Bob Dylan (FOTO: DIVULGAÇÃO) |
Nem nos melhores sonhos de quem gosta de rock a cena era factível: um roqueiro ganhando o Prêmio Nobel de Literatura, o honraria máxima da humanidade para os feitos nas principais áreas do conhecimento.
Se havia alguém que insistia em não reconhecer o rock como manifestação artística relevante, o prêmio dado a Bob Dylan destrói qualquer argumento nesse sentido.
No entanto, não há como não observar o grande paradoxo que a Academia Sueca levantou ao premiar o bardo de Minnesota: contestador, rebelde e libertário, o rock acaba, de certa forma, "cooptado" pelo sistema por meio de uma premiação de caráter conservador (ao menos em sua essência).
Bob Dylan chega aos 80 anos de idade como o músico que melhor soube expressar uma visão de mundo de uma geração marcada pelo pós-guerra, ao mesmo tempo em que, de longe, se tornava o melhor cronista do cotidiano. É diferenciado até mesmo quando fala de amor e de trivialidades.
Mesmo seus trabalhos pouco inspirados se destacam pelas letras bem feitas, bem construídas e até mesmo surpreendentes.
Embora a qualidade lírica seja uma de suas características, teve de ser lapidada no Greenwich Village, em Nova York, no início dos anos 60, quando era um músico folk que começava a se destacar.
Sua poesia argumentativa remetia aos melhores momentos de Woody Guthrie, um dos maiores nomes do folk norte-americano, mas Dylan chamava a atenção pela contundência dos versos e pela força de rimas que surgiam como tapas na cara de uma audiência estupefata.
Sua poesia argumentativa remetia aos melhores momentos de Woody Guthrie, um dos maiores nomes do folk norte-americano, mas Dylan chamava a atenção pela contundência dos versos e pela força de rimas que surgiam como tapas na cara de uma audiência estupefata.
Se as comparações com o alemão Bertolt Brecht eram pertinentes por um lado, de outro soam fora de contexto, já que a habilidade de Dylan para construir e juntar e poesia e música extrapolaram e extrapolam qualquer expectativa.
Dentro do rock, provavelmente apenas Pete Townshend (The Who) e Neil Young conseguem ombrear Dylan – e somente até certo ponto – em qualidade de letras.
Soberbo e supremo, Bob Dylan uniu as melhores qualidades dos dois mundos – rock e literatura – para criar uma arte estupenda. Conseguiu aliar a rebeldia, a fúria e a ânsia libertária com a mais alta qualidade poética para fazer o rock arrombar os portões dos salões eruditos do Prêmio Nobel.
Soberbo e supremo, Bob Dylan uniu as melhores qualidades dos dois mundos – rock e literatura – para criar uma arte estupenda. Conseguiu aliar a rebeldia, a fúria e a ânsia libertária com a mais alta qualidade poética para fazer o rock arrombar os portões dos salões eruditos do Prêmio Nobel.
Ele empurrou o rock para um de seus degraus mais altos e fez do paradoxo o grande combustível para impulsionar o gênero para o patamar máximo das artes.
Buscar comparações com mestres da escrita soa indevido também diante da extraordinária capacidade de descrição e de criação de imagens em versos tão concisos. Seria comparável ao gênio Walt Whitman? Ou a Ezra Pound?
Suas colagens sonoras são tão intensas e reais e uma de suas músicas, a icônica "Like a Rolling Stone" virou livro graças à pena tortuosa e insinuante do jornalista americano Greil Marcus. Casava letra e música de forma impecável, criando histórias, contos ou simples poesia em igual.
Não gostava de ser chamado de bardo, mas assumia o posto como um soldado consciente de suas obrigações. E então empunhava a bandeira de Peter Seeger, Woody Guhrie e Arlo Guthrie, espantando fascistas, fascinando amantes, lavando a alma de quem queria escutar a mensagem certa e certeira.
Se fosse inglês, Dylan seria sir, ou membro do império britânico (MBE, uma comenda importante no Reino Unido). Uma distinção, sem dúvida, mas que teria pouco valor para ele. Nem mesmo o Nobel é uma honraria suficiente para conter a sua genialidade. Que sua música e seus versos falem por si.
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