Robert Fripp (FOTO: DIVULGAÇÃO) |
O jeitão é de acadêmico, de um cientista ou de intelectual . Sempre elegante, com um óculos de estilo conservador e uma presença de palco inexistente, o guitarrista inglês Robert Fripp faz questão de manter essa imagem austera e econômica nos shows.
"Não fazemos música para os pés, mas para a cabeça", costuma dizer ao rebater as críticas ao suposto intelectualismo de sua banda, o fantástico King Crimson. A declaração é a cara de Fripp, que completou 75 anos de idade.
A pandemia, no entanto, se encarregou de destroçar essa imagem ao revelar um tiozão de churrasco divertido e zoeiro, embarcando nas micagens em frente à câmera.
Cansado do isolamento, entregou-se às palhaçadas e versões malucas de clássicos do rock ao lado da mulher, a cantora Toyah Wilcox, em frente à câmera, em gravações hilárias na cozinha do casarão em que vivem, na Inglaterra, além dançarem vestidos de bailarinas (ele também!) nos jardins da casa.
Mas não nos enganemos: ele continua o nerd de sempre nos palcos e nos estúdios. Para o guitarrista com fama de "intelectualoide", a perfeição era o mínimo que admitia, o que, várias e várias vezes, era motivo de grandes conflitos com os músicos que o acompanhavam – tanto é que, nos anos 70, o King Crimson só repetiu a formação em dois álbuns consecutivos nos dois primeiros LPs – "In the Court of the Crimson King" (1969) e "In the Wake of Poseidon" (1970).
Um de seus mas frequentes colaboradores, o exímio baterista Bill Bruford (ex-Yes) nunca escondeu de ninguém que, pessoalmente, não suportava Fripp – e a recíproca era verdadeira. No entanto, sempre emendava que. musicalmente, o respeitava demais.
No palco, o guitarrista apreciava tanto o trabalho do baterista que o chamou para formações do King Crimson outras duas vezes após o primeiro fim da banda, em 1974.
O gênio difícil e o tamanho do ego eram proporcionais ao seu enorme talento. Com formação jazzística e erudita, Fripp lapidou desde cedo uma maneira límpida e cristalina de tocar, além de ser um músico obcecado por timbres e execuções perfeitas.
O gênio difícil e o tamanho do ego eram proporcionais ao seu enorme talento. Com formação jazzística e erudita, Fripp lapidou desde cedo uma maneira límpida e cristalina de tocar, além de ser um músico obcecado por timbres e execuções perfeitas.
As constantes pesquisas sonoras o levaram rapidamente ao experimentalismo, levando ao radicalismo extremo na aplicação de conceitos musicais estranhos ao rock, como se pode observar nos primeiros álbuns do King Crimson já citados e também em clássicos da banda, como "Lark's Tongues In Aspic", "Islands", "Lizard" e "Red".
Assim como no estúdio, ao vivo a banda abusava do experimentalismo, expandindo os limites do rock progressivo setentista. Introduzindo muitas estruturas sonoras típicas do jazz e incentivando longas jams sessions com sons intrincados e complexos, Fripp e suas formações do Crimson criaram um padrão excepcional de execução e performances.
Professor A qualidade de sua execução e de suas composições logo levaram a apelidos como "mestre" e "professor". O primeiro fim do Crimson levou ao trabalho em dupla com outro mestre, Brian Eno, ex-Roxy Music, que mergulhou de cabeça na música eletrônica.
Assim como no estúdio, ao vivo a banda abusava do experimentalismo, expandindo os limites do rock progressivo setentista. Introduzindo muitas estruturas sonoras típicas do jazz e incentivando longas jams sessions com sons intrincados e complexos, Fripp e suas formações do Crimson criaram um padrão excepcional de execução e performances.
Professor A qualidade de sua execução e de suas composições logo levaram a apelidos como "mestre" e "professor". O primeiro fim do Crimson levou ao trabalho em dupla com outro mestre, Brian Eno, ex-Roxy Music, que mergulhou de cabeça na música eletrônica.
King Crimson como um sexteto em 1996 (FOTO: DIVULGAÇÃO) |
Foram dois álbuns elogiadíssimos, mas que venderam pouco. Em paralelo, colaborou bastante também com outro admirador, David Bowie, que o convidou para tocar em seus discos da fase "alemã" – "Low", "Lodger" e "Heroes", entre 1976 e 1978.
Entretanto, mesmo com o trabalho ainda mais experimental com o grupo League of Gentlemen, que criou, Fripp sentia muita falta da liberdade artística e desafiadora do King Crimson.
Entretanto, mesmo com o trabalho ainda mais experimental com o grupo League of Gentlemen, que criou, Fripp sentia muita falta da liberdade artística e desafiadora do King Crimson.
Reativou a banda em 1980 após conhecer dois excepcionais músicos – o guitarrista e vocalista Adrian Belew, que trabalhou com Frank Zappa, e o baixista Tony Levin, que também era perito em um instrumento novo na época, o chamado bass stick, uma espécie de baixo percussivo com timbres eletrônicos. Convidou os dois para a nova encarnação e não pensou duas vezes em chamar Bill Bruford para a bateria.
Foram três álbuns estupendos entre 1981 e 1985, que foram muito elogiados, assim como os shows intensos e hipnóticos. A intensidade, no entanto, não foi o suficiente para manter o interesse do chefe, que na mesma época andava encantado com andy Summers, o guitarrista do Police – os dois lançaram dois excelentes álbuns de música instrumental em 1982 e 1984.
Foram três álbuns estupendos entre 1981 e 1985, que foram muito elogiados, assim como os shows intensos e hipnóticos. A intensidade, no entanto, não foi o suficiente para manter o interesse do chefe, que na mesma época andava encantado com andy Summers, o guitarrista do Police – os dois lançaram dois excelentes álbuns de música instrumental em 1982 e 1984.
Fripp fez muita coisa nos anos seguintes, inclusive dando muitas e concorridas aulas e colaborando com o músico David Sylvian (Japan) e com a cantora Toyah Wilcox (com quem se casou logo depois de trabalharem juntos, em 1986), mas o King Crimson não saía de sua vida.
No King Crimson, sempre inovando A pressão de amigos e fãs o levou a mais uma encarnação da banda, ue virou um sexteto – além do quarteto de 1981, entraram para a banda o baterista e percussionista Pat Mastelotto e o baixista e stick man Trey Gunn.
No King Crimson, sempre inovando A pressão de amigos e fãs o levou a mais uma encarnação da banda, ue virou um sexteto – além do quarteto de 1981, entraram para a banda o baterista e percussionista Pat Mastelotto e o baixista e stick man Trey Gunn.
"Thrak", de 1995, é extraordinário, com o sexteto trazendo o que de melhor o King Crimson incorporou em sua história – rock pesado, jazz, suítes eruditas e solos brilhantes, além de experimentalismos extremos. Até 2003 a banda se manteve ativa e inovando, gravando e se apresentando em vários formatos – trios e quartetos, com os músicos se revezando.
Após novo hiato, aos poucos Fripp foi saindo de uma "semiaposentadoria" autoimposta a partir de 2010, para finalmente, em 2012, criar as condições necessárias para nova encarnação do King Crimson, desta vez como um septeto.
Após novo hiato, aos poucos Fripp foi saindo de uma "semiaposentadoria" autoimposta a partir de 2010, para finalmente, em 2012, criar as condições necessárias para nova encarnação do King Crimson, desta vez como um septeto.
King Crimson em 2015 (FOTO: DIVULGAÇÃO) |
Dos antigos companheiros, só Tony Levin Levin e Pat Mastelotto. Completam o time o guitarrista Jakko Jakszyk (guitarrista e compositor, participou da banda 21st Century Schizoid Man com ex-integrantes do próprio King Crimson), o saxofonista Mel Collins (que fez parte da bandas entre em 1972 e 1974) e mais dois bateristas: Bill Rieflin (que foi músico contratado do R.E.M.) e Gavin Harrison, assíduo colaborador do Porcupine Tree e da banda solo de Steven Wilson (líder do Porcupine Tree).
O atual Crimson encarou uma extensa turnê norte-americana a partir de meados de 2015, que invadiu 2016 e que gerou um lançamento interessante: "Live at the Orpheum", lançado em agosto de 2015. É um registro ao vivo gravado em um teatro em Los Angeles em outubro de 2014 – são os primeiros shows de retorno.
Outros CDs ao vivo se seguiram, com a mesma qualidade e a proficiência. Houve até mesmo, finalmente, a estreia no Brasil, com dois shows, um no Rock in Rio e outro em São Paulo, em 2019.
Fripp conseguiu mostrar a história da evolução sonora do grupo nas apresentações brasileiras, tendo sua guitarra limpa, hipnótica e inovadora como fio condutor, reforçando que se trata de um músico e instrumentista incomparável – um gigante do rock.
Fripp conseguiu mostrar a história da evolução sonora do grupo nas apresentações brasileiras, tendo sua guitarra limpa, hipnótica e inovadora como fio condutor, reforçando que se trata de um músico e instrumentista incomparável – um gigante do rock.
É um gigante da vida ❤️
ResponderExcluir