sábado, 10 de setembro de 2022

Black Pantera reafirma discurso violento e relevante para se tornar a voz do engajamento roqueiro

O discurso é do mais furioso e engajado rap, mas o som é muito, muito pesado, tão violento quanto possível. Se a juvenude precisa de razões para a voltar ao rock e assimilá-lo, vai encontrá-las no trio mineiro Black Pantera.

É punk, mas também é thrash metal e também é hardcore. E os negros de Uberaba (MG) demoliram o Sesc Avenida Paulista em uma calorenta noite de inverno de sexta-feira. 

A expressão "enraram com o jogo ganho" é perfeita para quem arrasou uma semana antes no Rock in Rio ao lado dos pernambucanos do Devotos - que tocariam logo depois na mesma sexta-feira, no mesmo local.

Os garotos do Black Pantera procuram olhar para a frente, mas tudo o que tocam e cantam exala engajamento e ativismo. O antirracismo vem à frente, mas direitos humanos e anrifascismo também ganham destaque no repertório. E tudo é muito, mas muito pesado.

Charles, Chaene e Rodrigo não economizam na pancadaria. Sem concessões, destroem instituições e hipocrisia. "Padrão É O Caralho" dá a deixa para a sequência de pancadas.

Depois do Rock in Rio, os três foram acusados de incentivar a violência por conta da canção "Fogo no Racistas". Com um sorriso no rosto, Charles, o gitarrista e vocalista principal, berrou o refrão e regeu um público que lotou o espaço. 

Mais do que uma posição política, a música cantada por todos foi uma declaração de guerra, um brado de vitimas de 130 anos de opressão - e ainda são acudados de incentivar a violência...

"A Carne", canção que ficou marcada na voz de Elza Soares, foi outro momento estrodoso, em que a plateia se uniu em um discurso poderoso contra o racismo e o preconceito.

A bateria de Rodrigo é espantosa. É simples, mas é vigorosa, empurra o som da banda para a frente o tempo todo e preenche tudo, deixando espaço para que o baixo decico cordas de Chaene se torne uma guitarra base, dando uma cara diferente ao caos sonoro e pesado.

Foram apenas 45 minutos, o suficiente para destruir a banca. O recém-lançado disco "Ascensão" foi a base da destruição e preparou o terreno para o Devotos mostrasse quase quatro décadas de punk rock com sotaque nordestino.

Canibal lideou o trio com seu baixo diferente e seu vocal arretado para uma apresentação mais descontraída e mais versátil.

É punk rock com muito groove, muito reggae e maracatu, abusando da melodia e deixando a violência em seguno plano. Não foi fácil seguir depois do Black Pantera quebrando tudo, mas os pernambucanos tinham um trunfo na "disputa": o amigo e mestre Clemente Nascimento (Inoecentes e Plebe Rude), que tocou e cantou quatro músicas, incluindo uma versão notávl de "Tambores", dos Inocentes.

A noite punk na avenida  Paulista se transformou em celebração e um grande aperitivo para as apresentações das duas bandas nos dias seguintes, ao lado das paulistas d'As Mercenárias.

Muito se fala do afastamento do público do rock por conta de o gênero ter perdido sua contundência e deixado a atitude de lado - mesmo que, no Brasil, sempre tenha sido coisa de classe média acomodada.

 Então temos uma oportunidade de ouro para recuperar o tempo perdido e recolocar o rock como voz e discurso de uma juventude engajada e esperançosa que encontra eco apenas em alguns artistas de rap e hip hop. que a Black Pantera, ao lado de Devotos, seja uma das novas vozes que ressignifiquem o rock entre os jovens.

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