sábado, 5 de junho de 2021

A oportunidade desperdiçada no cinquentenário de Crosby, Stills, Nash & Young

Marcelo Moreira

A amizade é o item que menos conta quando se cria uma banda ou se decide pela permanência de tal formação. Para muitos, isso é o que explica a longevidade de bandas como The Who (o guitarrista pete Townshend e o vocalista Roger Daltrey já saíram algumas vezes no soco e nunca convidaram um ao outro para jantar em seus lares) e Rolling Stones (Mick Jagger e Keith Richards já ficaram anos sem se falar, apesar de frequentarem o mesmo palco). Para outros, a inimizade e hostilidade influenciam no desempenho e na continuidade.

Certos casos, entretanto, extrapolam au "normalidade", e aí podemos citar Van Halen, Kiss, Yes e mais algumas. No topo das crises, podemos incluir Crosby, Stills, Nash & Young, supergrupo criado oficialmente em 1969 juntando nomes importantes do pop e do folk rock da época.

Caso raro em que todos os integrantes, setentões ou caminhando para os 80 anos, estão vivos, deveriam estar comemorando os 50 anos de um dos álbuns mais importantes dos anos 70, "Déja Vu", o mais conhecido do grupo.

A pandemia impediu celebrações, que foram transferidas para este ano. Havia a expectativa de uma reunião para ao menos um único show e o lançamento de uma versão de luxo do álbum cinquentenário - que acaba de sair com cinco CDs recheados de material raro e versões demos e de ensaios das canções originais.




A reunião, no entanto, parece que não vai rolar. Stephen Stills e Neil Young estão rompidos há anos com David Crosby, o mais sem noção e reclamão do grupo. Graham Nash mantem contato relações cordiais com os dois primeiros, mas insinuou recentemente que não anda conversando com Crosby.

Em uma entrevista no ano passado, David Crosby comentou que Young não respondia sua mensagens e e-mails mesmo tendo se desculpado publicamente várias vezes - falou muito mal da atual namorada do canadense em 2015, aparentemente de forma gratuita. Amigos em comum afirmam que Young se recusa a tocar no assunto e a conversar com Crosby.

"Stephen [Stills] e Neil [Young] e eu estamos muito bem", disse Nash ao programa de TV CBS Sunday Morning. "Nós conversamos com frequência, mas não falamos com David (Crosby)."

Na mesma entrevista, Nash disse que os desafios de montar a banda novamente depois que o "fio de prata que a conecta se rompe". "Não funciona muito bem. As coisas que aconteceram comigo e quebraram aquele fio de prata, e pela minha vida, eu não posso juntá-lo novamente." 

N entanto, deixou as portas abertas, embora sem muita convicção, para uma reconciliação. "Eu gostaria de poder, apenas por causa da perda da música."

Young, que não participou da entrevista à CBS, disse em 2019 a uma rádio norte-americana que não "fecharia a porta" para uma reunião, embora fosse uma "surpresa" se isso acontecesse."Crosby deveria escrever um livro introspectivo: Por que as pessoas não falam mais comigo”, disse Young à AARP. “Ele fez muita música boa por muito tempo. Não sei o que aconteceu com David. Não tenho nada para dizer. Eu amo Stephen [Stills]. Eu amo Graham [Nash].”
 
A magia está enterrada. Nunca foi algo muito sólido desde o começo. O que começou descompromissadamente na sala de estar da mansão de Peter Tork (baixista dos Monkees) na Califórnia, com Crosby e Stills compondo e fazendo jams, evoluiu para uma coisa séria quando o inglês Nash, dos Hollies, chegou e maravilhou a todos com sua qualidade técnica. 

Nascia ali, com o trio, o que viria a ser o folk rock norte-americano, que se diferenciava do folk rock inglês por sua forte aproximação com a country music e o blues. Era a banda Crosby, Stills & Nash, que logo gravaria o primeiro álbum no finzinho de 1968, e inexplicavelmente deixaram o anfitrião e amigo Tork de fora - este já estava fora dos Monkees.

Crosby, Stills, Nash and Young no palco nos anos 80 (FOTO: DIVULGAÇÃO)



Neil Young tinha a sua carreira solo em ascensão, mas topou participar como convidado do projeto dos amigos Crosby e Stills, e ficou por quase dois anos. Mas, como nada era muito sólido, cada um decidiu pelos seus interesses a partir de 1971, com uma breve reunião em 1974. 

Foram diversos os projetos ou reuniões em que dois ou três se reuniram (sempre sem Young) ao longo dos anos seguintes, mas sem a mesma inspiração ou chama que atraísse o sucesso novamente. Ora era o dinheiro, ora eram as famosas divergências musicais.

Foram raras as aparições do quarteto depois dos anos 80, quase sempre em ocasiões festivas ou celebrações quaisquer. Em sua autobiografia, Neil Young nunca se preocupou em esconder que a amizade até havia, mas que nunca determinou a existência da banda ou as reuniões - o que significa que contará menos ainda em 2021 por conta da beligerância de todos contra Crosby, aparentemente o vilão da história.

Banda importante e com um enorme público sedento ela reunião, correm o risco de perder a chance da mesma forma como ocorreu com os Monkees, esperaram Davy Jones morrer em 2011, aos 66 anos, para voltar a discutir uma hipotética volta, o que ocorreu uma única vez com o trio remanescente.

Com a morte de Peter Tork, em 2019, aos 77 anos, parecia que os Monkees estariam extintos de vez, mas Miky Dolenz (76 anos) e Mike Nesmith (79 anos) planejam uma rápida turnê em dupla pelos Estados Unidos no fim do ano.

Nem quando o grupo exista eram próximos, mas parece que algo mudou, já que Micky Dolenz acaba de ançar um álbum cantando apenas músicas de Nesmith, uma estrela da música country desde os anos 70.

Nenhum comentário:

Postar um comentário