terça-feira, 11 de maio de 2021

Meninas em fúria: a retomada com força de Freesome, Allen Key, Mercy Shot e Malvada

Marcelo Moreira

A pandemia não conseguiu confinar as bandas de rock em casa. No mundo inteiro os estúdios estiveram cheios de aglomeração para aplacar a ansiedade de tocar e gravar. Quase todos garantem que houve toda sorte de cuidados, com muito álcool gel, desinfetação de ambientes e máscaras a rodo. Será?

Longe dos palcos e confinados em estúdios, músicos tentaram sobreviver e preparar algum tipo de plataforma para o novo mundo que se anuncia. Que novo mundo é esse? 

Continuaremos a tocar somente em estúdiuos e lives? Ou poderemos sonhar com um futuro próximo como australianos, neozelandeses e ingleses, que já podem ver in loco jogos de futebol, rúgbi e assistir a shows?

A produção segue à toda por aqui e três bandas paulistas com mulheres nos vocais lideram a carreta de músicas pesadas lançadas nos últimos tempos.

Freesome (FOTO: DIVULGAÇÃO)


"Get Me Goin'" é o novo single banda campineira Freesome, que um dia já foi Threesome. Na nova encarnação, cometeu uma versão excelente para "Perfect Strangers", do Deep Purple, para um tributo da empresa Secret Service Records, com uma repercussão surpreendente.

A nova música do quinteto aposta em um hard'n'heavy poderoso, com uma interpretação sensual da cantora Juh Leidl (jurada do programa "Canta Comigo", da TV Record). 

É rock cm pegada de hit, com guitarras estrategicamente timbradas para soar retrô, mas sem parecer datado. Tem um climão oitentista, totalmente classic rock, mas é pesada, gostosa de ouvir, bem no estilo road song. 

Não é original, e talvez nem fosse essa a intenção. Claramente se percebe uma intenção de celebrar, e o vídeo colaborativo certamente demonstra isso. É uma boa canção para nos mostrar que é preciso sorrir cada vez mais nestes tempos sombrios.

Formado por Juh Leidl (vocal), Fred Leidl (vocal e guitarra base), Bruno Paulinetti (guitarra solo), Bob Rocha (baixo) e Henrique Matos (bateria), a Freesome surgiu na cidade de Campinas. Em 2020 a banda preparava seu novo material para um EP com cinco faixas mas com a pandemia do Covid-19 os trabalhos ficaram pausados e a banda parou por praticamente um ano. 

Como 2021 ainda começou com restrições principalmente no Brasil e sentindo a dificuldade de se reunir mas ao mesmo tempo a necessidade latente de produzir, a Freesome decidiu concluir uma das faixas do EP, voltar a compor mesmo que a distância com seu baixista Bob Rocha, que atualmente mora em Portugal e lançar como single e com um vídeo em formato colab a faixa "Get Me Goin'" no Festival Jovem Rock II, da Rádio Jovem Rock FM.
 
"'Get Me Goin'' é nossa tentativa de trazer um pouco de descontração em uma época tão obscura", diz Fred Leidl. "É um rock clássico, ardido, com riffs marcantes e refrão martelado, mas com um quê de modernidade quanto ao caldeirão de influências. Colocamos várias coisas que adoramos em várias bandas que são nossas referências como Led Zeppelin, AC/DC e Guns N' Roses."

Allen Key (FOTO: DIVULGAÇÃO)

 
Mais pesadas e densas são as canções duas bandas paulistas que têm a mesma vocalista, a surpreendente Karina Menascé. Ela empresta a voz para a Allen Key e a Mercy Shot.

As duas bandas nem têm tantas diferenças sonoras e conseguem flutuar bem em torno da cantora esfuziante. "Granted", da Allen Key, é um single poderoso, com um rock mais moderno, em que a timbragem das guitarras remete a sons de bandas do antigo nu metal, mas sem a parede sonora tipo bate-estaca. 

A voz potente e rasgada aqui mostra uma cantora que domina seu ofício, sem forçar a barra para cantar forte e com intensidade. As guitarras soam sem muita variação evidenciando a urgência de um som pesado, quase punk às vezes. São a urgência e a intensidade que mais chama  a atenção dessa música.

Já em relação à Mercy Shot, Karina se mostra mais solta, explorando mais a voz no som pesado quase heavy tradicional embalado por duas guitarras que ora soam gêmeas, ora buscam inspiração em duelos do naipe de Judas Priest e Wishbone Ash.

No EP "Prelude to Judgement", gravado ao vivo no Family Mob Studios, em São Paulo, "Sink the Thrive" é a música mais forte, com seu som stoner acentuado e um bom trabalho de guitarras. A linha hard'n'heavy é mantida em linhas melódicas bem definidas, valorizando o peso nas partes mais altas.

"Deceiver" não é tão potente, mas indica que a banda tem estofo para produzir material variado e de boa qualidade. Karina mostra versatilidade, embora não mostre todo o jogo como na ótima "Enemy and Ally", a melhor do trabalho. É uma canção muito boa, forte e emocional, com um vocal redondo e que mostra as qualidades da vocalista, que se equilibra com maestria entre peso e melodia.

No som pesado voltado para o português, mais uma vez o destaque é a banda Malvada, o novo empreendimento da cantora Angel Sberse, que foi da Bendicta e participou com reality shows "The Voice", da TV Globo.

Malvada (FOTO: PRI SECCO/DIVULGAÇÃO)


O quarteto feminino empoderado está gravando seu primeiro álbum no Studio Pub, em Santo André (Grande São Paulo) e o primeiro fruto é estimulante. "Mais Um Gole", o primeiro single, é um primoroso blues pesado que descamba pra um hard rock denso e tenso.

Para quem estava acostumado a escutar Angel cantando um rock mais básico e direto, o mergulho profundo no blues vai surpreender. 

Intérprete de ótimos recursos, ela consegue imprimir a dramaticidade necessária que a música pede, ora soando ameaçadora pelo sarcasmo, ora mostrando raiva ao vociferar uma letra dura em que a cama melódica tem como destaque a guitarra encharcada de bourbon, com solos desconcertantes e com um baita feeling da guitarrista Bruna Tsuruda, encarnando o saudoso Helcio Aguirra (Golpe de Estado).

É um passo arriscado das meninas - estão na banda ainda Ma Langer (baixo) e Juliana Salgado (bateria) -, pois o blues pesado é uma área onde poucos ousam ingressar no Brasil. Fica sempre aquela dúvida: "estamos sendo pesados o suficiente, mas estamos conseguindo expressar o blues como deve ser?"

Pelo material de bastidores já divulgado nas redes sociais, podemos esperar um material diferente e poderoso, com bastante peso e orientado para o hard rock, em uma tentativa, talvez, de expandir os limites que um dia a baiana Pitty rompeu antes de reorientar sua produção pra o pop rock e a MPB.

 
 


 

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