Marcelo Moreira
Cassiano (FOTO: REPRODUÇÃO/YOUTUBE) |
Cassiano sempre foi um daqueles nomes míticos da MPB a partir dos anos 70, cujo nome era reverenciado quando pronunciado, mas geralmente por gente que apenas reproduzia o que ouvia falar. "Tão genial quanto Tim Maia, Hyldon ou Wilson Simonal, mas muito subestimado e desprezado", dizia-se na mesa de bar.
Mas por que ele era subestimado? Quase ninguém sabia responder. Praticamente ninguém sabe responder em 2021, principalmente agora, quando morreu aos 77 anos de idade.
Cassiano era dos grandes, daqueles que assombravam pelo canto, pela interpretação e pela atitude. Incomodava e assustava, mesmo para os padrões de uma sociedade que até se esforçava para tolerar um Toni Tornado ou mesmo os mais palatáveis Simonal e Tim Maia.
Há quem diga que ele exalava uma negritude mais contundente e que, por isso, pagou o preço do desprezo calculado do mercado.
Detratores preferem dizer que ele não tinha o apelo comercial de Maia e a categoria de cantar e fazer músicas "fáceis" como Hyldon.
Se os "concorrentes" eram mais versáteis para o mercado, transitando com mais facilidade entre MPB, samba rock, soul e todo o tipo de black music, Cassiano não se incomodava de ser o mais purista, pouco afeito a concessões.
Apesar disso, não dá para rotular o músico como "black music" ou a "voz do soul brasileiro". É muito reducionista. E também evitemos falar em integridade artística, coisa que a maioria dos músicos tem. Cassiano preferia transitar na sua faixa, por mais que o reconhecimento não tenha sido o mesmo do que os dos principais concorrentes.
Sempre foi uma voz importante, de um tamanho tão grande que admiradores e discípulos, como Ed Motta e toda uma geração de então jovens talentosos não conseguem medir. Do samba ao rock pesado, não tem um artista que não tenha os brilhando ao falar da influência do soul man.
Falta de reconhecimento? De que tipo de reconhecimento estamos falando? Vendeu pouco? Gravou pouco? Cassiano dava a impressão de que era a pessoa menos preocupada com esse tipo de coisa. Tinha orgulho do que produziu, e sempre dizia que sua produção falava por si.
"Primavera" era seu cartão de visitas, principalmente na voz do amigo e eventual concorrente Tim Maia, que também gravou "Eu Amo Você". Mas não era só isso - que o digam Marisa Monte, Djavan, Ivete Sangalo e um mar de gente que não hesitou em cair de cabeça em seu repertório.
Na sua voz, fez sucesso com "A Lua e Eu", da trilha sonora da novela "O Grito", da TV Globo, em 1975, e "Coleção", que esteve em outra novela, "Locomotivas", de 1977. Para um artista considerado obscuro e "outsider" 45 anos depois, até que ele se deu bem...
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