sábado, 5 de junho de 2021

Erasmo Carlos chega aos 80 anos acima das polêmicas e com legado valorizado

 Marcelo Moreira

Erasmo Carlos (esq.) em uma de suas participações no especial de fim de ano de Roberto Carlos (FOTO: DIVULGAÇÃO/TV GLOBO)

Até que ponto podemos colocar Erasmo Carlos como um rocker? O que ele fez na Jovem Guarda, com e sem o parceiro Roberto Carlos, e nos anos 70 pode ser considerado rock?

Alguns críticos e detratores riem dessa afirmação, indo ao ponto de considerar mero oportunismo o fato de que Erasmo, que completa 80 anos de idade neste sábado, bradar que é um dos pioneiros do gênero no Brasil e ousar travestir algumas de suas músicas e álbuns de "rock".

Anos atrás, o Combate Rock questionou  o "rótulo" assumido pelo cantor brasileiro, uma das vozes mais importantes da música brasileira. 

Se formos espremer mesmo a obra do músico, não há muito de rock a encontrar, ainda que sua postura dentro e fora dos palcos ensejem alguma associação. Mas não dá para dissociá-lo totalmente do gênero.

Erasmo Carlos é um músico honesto e merece todas as honras e homenagens, por mais que haja excessos ao ser considerado um dos pais do rock brasileiro e como símbolo do gênero.

Sim, tem rock, e dos bons, em sua discografia, mas a predominância é de uma música popular mais soft, agridoce, sem nenhuma agressividade e bastante palatável ao gosto médio do ouvinte de rádio de 40 ou 50 anos atrás.

A partir dos anos 90, quando foi considerado um fóssil vivo de forma bem mal-educada, orientou seu repertório para um rock comercial, distanciando-se do pop sem sabor e sem cheiro que empreendeu na década anterior. Curiosamente, ficou mais roqueiro, e melhor artista, depois dos 60 nos de idade.

Isso não quer dizer que seu trabalho mais pop e mais romântico dos anos 70 deva ser desprezado, assim como as gemas que produziu com ou sem Roberto Carlos nos anos 60. Seus trabalhos são históricos e necessários, com registros preciosos do que foi a evolução da música nacional orientada para os jovens.

Entretanto, se quisermos ser rigorosos, é perfeitamente plausível questionar se o som que ele produziu na maior parte de sua carreira foi "rock", a ponto de ser considerado um ícone inquestionável do gênero.

A Jovem Guarda foi um movimento importante dentro da cultura brasileira não há dúvida. Mostrou que os jovens do começo dos anos 60 no Brasil tinham voz, vontade própria, talento e inteligência. ]

Mais do que isso, não queriam ficar presos às correntes monolíticas da MPB clássica do samba-canção e das marchinhas de carnaval nem às limitações do pseudo-intelectualismo da bossa nova.

Não é por acaso que a Jovem Guarda é mais relevante como movimento musical e cultural na história brasileira do que a bossa nova e o tropicalismo. Por outro lado, há quem ache a associação de Jovem Guarda com o rock artificial e forçada. Não estão de toda forma errados.

E o que dizer da parcela mais radical que considera que rock mesmo começou a ser feito de verdade no Brasil quando a beatlemania estava quase extinta?

 Foi quando apareceu por aqui Ronnie Von e os Mutantes, ao mesmo tempo em que alguns artistas da Jovem Guarda – com Roberto e Erasmo Carlos liderando – resvalavam, bem de leve, em tentativas frustradas de produzir algum tipo de "rock". Estão errados?

É uma longa discussão sem fim e sem consenso. O Tremendão, certamente, não em nada com isso e vai continuar defendendo o seu legado roqueiro para as novas gerações. Erasmo Carlos fez e faz rock? É roqueiro? Quem se importa com isso? 

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