quinta-feira, 8 de julho de 2021

Plebe Rude, 40 anos: atual, atuante e ativista sempre

Marcelo Moreira

Com informações do site Roque Reverso

Plebe Rude (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Eram tempos tensos e difíceis, com as maiores manifestações políticas desde os protestos contra o presidente Fenando Collor, em 1992, que pediam seu impeachment. 

Naqueles meses de junho e julho de 2013 havia uma indignação geral contra a decadência econômica e desmandos políticos dos centrões da vida, mas não havia intenções de apear a presidente Dilma Rousseff do poder - tanto que ela foi reeleita na eleição do ano seguinte, e sofreria um impeachment absurdo e criminoso dois anos depois.

Não era só pelos 20 centavos de aumento na tarifa, bradavam os manifestantes contra tudo e também contra coisa nenhuma. Perdidos, desinformados e ignorantes em sua maioria, pelo menos acertaram na escolha do hino das manifestações: "Até Quando Esperar", da Plebe Rude, um petardo de inspiração punk e letra ácida e contundente.

Em entrevista ao programa de web rádio Combate Rock, em 2015, o vocalista e guitarrista Philippe Seabra não escondeu o orgulho de ver uma composição sua ser parte de um momento importante da história recente do Brasil.

"De forma adversa, a canção é atual até hoje, infelizmente. Significa que pouco ou quase nada mudou e que ainda continuamos esperando mudanças e melhorias que nunca chegam. É uma música que tem quase 30 anos", disse o músico.à época.

A Plebe Rude chega aos 40 anos de idade navegando firme e de forma tão poderosa quanto antes. Diferentemente de grupos contemporâneos que ainda persistem, a banda brasiliense mudou pouco ou quase nada, e melhorou sempre. 

Nunca a palavra integridade casou tão bem com um artista de rock brasileiro como em relação á Plebe Rude. Para nossa sorte, a banda nunca cansou de esperar e sempre se manteve à frente de seus pares no quesito engajamento e manifesto político.

Nestes tempos bolsonaros bastante complicados, a Plebe Rude decidiu seguir o seu tempo. De forma discreta, manteve a postura de crítica contundente ao descalabro atual, embora Titãs e Detonautas Roque Clube tenham assumido a dianteira. É que o projeto "Evolução" era a prioridade.

A primeira parte foi lançada em álbum em 2019, uma ambiciosa ópera-rock que pretende contar a história do Brasil por um viés analítico bem crítico. Foi um dos melhores discos daquele ano e uma das obras mais importantes já editadas no rock nacional.

A celebração dos 40 anos da Plebe começa com tudo: o single “68” é a primeira amostra do álbum “Evolução – Vol. II”, que chegou a ser finalizado antes do início da pandemia de covid-19 e que deve ser lançado oficialmente ainda no segundo semestre de 2021.

Para incrementar a comemoração, o lançamento do single veio acompanhado de um lyric video de primeira, assinado por Fernando Dalvi, também responsável pela arte do single.

Com várias imagens importantes da história nacional e internacional, o lyric video é tão bem feito que poderia ser chamado de clipe sem o menor problema.

O baixista da Plebe Rude, André X, conta que a música “68” foi escolhida para apresentar o álbum por discorrer sobre um tema, ainda, relevante: as manifestações que entraram para a história que foram realizadas naquele ano de 1968. 

“É sobre um ano marcante do século XX, no qual, em várias localizações do globo, protestos contra o status quo se levantaram, com consequências explosivas”, disse, no texto de apresentação do single enviado à imprensa.

Segundo ele, a banda foi atraída pelo fato de que muitos dos levantes foram comandados ou tiveram a participação de jovens. “Além de todas as consequências políticas e sociais, os protestos trouxeram a juventude para a cena global, como protagonistas. Após 1968, minorias e excluídos também passaram a ter voz e serem representados. Foi um ano anti-repressão, que procurou mudar a sociedade, tornando-a mais inclusiva, tolerante e livre. Apanharam muito, mas não cederam.”

Produtor da faixa, o vocalista e guitarrista Philippe Seabra também destacou no comunicado à imprensa a importância do ano para a escolha da Plebe. 

“'68' foi um ano de muitas lutas, desde os protestos contra a guerra do Vietnã, dos direitos civis e a primavera de Praga. O assassinato do Martin Luther King talvez tenha sido o fato mais marcante. Mas foi como o ano terminou que marcou 68 e deu significado e esperança para tudo o que aconteceu. O Apollo 8 em dezembro circundou a Lua pela primeira vez e foi ali que vimos toda a fragilidade da Terra através da famosa imagem ‘earthrise’. Um ano tão difícil foi encerrado com a raça humana se vendo na vastidão do espaço. Quem sabe aprenderia a deixar de lado as diferenças e cuidar daquele pontinho no céu”, discorreu o cantor.

Como os próprios músicos lembram, apesar do single abordar um ano histórico do século XX, a letra traz um cenário bastante atual. “A letra é assustadoramente atual. Esse momento esdrúxulo que estamos passando pediu um comentário social que ninguém está abordando”, afirmou o vocalista.

A formação atual do grupo traz, além dos membros formadores Philippe e André X, o baterista Marcelo Capucci e o guitarrista e vocalista Clemente Nascimento, que também é historicamente conhecido por ser líder do grupo Inocentes, outro ícone nacional dos Anos 80.

Em 2018, o grupo já havia trazido aos fãs um importante material com o álbum “Primórdios”, que contou com canções compostas entre 1981 e 1983, sendo nove delas músicas inéditas.

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