domingo, 11 de setembro de 2022

O rock contra a rainha: a monarca também superou punks e pós-punks

 A rainha dobrou e domou o rock, que sempre se sentiu atraído pela realeza britânica, mas houve quem desafiassse a corrente e transformasse Elizabeth II, morta na semana passada aos 96 anos, em alvo frequente da ira de um povo desalentado e sem emprego.

Beatles, Mick Jagger, Elton John e mais um monte de roqueiros clássicos ganharam comendas e se tornaram "sir", mas a molecada punk inglesa não deu sossego à rainha mais longeva do Reino Unido.

O moimento punk inglês, ao contrário do americano, deu sentido polítitico e estético ao que pode ser chamado de "movimento". Se o Ramones deram o caminho musical com canções básicas e sem rebuscamento, as bandas inglesas tomaram deles a urgência e a fúria para mudar a história da música pop.

A rainha era o alvo, mas na verdade o que se queria questionar e destruir era o modo de vida e a política econômica de um país em crise, endividado e empacado, com altos índices de desemprego, de desalento e mesmo de pobreza absoluta.

O Reino Unido de 1976 convivia com a falta de oportunidades e perspectivas, com fábricas fechando e muita gente desocupada, além de uma guerra sem fim com os terroristas do IRA (Exercito Repubicano Irlandês, em inglês). 

Os partidos Trabalhista e Conservador se revezava m no poder e nada de as coisas melhorarem, o que só ocorrer, ironicamente, nos anos 80 com a conservadora Margaret Thatcher, que aplicou um choque livberal em seus 14 anos de governo.

As coisas realmente melhoraram para parte da população, mas a juventude ainda sentia os efeitos de uma política voltada para o mercado e para os negócios, enquanto que a geração de empregos não foi o suficiente para aplacar as necessidades de uma nova geração.

O punk britânico, portanto, elegeu a figura da rainha como alvo de todos os males políticos e econômicos por volta de 1977, o ano em que Sex Pistols estouram e divulgam o hit "God Save de Queen" detonando as instituições e mostrando o anacronismo de se conviver às portas do século XXI sob a égide de uma instituição do século X.

Sex Pistols, Buzzcocks, The Damned, The Clash e muitas outras bandas malharam a monarquia, que representava o sistema falido e grotesco no qual a miséria e a falta de esperança grassavam. "Não há futuro/Nos sonhos da Inglaterra/Não deixe que digam o que você quer/Não deixe que digam o ue voc~e precisa/Deus salve a Rainha/o regime fascista/eles te fizeram de idiota", berrou Johnny Rotten, vocalista dos Sex Pistols.

Bem mais estranha era a relação de The Smiths com a monarquia. "The Queen Is Dead", de 1986, talvez seja o mais conhecido disco da banda de Manchester, e a canção-título transborda amargura, ressentimnto e sarcasmo contra uma monarca que simboliza a decadência da Inglaterra.

Morrissey, o vocalista, que se revelou um tremendo de um conservador negacionista da pior espécie, não destilava ódio, mas decretava que a rainha estava morta e que um país estava acabado. Tinha muito mais a ver com nostalgia dos "bons tempos" do que com a uestão político-econômica em si. 

As coisas tinham melhorado, mas não muito, em 1986. Só que os Smithes se aferravam a uma questão moral, em uma contradição esquisita: parece que Morrissey e o guitarrista Johnny Marr reclamavam que as coisas tinham mudado para pior e que a "essência da Grã-Bretanha havia se perdido". Ou seja, se queixavam de que o país estava menos "trdicional e conservador"... Se observarmos no que Morrissey se transformou politicamente, at´q ue faz algum sentido...

Dos anos 90 em diante, a questão da tradição e do poder da instituição da monarquia perdeu força no mundo pop britãnico. A rainha e a monarquia deixou de importar ou de ter relevância. os desafios eram outros.

As bandas mais novas surgiram e cresceram em outro contexto, menos duro e mais favorável. A monarquia voltou a ter algum papel social na famosa estabilidade politica do Reino Unido e um certo respeito voltou a rondar, mas não o suficiente para que artistas socialistas ou de protesto voltassem as baterias contra Elizabeth II. Ela e a fanília real passaram a ser tolerados, e só isso. 

Para que gastar munição, tempo e esforço contra uma instituição qu não dizia mais respeito à juventude dos século XXI? A prova disso é que nenhuma banda relevante dos anos 90 em diante se manifestou sobre a morte de Elizabeth II. Passou batido.

Os ataques á monarquia foram considerados, nos anos 70, como coisa de delinquentes e fracassados mesmo por quem sempre foi vítima ou alvo do "sistema". A monarquia está acima de tudo, como já insinuou, certa vez, "Sir" Mick Jagger, para desespero de Keith Richards, seu eterno companheiro de Rolling Stones, até hoje adversário  crítico ferreno do Estado britânico e da monarquia.

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