quarta-feira, 26 de maio de 2021

Miles Davis e a vanguarda capaz de mudar o mundo

 Marcelo Moreira

Miles Davis (FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK)


Música de vanguarda jamais será popular, mas sempre será capaz de mudar o mundo. A máxima está explícita em quase todas as páginas do livro "Kind of Blue: Miles Davis e o Álbum que Reinventou a Música", do jornalista inglês Richard Williams, editado no Brasil pela Casa da Palavra. 

Não há definição melhor para um dos artistas mais influentes de todos os tempos, do naipe de Bob Dylan, Jimi Hendrix e Paul McCartney, se formos ficar apenas na música. Se estivesse vivo, Miles Davis estaria completando 95 anos.

Entre as obras de referência do trompetista, o maravilhoso "Kind of Blue", de 1959, é o álbum que serve como um dos marcos do jazz e da música pop no século XX e serve como fiel retrato de como Miles Davis inscreveu o seu nome na história.

O disco ainda ecoa por vários segmentos como uma das influências mais importantes para os artistas que vieram depois dele – e é bom lembrar que fazia parte da banda do trompetista que é quase um sinônimo de jazz o visceral saxofonista John Coltrane.

"Kind of Blue" ganhou em 2009 uma reedição em CD triplo com extras e material bônus, e sua força reside na extrema objetividade e na sutileza com que a música foi elaborada. Os extras são tão bons quanto o material original.

Davis foi tão certeiro, genial e influente que podemos encontrar seus ecos no rock, no jazz e na música erudita ao longo dos últimos 60 anos -e não só na música, mas também na estética das artes plásticas e até na literatura. 

Escute as principais peças de John McLaughlin (guitarrista britânico), Keith Jarrett (pianista norte-americano), Phillip Glass (compositor erudito norte-americano), Brian Eno (compositor britânico, ex-Brian Ferry e produtor do U2), Jimi Hendrix, Soft Machine (pioneiros do jazz rock na Inglaterra) e muitos outros para observar a presença de "Kind of Blue" e de muitas outras obras do gênio do trompete. 

Novamente citando Richard Williams, Miles Davis expandiu horizontes e conecta mundos aparentemente distintos, que vão das inquietantes paletas de pintura de Picasso, Matisse e Yves Klein, que influenciaram o humor de toda uma cultura que valorizava imensamente a cor azul, ao blues e os outros sons que melhor traduziam o que era ser cool. 

O legado de Davis está presente também nas longas improvisações da banda Allman Brothers, nos concertos do Grateful Dead, passando pelo riff mais copiado de James Brown e da rebeldia atormentada e fascinante de Pete Townshend e seu The Who.

Conhecer Miles Davis é fundamental para entender um pouco da evolução da música popular e da de vanguarda dos últimos 60 anos.   

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