quarta-feira, 5 de maio de 2021

Artistas extremistas derrapam até na escolha de heróis e mártires

 Marcelo Moreira

Como era previsível, um músico norte-americano que agiu como terrorista, e que é apoiador de Donaldo Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, virou herói de alguns estúpidos pelo mundo, notadamente na Hungria, na Polônia e também no Brasil. 

Ao invadir o Congresso norte-americano pra impedir a posse de Joe Biden como presidente, em 6 de janeiro, milhares de extremistas de direita tentaram dar um golpe, que não deu certo, por mais que tenham ferido a democracia americana. 

Fotografado dentro do Capitólio, a sede parlamentar, Jon Schaffer, guitarrista e líder da banda Iced Earth, foi tomado como um dos líderes da invasão. Com mandado de prisão decretado depois da baderna, entregou-se 20 dias depois ao FBI.

Com seis acusações nas costas, aceitou fazer um acordo com procuradores federais e vai colaborar nas investigações de grupos extremistas. Escapou de ser condenado por terrorismo, mas deverá passar ao menos cinco anos trancafiado por conta da invasão.

Esse é o sujeito que está sendo visto como herói por vários grupos de extremistas de direita pelo mundo, principalmente por músicos de heavy metal com excrementos no cérebro.

Shaffer, que viu todos os membros da banda debandarem, perder contratos de gravação e distribuição e parcerias longevas serem desfeitas, ganhou nestes grupelhos de estúpidos o status de preso político e um ativista perseguido, um "notável batalhador pela liberdade individual e contra a opressão de um Estado que quer controlar tudo", como está escrito em um site polonês de música pesada. 

O engraçado é que hoje a Polônia tem um governo de extrema-direita que prega exatamente tudo isso que o autor da frase apoia, avançando a cada eleição com promessas e medidas autoritárias.

Essa indigência intelectual também chegou ao Brasil. Músicos que até anteontem provavelmente desconheciam Jon Schaffer e o Iced Earth o tomaram como um "paladino da liberdade" e combatente do comunismo. Pelo dois idiotas postaram a foto dele nas redes sociais tomando-o como mártir.

O engraçado é que, nas manifestações de 1º de Maio a favor do incompetente e nefasto presidente Jair Bolsonaro, as palavras de ordem eram todas fascistas, com pedidos de fechamento do Congresso, do STF (Supremo Tribunal Federal), intervenção militar e todo o tipo de restrição ás liberdades de opinião e expressão para "expulsar os comunistas".

Jon Schaffer (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Ué, mas o novo herói dessa gente não é um cara de que invadiu o Congresso supostamente para lutar pela "liberdade de expressão" e pelo direito a cometer "atos terroristas" para impedir a posse de um presidente legalmente eleito?

O bolsonarismo fascista abusa do orgulho de ser ignorante, embora os seguidores imbecis sejam exatamente a cara do movimento, repetindo sempre a burrice manifestada pelo presidente e seus filhos ainda mais estúpidos.

A liberdade que tanto valorizam nos Estados Unidos não vale por aqui, a julgar pelas deploráveis ações da Polícia Federal para intimidar adversários políticos do regime. 

Em vez de se dedicar com mais afinco às investigações de crimes que são cometidos aos montes pelo país, os policiais federais se debruçam a caçar críticos do governo e "intimá-los" a depor em "investigações" de supostos crimes de xingamentos ao presidente.

As mais novas vítimas do fascismo são duas lideranças indígenas brasileiras, entre elas Sonia Guajajara, candidata a vice-presidente de Guilherme Boulos (PSOL) em 2018. 

O crime desses índios: constatar a incompetência criminosa do governo e criticar duramente o trabalho ruim da Funai (Fundação Nacional do Índio).

Críticas ao presidente incompetente também levaram Boulos a ser intimado a depor na Polícia Federal de São Paulo depois de alertar que muitos governantes correm o risco de ter o mesmo fim de reis franceses do século XVIII, quando a Revolução Francesa levou muitos nobres à guilhotina. 

Incentivo ao cometimento de crimes contra o presidente, além de ameaças? Para policiais federais indigentes intelectuais, sim.

E o que dizer de uma investigação federal contra autores de cartazes de anúncio de um festival punk que satirizava o presidente? É o que aconteceu em março com os organizadores do Facada Fest, de Belém (PA), e os artistas que desenharam os cartazes.

Professores universitários que "ousaram" criticar o governo e sua inoperância no combate à pandemia, com (falta de) ações que levaram muitos a qualificar Bolsonaro e sua administração como genocidas, também viraram alvos de investigação e sindicâncias. 

Aqui é claramente uma iniciativa para calar críticos dentro das universidades, com ameaças e intimidações diversas. Claro que não deu certo, por mais que alguns tenham assinado um termo que os impede, teoricamente, de fazer críticas ao presidente dentro do "ambiente de trabalho".

O que diria o herói americano desse povo burro se percebesse que se tornou um paladino da liberdade a mesmo tempo em que seus seguidores apoiam idiotices bizarras como essas ofensivas da Polícia Federal contra adversários do governo baseadas em premissas vergonhosas e estapafúrdias?

O orgulho de um respeitado e prestigiado guitarrista carioca de blues ao se deixar fotografar em uma manifestação de bolsonaristas dos mais idiotas no Rio de Janeiro neste 1º de Maio demonstra que muitos artistas da música e do rock perderam totalmente a vergonha de escancarar a sua total indigência intelectual. 

É gente que apoia o fascismo e ideias ultramedievais. É gente que se cala e consente com as demandas por menos democracia e mais força, com o fim da liberdade de expressão. 

Como é possível que artistas apoiem a censura estatal vinda de um governo fascista, que em tese vai se voltar contra o próprio artista?

O que Jon Shaffer diria para o tal guitarrista de blues que estava todo feliz na manifestação bolsonarista fascista? Será que apoiaria a censura contra os "adversários do poder"?

Assim como neonazistas alemães mostraram profundo desprezo por seres acéfalos da Colômbia e do Brasil que forma tentar adulá-los pelas redes sociais, o músico americano que praticou terrorismo no Congresso repudiaria a burrice de seus adoradores brasileiros. 

Mesmo para um fascista estúpido ianque seria demais um artista  clamar pela censura e investir contra qualquer tipo de liberdade.

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