Lucio Moryiama (FOTO: DANI SANDRINI/DIVULGAÇÃO) |
Um músico precisa ter o que dizer, de preferência fazendo música que emociona e que imediatamente provoca reações na platéia. É um mandamento que deve ser seguido à risca para quem pretende se destacar no rock e que foi regra absoluta no blues a partir dos anos 60.
A partir do sucesso do sueco Yngwie Malmsteen, nos anos 80, a discussão tomou ares de contenda em todos os sentidos: menos é menos ou mais tem de ser sempre muito mais?
Álbum solo instrumental de guitarrista virtuoso tem de ser sempre uma sucessão de notas rápidas na velocidade da luz ou pode ser recheado com melodias que não necessariamente requeiram mil notas por segundo?
As respostas já foram dadas ao longo da história. No Brasil, Edu Ardanuy, Kiko Loureiro, Andreas Kisser, Marcos Ottaviano, Milton Medusa e uma série de instrumentistas extraordinários mostraram o caminho das pedras. Para se destacar atualmente, é preciso emocionar.
Lucio Moriyama é um emergente guitarrista e compositor nipo-brasileiro de São Paulo que tem uma produção musical sólida e avança no sentido de mostrar qualidades técnicas em seu novo trabalho solo, "Horizon".
É um trabalho cuidadoso, com dez temas instrumentais que privilegiam a técnica e o virtuosismo, mas não só. Há velocidade, há habilidade, mas também há boas doses de sabedoria. E também há pitada de blues que indicam um músico à procura de um equilíbrio.
Dentro de sua meticulosidade, Moryiama mostra sensibilidade e talento para enfileirar referências diversas na faixa-título e buscar inspiração nos antepassados japoneses na delicada "Ikebana" e na poderosa "Hannya" (máscara de teatro que representa uma pessoa que ao ter muita inveja e outro sentimentos negativos se tornou um demônio).
"Dirty Heart", nas palavras do Lucio "é uma faixa na qual amadureci minha abordagem como compositor e interprete". Em "Neon Tokyo", a modernidade dá as caras, com solos bem construídos e técnicas de produção que tentam emular jogos de computador dos anos 80, com resultado bastante satisfatório.
O trabalho conta com projeto gráfico e capa criadas pela arte terapeuta paulista Izabel Magnani. Fotos feitas por Dani Sandrini e a participação de Matheus Botelho, que tocou piano na "Horizon". Ricky Lucas tocou baixo na faixa "Horizon". Marco Slon, que auxiliou na pré-produção e Beto Lins baixo nas faixas "Ikebana", "Champagne" e "Void", além de ser coprodutor do álbum.
VNS Vinicius TGR opta por uma vibe diferente. É música orgânica, mas com ênfase na habilidade técnica. Tem a sabedoria de beber na fonte de gente como Joe Satriani e John Petrucci, mestres do ock pesado instrumental que alia virtuosismo e feeling.
Uma faixa interessante do trabalho do instrumentista é "I Cry to Myself", uma música forte e com solos bem construídos. É uma pequena sinfonia com movimentos curtos e partes que privilegiam uma melodia instigante.
No álbum, mais recente, "A Sound Adventure", também de 2021, essas características ficam mais evidentes. É um disco que parece orientado para guitarristas, mas há ideias bastante interessantes, como nas faixas "Transcendence in Endless Life" e "Graveyard Guitar", especialmente nas criativas linhas melódicas.
"Insulation Madness" é outra canção bacana, em que a melodia é realçada por riffs musculosos e solos bem encaixados, mostrando que Vinicius é um instrumentista versátil e habilidoso.
Com mais ousadia e investindo em um som mais inovador, a tendência é que se torne um guitarrista destacado dentro do cenário brasileiro.
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