Marcelo Moreira
FOTO: Bourbon Street Music Club/Divulgação
O primeiro show a gente jamais esquece. É desta forma que bandas, profissionais da área de shows e público estão encarando a retomada das atividades, de forma lenta e gradual, neste Brasil ainda assolado por taxas altíssimas de mortes por covid-19 e ocupação de leitos de hospitais.
Não é hora de voltar, mas a realidade está atropelando os fatos, dizem os envolvidos, para tristeza e preocupação das autoridades sanitárias.
E assim o mês do rock vai sendo ocupado, em suas datas, por shows em várias casas noturnas e bares nas cidades de São Paulo e Belo Horizonte,. as primeiras capitais a flexibilizar as medidas restritivas de tal modo a permitir shows de rock.
Dr. Sin, Malvada, Golpe de Estado, Jeff Scott Soto e mais uma série de artistas já agendaram apresentações para este mês, com protocolos sanitários estabelecendo ocupação de 25% a 40% do total possível de cada casa de show.
É preocupante, mesmo assim, mas há um clima de resignação de autoridades municipais e estaduais, além de músicos que estão há 16 meses sem trabalho presencial. Até quando esperar? O que fazer, já que a epidemia não caba nunca?
Não acaba nunca porque não se combate direito a devastadora pandemia que já matou 525 mil pessoas no Brasil, uma tragédia sem precedentes. Já morreu mais gente em 16 meses no Brasil do que o total de ingleses nos seis anos da II Guerra Mundial.
É compreensível a ânsia de palco de músicos e espectadores, mas fica a preocupação a respeito de como lidar com um estado de coisas onde a única certeza é a contaminação pelo vírus diante de um ritmo moroso de vacinação da população e da gestão criminosa do combate à covid-19 levada a cabo por m governo federal corrupto e incompetente.
Já faz tempo que bares e restaurantes de todo o país, em sua maioria, ignoram os protocolos básicos e permitem aglomerações e gente nojenta sem máscara.
Nenhum tipo de fiscalização, multa ou interdição é capaz de intimidar a multidão de vagabundos que desprezam a vida e lotam esses estabelecimentos, sejam nas calçadas em plena luz do dia ou baladas noturnas clandestinas.
Não há manifestação capaz de sensibilizar uma população que acredita piamente nas barbaridades vomitadas por um presidente irresponsável e criminoso a respeito da "necessidade" de a economia não parar e na "babaquice" de ficar em casa por causa de uma "gripezinha".
Depois de 16 meses, é absurdo e injusto atirar nas costas dos artistas que resolveram fazer shows agora uma parte da responsabilidade por contaminações e eventuais mortes. Mas não há como não pensar nisso no momento em que mais uma variante indiana do vírus, a delta, está matando mais e mais rápido em várias partes do mundo, inclusive na Europa, onde alguns países começam, pela terceira vez, a endurecer as regras de isolamento social com medo de uma terceira onda.
Estados Unidos, Inglaterra e países escandinavos começaram timidamente a frouxar as medidas para permitir shows com público, assim como eventos esportivos.
De forma irresponsável, a UEFA, que roma conta do futebol na Europa, pressiona pelo retorno do público aos estádios para a Euro 2020, que está em andamento.
Parcialmente, os estádios receberam de 25% a 50% de sua capacidades, exceto na Hungria, onde os jogos puderam receber 60 mil pessoas mesmo com o aumento das contaminações e das mortes por covid-19 no país.
Para as finais, três jogos em Londres, na Inglaterra, o governo cedeu e deve permitir um público maior em cada uma das partidas finais, cerca de 50 mil pessoas, quase 60% da lotação - isso pode mudar, se a seleção inglesa se classificar para a final.
Diante das inúmeras pressões absurdas por liberação de shows com público, fica difícil manter restrições quando bares, restaurantes e jogos de futebol recebem público numeroso, como se a pandemia tivesse acabado. Como justificar?
Músicos paulistanos estão há uma semana bradando nas redes sociais, de forma irresponsável, pelo retorno total das atividades musicais, muito mais por desespero financeiro do que qualquer outra coisa. Claro que isso é compreensível, mas não justifica qualquer tipo de liberação quando as UTIs, ainda apresentam ocupação acima de 80% em muitos bairros e cidades do Estado de São Paulo.
Esse pessoal realmente quer acreditar que os protocolos sanitários "rígidos" funcionarão em seus eventos. É muito mais uma torcida do que algo baseado na realidade.
Só o isolamento social rígido e vacinação em massa serão capazes de vencer a pandemia, e as duas coisas estão longe de qualquer eficiência neste país infeliz. duas horas do melhor rock and roll possível não valem uma contaminação que pode levar à morte.
Na última semana, alguns músicos brasileiros morreram em razão da covid-19, como o violonista/violeiro Rafael Toledo, Rafael Faria (ex-banda Desdominus), os guitarristas Paulo Turin e Bruno Gouvêa (Double Boss Blues), entre outros. Ainda assim vamos lotar as pistas de casas noturnas?
Que o mês do rock inspire sabedoria e cuidados extremos a quem se dispuser a tocar e a ir aos shows. Vivemos tempos muito difíceis e estamos longe de aspirar a um mínimo de normalidade, principalmente no desgovernado Brasil.
Para nós, do Combate Rock, mesmo no mês que celebra o gênero musical, o rock vai ter de esperar, e ainda por um bom tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário