Marcelo Moreira
A favela exerce um fascínio para grande parte da elite brasileira. Parece que a sobrevivência em condições precárias e quase sempre impossíveis transforma seus habitantes em criaturas exóticas, a ponto de merecerem estudos biológicos que justifiquem tal sobrevivência.
O fascínio do andar de cima pela tragédia social também causa medo e, por consequência, o ódio. Essa gente diferenciada do andar de cima tem ódio pela existência daqueles que insistem em sobreviver e "ameaçar" a paz e tranquilidade do asfalto das zonas sul e jardins alguma coisa das grandes cidades.
Da mesma forma que, para muita gente dessas classes sociais, apoiar explicitamente Bolsonaro pega mal (mesmo que tenham votado nele felizes da vida), odiar pobre pega bem mal. Mas é muito difícil suportar o cheiro dessa gente e ficar quieto, não é? Dá uma vontade louca de extravasar...
Então vamos terceirizar o ódio e aproveitar a ignorância de uma classe média burra e hipnotizada por político pior que verme.
Entorpecida e ensandecida com a própria ignorância, essa classe média inconformada com pobres menos pobres faz o boneco de ventríloquo e destila toda a sua raiva dos favelados nas redes antissociais.
Não é só nojento ler manifestações de apoio á chacina dos 28 em Jacarezinho, no Rio de Janeiro: é a mais funda lama da mais malcheirosa fossa humana que existe. Classe média empobrecida, ignorante e desesperada afirmando que "policiais mataram pouco" e que aquele "morro asqueroso só tem bandido".
É possível ler isso em vários perfis de redes antissociais e em grupos de WhatsApp e Facebook de gente que apoia o presidente Jair Bolsonaro, com bem relatou o jornalista e sociólogo Leonardo Sakamoto em sua coluna no UOL.
Imediatamente corri para ver perfis e grupos de músicos identificados com a extrema direita (infelizmente, são muito mais numerosos do que imaginávamos) e, é claro, sem nenhuma surpresa, estão lá apoios os policiais assassinos do Rio de Janeiro em meio a xingamentos a quem defende a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pandemia no Senado e também a fartos elogios à cloroquina.
Bandido bom é bandido morto, bradam esse idiotas que apenas reproduzem preconceitos e ódios vomitados pela elite asquerosa que os usa como massa de manobra.
Músicos falidos e desempregados destilando ódio social é coisa comum desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff e ganharam impulso com a eleição de um sujeito podre em 2018.
Já não há mais vergonha em mergulhar no lodaçal do extremismo e o desespero de ver o "mito" derreter em todos os sentidos faz essa gentalha perder a linha ainda que tenha de brigar com a realidade.
Virou moda entre esses ignorantes defender o indefensável, como a censura e o fim da democracia. Apoiar chacina praticada por policiais vingativos e assassinos é apenas mais um item da lista de horrores e patifarias da cartilha dos extremistas.
Alguns dos músicos que não hesitam em emporcalhar o mundo com suas opiniões e ideias fascistas nefastas são os mesmos que reclamam de "boicote" para shows e, agora, lives. São os mesmos que reclamam de "discriminação" por conta de suas "opiniões políticas" - os mesmos, por sinal, que sempre pregaram a discriminação contra pobres, favelados e "bandidos" que são cotidianamente assassinados pela polícia em todo o Brasil.
Esses "discriminados" nunca esconderam seus preconceitos e suas posturas discriminatórias. Assim sendo, não perderam tempo em descer mais degraus no esgoto em que vivem ao direcionar seu ressentimento contra os mortos em Jacarezinho. É o tipo de vitória minúscula que satisfaz patifes por alguns segundos em um momento que seguidamente os humilha diariamente.
Como essa gentalha não tem limite para a sua torpeza, restam apenas migalhas de esperança de que o nefasto presidente de inspiração fascista (apesar de toda a sua ignorância) reúna coragem para colocar em prática as ameaças que faz todos os dias contra a democracia e a liberdade de expressão.
É uma vã esperança de que o "mito" consiga, pela força, espalhar a ignorância completa e encerrar as humilhações diárias a que os bolsonaristas são submetidos. Quem sabe esse mito consiga, por decreto, revogar a burrice que assola essa parcela estúpida da população.
Os 28 assassinatos cometidos por policias assassinos vingativos em Jacarezinho, no Rio de Janeiro, é mais um indício da guerra social preconizada pelos grupos extremistas e bolsonaristas na tentativa de calar opositores e esconder a bandidagem miliciana que infesta as terras fluminenses e do Planalto Central.
A violência cotidiana é mais que uma obra política, é uma necessidade social desses grupos para manter a "sociedade civil" e as "pessoas de bem" mobilizadas contra um inimigo, seja qual for.
Desviadas as atenções, exagera-se no clima de insegurança pública e guerra civil e crisa-se uma nova "necessidade", a da perpetuação do governo que "combate e violência, a corrupção e os comunistas".
Pelas contas dos governos do Rio de Janeiro e do Palácio do Planalto, são 28 comunistas a menos na guerra de destruição do país.
Alvos preferenciais, esses pobres comunistas incomodam bastante o lixo bolsonaristas, mas resolvem alguns problemas e quebram vários galhos. São o inimigo perfeito na guerra política pela sobrevivência. Para quem combate essa gente nefasta, no momento, resta tentar identificar quando e onde será o próximo ataque.
Nenhum comentário:
Postar um comentário