Marcelo Moreira
O desespero costuma espantar a sensatez. É compreensível, mas raramente justificável. Da mesma forma que os extremistas de direita fascistas que apoiam a excrescência que está na Presidência da República, muita gente boa e inteligente derrapa feio ao usar as manifestações de 29 de maio para bradar contras as medidas de isolamento social e restrição de movimento.
Descontando-se a má-fé, o mau caratismo e a deformação ética, tais "protestos" são um equívoco gigantesco que esbarra na indigência intelectual.
A pandemia não acabou e o distanciamento social ainda é necessário e deveria ser mais rigoroso, com punições exemplares, a começar pela excrescência presidencial.
Como não há rigor e o bom senso foi escanteado, as aglomerações de 29 de maio pelo país foram necessárias para diminuir o espaço dos fascistas diante do desespero bolsonada diante do esfarelamento de seu inexistente governo, sem que isso signifique, necessariamente, que ele esteja na lona, totalmente derrotado.
O tamanho das manifestações é um alento para quem ainda sonha com um derretimento ainda maior do bolsonarismo até a inanição completa, algo que, infelizmente, parece improvável neste momento, por mais que a rejeição seja enorme.
Já era mais do que esperado que a indigência intelectual dos fascistas os levasse a apontar a "contradição" da "esquerda" em pregar o distanciamento social e as medidas de restrição ao mesmo tempo em que chamava para as manifestações - como se o "Fora, Bolsonaro" fosse um monopólio das esquerdas, e não algo suprapartidário, o que é na realidade.
Esse discurso estúpido está sendo apropriado por muita gente que não é burra,mas que, levada pelo desespero da fata de trabalho e renda, embarca na canoa furada "economia não pode parar".
Não foram poucos os músicos que reivindicaram neste domingo (30) a reabertura imediata de casas de shows, bares e restaurantes para apresentações presencial com 100% (!!!!!!) de lotação.
Para esses tontos, muitos antifascistas e anti-Bolsonada, não há mais sentido em manter restrições de funcionamento de comércio e de movimentação quando até a "esquerda" aderiu a manifestações sem o menor distanciamento social.
Claro que essa seria uma enorme fragilidade a respeito das manifestações de 29 de maio. Seria um risco calculado, mas necessário diante das necessidades e oportunidades políticas do momento.
Mesmo dando margem a reivindicações estapafúrdias, as manifestações anti-Bolsonada foram satisfatórias e atingiram os objetivos. suas lideranças continuam pregando o isolamento social, as restrições de movimento e até mesmo fechamentos quase totais, como ocorre em cidades do interior paulista.
Vamos lembrar: estamos \ás portas da terceira onda de contaminações de covid-19 e a ocupação de leitos de UTI (Unidades de Terapia Intensiva) em muitos lugares do país está em 100%, como em Curitiba e outras cidades paranaenses, o que significa colapso total na saúde.
No interior de São Paulo há lugares com 95% de ocupação, assim como em Minas Gerais. A barreira dos 460 mil mortos foi ultrapassada e mesmo assim governadores irresponsáveis, como o de São Paulo, flexibilizaram as restrições em, abril e maio, provocando nova onda de internações.
Diante desse caos sanitário e de ocupação de leitos, é uma insanidade e uma falta de respeito pedir a reabertura das casas de shows, de bares e de restaurantes.
Sem vacinação em massa e sem controle completo do contágio, a última coisa com que devemos nos preocupar é com a volta de espetáculos presenciais, sejam shows, peças de teatro, exposições ou eventos esportivos.
Nenhum desespero justifica esse tipo de reivindicação. São 2,4 mil mortos diariamente pela covid-19, ma tragédia inigualável sob qualquer aspecto. Não é só insensibilidade e falta de empatia: chega a ser criminoso qualquer neste sentido.
Diante da inoperância, incompetência e sabotagem do governo federal negacionista e medieval, não é possível fazer qualquer previsão a respeito de quando, e se, haverá condições para a volta de shows com público. A ciência, por enquanto, só consegue vaticinar que ainda teremos longos e mortíferos meses pela frente.
O desespero não comportas a paciência, e podemos pedir muita coisa aos desesperados, menos paciência, mas é o que tem de ser feito. Cultura, entretenimento e artes, infelizmente, continuarao no final da fila.
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