: nada menos que “Rock and Roll”, do Led Zeppelin, e “Crosstown Traffic”, de Jimi Hendrix.

Para fechar, simplesmente a ótima “Cult of Personality”, com direito ao vocalista Corey Glover, outra figura importantíssima do show, cantando na divisa da pista com o palco, para delírio dos fãs presentes. E ainda teve mensagens para golpistas que não acreditam ou sabotam a democracia no Brasil.

No balanço final, a certeza de que o show de Living Colour e Steve Vai foi o melhor da noite, poderia ter sido até mais longo e deveria estar no Palco Mundo.

Gojira

Escalado para substituir o Megadeth no Palco Mundo, o grupo francês Gojira tinha a responsabilidade justamente de se apresentar na sequência do ótimo show do Living Colour com Steve Vai.

Para quem não conhecia a banda ou duvidava de sua capacidade para encarar o Palco Mundo, o Gojira não somente surpreendeu como mostrou que não é apontado como nome importante do heavy metal atualmente por acaso.

Liderada pelo vocalista Joe Duplantier, o Gojira trouxe um som de primeira ao Rock in Rio, com o peso e as mensagens antenadas com o futuro do planeta.

Alguns dos destaques do show foram as músicas “Silvera” e “Amazonia”, respectivamente dos discos mais recentes “Magma”, de 2016, e “Fortitude”, de 2021.

Com um som marcante e pesado de baixo e guitarra e uma bateria sensacional de Mario Duplantier, o Gojira brilhou no Rock in Rio e, no mínimo, ganhou novos fãs.

Dream Theater

Se o Gojira teve a responsabilidade de fazer o show na sequência da apresentação do Living Colour com Steve Vai, o Dream Theater tinha como missão simplesmente tocar depois do Iron Maiden. Após o espetáculo da Donzela de Ferro, não é qualquer banda que consegue manter o nível.

Diferenças musicais à parte, a banda norte-americana de heavy metal progressivo deu uma aula para o público que aguentou ficar além da meia-noite na Cidade do Rock.

Com longas músicas, uma delas (“The Count of Tuscany”) com nada menos que quase 20 minutos, o Dream Theater estreou no Rock in Rio de maneira marcante com a sua experiência de seus mais de 30 anos.

Com cenários extremamente bem feitos por meio de projeções visuais, a banda foi apreciada com admiração pelo público.

Muita gente, claro, depois do Iron Maiden e com o horário avançado, acabou saindo do show, mas aí era uma questão de escolha e condição física, após um dia quase inteiro na Cidade do Rock – e quem já foi a um Rock in Rio sabe o quanto de energia é gasta ali.

Sepultura e Orquestra Sinfônica Brasileira

Figura já tradicional no Rock in Rio, o Sepultura fez uma apresentação digna ao lado da Orquestra Sinfônica Brasileira, abrindo o Palco Mundo. Somando músicas da carreira do grupo com obras clássicas de gente do naipe de Igor Stravinsky e de Vivaldi, o show foi mais um dos grandes momentos do festival na capital fluminense.

Destaque, mais uma vez, para a performance alucinante do baterista Eloy Casagrande, que até precisou em alguns momentos se conter para que o entrosamento com a orquestra não fosse prejudicado.

Apesar de sempre arriscada (e já vimos isso com o Metallica), é sempre interessante ver esta união musical, que pode até não agradar os mais radicais, mas que se tornam grande experiências para quem gosta de boa música.

Metal Allegiance, Bullet For My Valentine e Black Pantera & Devotos

Presentes no Palco Sunset, o supergrupo Metal Allegiance, a banda Bullet For My Valentine e os grupos brasileiros Black Pantera e Devotos também tiveram momentos muito interessantes e deixaram seus respectivos nomes na história do Rock in Rio de maneira positiva.

Formado pelo lendário baterista Mike Portnoy (ex-Dream Theater), acompanhado do guitarrista Alex Skolnick e do vocalista Chuck Billy (ambos do Testament), do vocalista John Bush (ex-Anthrax e atual Armored Saint), do guitarrista Phil Demmel (ex-Machine Head) e do baixista Mark Menghi, o Metal Allegiance trouxe clássicos do heavy metal em série e contentou os fãs presentes.

Destaque para as covers do Anthrax e do Testament, como, respectivamente, “Room for One More” e “Into the Pit”.

No caso do Bullet For My Valentine, havia uma grande ansiedade entre os fãs da banda, já que ela estava prevista para o Rock in Rio de 2013, mas foi obrigada a desistir de se apresentar na ocasião.

Este detalhe, somado ao período longo sem shows da pandemia, só aumentou a vontade do público fã da banda encontrá-la no Rock in Rio.

Escolhida para fechar os shows do Palco Sunset, o grupo agitou de maneira intensa a plateia e provou o motivo de estar ali.

Com a responsabilidade de abrir as apresentações do dia no Palco Sunset, o Black Pantera foi a chama que o Rock in Rio precisava para avisar que o festival estava começando. Com uma performance pesada e com letras politizadas e essenciais. o grupo caiu imediatamente no agrado do público, que aproveitou o momento para “homenagear” o atual presidente da República com gritos a plenos pulmões.

Destaque para a música “Fogo nos Racistas”, que levantou o mais frio dos espectadores e telespectadores e ainda foi acompanhada por labaredas em frente ao palco.

Orgulho do underground brasileiro, a banda Devotos subiu para dividir o palco com o Black Pantera e trouxe também grandes momentos para a apresentação.

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