Marcelo Moreira
A escalada fascista e autoritária em nossa sociedade, empreendida e estimulada pleo nefasto presidente da República, embute uma série de desafios e perigos.
São várias frentes necessárias para defender a democracia, mas os defensores dela estão muito preocupados com as casernas e os quartéis e esquecem do vizinho, do cunhado e dos amigos do trabalho. O maior perigo está em nossos ambientes cotidianos.
São aqueles que votaram a favor do fascismo sabendo ou não o que faziam, mas que certamente adoram vomitar os lixos extremistas de direita, tipo "bandido bom é bandido morto", "tem de metralhar comunistas" e porcarias semelhantes. Aliás, desconhecemo significado de comunismo, como a estúpida atriz global mostrou em seus vergonhosos depoimentos nas redes sociais.
Esse tipo de gente, a atriz bonita e famosa totalmente indigente intelectual, o vizinho burrão fracassado e que odeia pobre, o cunhado nojento que fica à espreita de enganar parentes por grana, a irmã que vota em vereador/deputado amigo em busca de cargos públicos ou benefícios ilegais...
Toda essa gente mau caráter ou com caráter deformado votou no extremismo e no fascismo e não se preocupa com o futuro, com a democracia, com as liberdades civis, de expressão e de opinião.
Essa gente odiosa e que sempre odiou queria tirar o PT e colocar políticos que desprezam a democracia e o bem estar do povo, como é o caso do nocivo Jair Bolsonaro.
Do alto do orgulho da própria ignorância, aplaudem políticas que se voltam contra elas próprias - desemprego em alta, alta generalizada dos preços, sistema de saúde em colapso por uma gestão predatória, destrutiva e criminosa. São os arautos do retrocesso que fincaram pé na defesa da destruição completa de nossa civilização.
Enquanto bradamos, com razão, que o Exército se acovardou diante de Bolsonaro por conta da falta de punição ao general Eduardo Pàzuello e ficamos temerosos diante da esperada insubordinação do "chão de fábrica" da soldadesca inóspita e burra formada por policiais militares bolsonaristas e loucos pela violência, deixamos de prestar a atenção na casa ao lado da nossa e no balcão do bar da frente, ou no caixa do supermercado, ou na moça que cuida do cabelo no salão de beleza.
Esse é o maior perigo, mais do que os policiais militares teleguiados, estúpidos e racistas que continuam prendendo e agredindo jovens negros e pobres pelo país afora.
O seu vizinho ignorante e burro que venera um político corrupto e igualmente burro é que vai te denunciar por qualquer bobagem, seja por ciúmes, inveja, raiva ou qualquer desavença.
É o nojento que vai divulgar o seu endereço na internet ou no boteco da esquina e incitar o seu linchamento virtual, mural e físico. Ele é que vai colocar em perigo a sua vida.
Já tem muita gente com um alvo na testa. A ex-deputada federal Manuela D'Ávila (PCdoB), que mora em Porto Alegre (RS), foi vítima de muitos ataques virtuais na semana que passou. Denunciou-os todos.
Os mais virulentos tiveram origem no vice-prefeito da capital gaúcha e em sua mulher, mas o que escandalizou o país foi que a foto da filha da ex-deputada, que circula nos grupos de ódio com ameaças de estupro - ela tem apenas cinco ano - foi tirada pela mãe de uma criança que estuda com na mesma escola.
Esse dejeto humano se aproveitou do cotidiano para espalhar ódio e colocar em risco uma criança de cinco anos por conta de raiva política. Você pode imaginar a mãe ou o pai de um amiguinho(a) de escola tirando sorrateiramente uma foto de seu filho e jogando na esgotosfera do fascismo para ser insultado e ameaçado? Coloque-se no lugar de Manuela D'Ávila.
Igualmente degradante é saber que um dos padres mais atuantes na questão social em São Paulo se tornou vítima não só de ataques do lixo bolsonarista como do próprio lixo líder, o presidente nefasto preconceituoso e que exala ódio, especialmente contra pobres, índios e negros.
Júlio Lancelotti, aos 72 anos, pároco de uma igrejinha na Mooca, zona leste de São Paulo, tornou-se o símbolo da luta pela dignidade e direitos humanos em uma cidade desumanizada pelas sucessivas crises econômicas e pela suposta grandeza de uma cidade que despreza seus deserdados e "perdedores".
Lancelotti atrai ódio de uma classe média nojenta e asquerosa porque acolhe os sem-teto de uma metrópole que rejeita a pobreza.
Ele acolhe e assiste gente expelida pela sociedade de consumo e por isso atrai todo tipo de ira de uma parcela da sociedade que se sente ultrajada pelo trabalho social - gentalha que hoje não tem mais vergonha de dizer que dinheiro gasto em direitos humanos e assistência social é "desperdício".
O padre é alvo de uma rotina de ataques pessoais e ameaças de morte originadas de moradores da Mooca e do vizinho Jardim Anália Franco, incomodados com a migração de desvalidos da região central.
Por mais incrível que pareça, o trabalho de Lancelotti é rechaçado até mesmo dentro do ambiente da Igreja Católica, por gente incomodada com o protagonismo que ele alcançou justamente praticando as diretivas milenares da instituição que integra - tão corrompida e mafiosamente estabelecida quanto qualquer outra organização socioeconômica com bases eticamente questionáveis, para não dizer criminosas.
Então o dejeto humano que habita um prédio de alto padrão na Mooca, a poucas quadras da Universidade São Judas e do estádio do Juventus se acham no direito de ameaçar virtualmente de morte o padre por seu trabalho assistencial aos mendigos da cidade?
Acha-se no direito de xingar o padre a bordo de seu utilitário esportivo caro quando de alguma celebração ou manifestação na paróquia?
Esse é o seu vizinho que apoia todo tipo de violência contra pessoas que fazem, trabalho assistencial e contra personalidades púbicas que defendem algum tipo de justiça social e a redução da desigualdade.
É esse estrume humano que vai atentar contra você ou contra pessoas que tem algum tipo de atuação social em algum momento, possivelmente depois de um churrasco ou de uma festa de criança no condomínio ou no bairro.
O inimigo está ao lado, tomando cerveja na sua casa, no seu prédio ou seu boteco preferido. É o babaca iletrado e ignorante que não vai pensar duas vezes antes de fotografar seus filhos ou seus parentes para ameaçá-lo e chantageá-lo por pensar diferente. Não vai pensar duas vezes antes de mandar a foto do seu filho para os grupos de ódio do bolsonarismo e da extrema-direita para que ataques virtuais de todos os tipos.
Que não nos iludamos: muitos e muitos e muitos seres execráveis que dizem curtis rock e que tocam rock se enquadram nessas categorias nojentas citadas acima, e que não hesitariam em mover mundos para calar amigos, irmãos, parentes e vizinhos que pensam diferente.
Transgressão, oposição, democracia, debate? Esqueçamos essas possibilidades em uma sociedade em que uma ativista e personalidade política de esquerda é atacada e tem sua família ameaçada por pais de amiguinhos de escola da filha por querem um o país diferente do lixo em que vivemos.
Esqueçamos quaisquer resquícios de civilidade quando um padre que pratica atividade assistencial e social a quem não tem nada vira alvo de ataques de violência do lixo humano ue é o presidente da República e seus apoiadores nas redondezas de sua paróquia.
O seu vizinho é o inimigo mais perigoso. Na iminência de uma guerra civil neste país infeliz, ele será o primeiro a te atacar e clamar por sua eliminação. São tempos brutais os que vivemos e não dá para esperar mais para reagirmos.
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