Marcelo Moreira
Robert Johnson (FOTO: REPRODUÇÃO)
A lenda é tão forte que gerou um filme bobinho, mas que repercutiu bastante no mundo e ajudou a disseminar ainda mais a lenda do guitarrista mágico do blues que vendeu a alma pra o diabo, com direito a Steve Vai como o braço do demônio.
Mesmo 50 anos após a sua morte, Robert Johnson não passava de um mito para o grande público quando o filme "Crossroads" (A Encruzilhada) foi lançado, em 1986, com o astro Ralph Macchio, da cinessérie "Karate Kid". Era venerado por músicos de todos os naipes e gêneros, mas quase um desconhecido para o grande público. E não é que muita gente, no Brasil, começou a associar o blues à "música do demônio"?
Não tinha como não virar filme a saga do menino negro, pobre e rebelde, neto de escravos que tinha um talento imenso, do tamanho de sua "folga". Por isso era bastante odiado por onde passava - só que mais ainda por se envolver com todo o tipo de mulher...
Faz 110 anos que o mestre do blues nasceu. Como tudo o que cerca a sua breve existência, a sua morte é controversa, mas há um consenso de que foi envenenado no sul dos Estados Unidos após uma apresentação em um boteco.
Amigos sempre evitavam que ele pegasse uma garrafa ou copo de uísque e bourbon das mãos de desconhecidos - houvera outras tentativas de maridos ciumentos e traídos de envenená-lo. Só que houve um momento de vacilo, e lá foi o beberrão Johnson agonizar por três dias em um quarto sujo e hotel fuleiro até morrer aos 27 anos, em 1938.
Quase que imediatamente se criou o mito do superinstrumentista imbatível que teria feito o pacto com o diabo em uma encruzilhada para adquirir habilidades que supostamente supostamente não possuía. Ele adorava essas lendas.
O fato é que o andarilho Johnson percorria as trilhas do interior do Tennessee, de Lousiana, do Mississippi e do Missouri em busca de qualquer público e de qualquer bebida que pudesse não pagar. Era um violeiro bom, mas sem o brilho que viria a adquirir.
Era o comecinho dos anos 30 e a Grande Depressão levou pobreza, desemprego e violência pra o campo e para as cidades. Desesperado por trocados, envolvia-se com jogo e todo o tipo de apostas, mas percebeu que tinha muita, mas muita gente melhor do que ele no violão e na gaita. Estava difícil bater os rivais.
É fato que ele desapareceu por alguns meses daquelas redondezas e não há notícias de que tenha migrado para tocar em outras lavouras. Meio de surpresa, o rapaz magrelo e impertinente reapareceu anos depois e fazendo um barulho e tanto.
ocava diferente, com mais percussão e agressividade. As músicas agora eram mais brutas, seminais e passionais, tudo com uma destreza que ele aparentemente não tinha. As lendas foram surgindo e ele, gostando.
A coisa ia tão bem, que ele não mais se lembrava de quando tinha perdido um desafio no violão ou na gaita. A fama era local, mas o suficiente para garantir-lhe comida, bebida e um séquito de mulheres hipnotizadas pelo charme e sensualidade de Johnson.
Irresponsável e sem menor temos da Deus, "limpava" tudo o que vinha pela frente, a ponto de amigos terem de armar verdadeiras operações de guerra para tirá-lo de cidades mobilizadas em seu encalço, geralmente perseguido por maridos traídos.
A maior importância de Robert Johnson para a música foi o estabelecimento do blues de 12 compassos para o padrão do gênero a partir de então, aliando seu ataque de mão direita poderoso com uma habilidade incomum no braço do violão, além da maneira percussiva como arranjava suas músicas.
Ao mesmo tempo, aprofundou a densidade de alguns temas, fugindo do velho lamento escravo ou da simples contemplação do ambiente em que os negros viviam no pobre sul dos Estados Unidos.
O demônio passa a ser companhia constante e um companheiro/chefe, como na própria "Crossroads" e na emblemática "Me and the Devil Blues". Eram canções pesadas, com a mão direita descendo e subindo como um machado cortando lenha.
Mesmo nas road songs como "Travelling Riverside Blues" (que ganhou versão bacana do Led Zeppelin), o clima era mais intenso, mais "pegado", incluindo no cancioneiro local temas um pouco mais urbanos.
Segundo Eric Clapton, Robert Johnson foi "o músico de blues mais importante que já viveu"; para Keith Richards, "subitamente ele elevou o nível do jogo, e de repente todos tinham que mirar muito mais alto".
Em 1938, durante uma apresentação no bar "Tree Forks", Johnson bebeu uísque envenenado com estricnina, supostamente preparado pelo dono do bar, o qual estava enciumado porque o músico tinha flertado com sua mulher.
Outro mito popular recorrente sugere que Johnson vendeu sua alma ao diabo na encruzilhada das rodovias 61 e 49 em Clarksdale, no Mississippi.
Este mito foi difundido principalmente por Son House e Sonny Boy Williamson e ganhou força devido às letras de algumas de suas músicas, como "Crossroads Blues", "Me And The Devil Blues" e "Hellhound On My Trail", como já mencionamos.
Graças a esse filme, Vai mostra ao mundo para que veio.
ResponderExcluirQuem achava que ele estava morto em casa fazendo videozinhos para o YouTube é só ver "Knappsack".Umas das melhores músicas do cara.
Isso mostra que ele está mais criativo do que nunca.
Fazer uma música tão boa depois de tantos anos de estrada, não é para qualquer um.